Dinheiro em meiões
Ângulo relatou na delação que carregava o dinheiro dos subornos preso ao corpo, geralmente em meiões de futebol, e que realizava entregas principalmente em apartamentos funcionais em Brasília, em endereços indicados pelos políticos nos estados e até em ambientes públicos, como estacionamentos e aeroportos.
A pedido de Youssef, enquanto trabalhava no escritório do doleiro, Ângulo separava o dinheiro em envelopes ou sacolas – valores de R$ 10 mil a R$ 300 mil. A quantidade que cada um pegava dependia da frequência, segundo o delator, que informou que quem ia mais frequentemente ao escritório pegava valores fracionados.
O entregador relatou que, a partir de 2009, passou a fazer viagens para entrega de dinheiro e que levou quantias em envelopes para Pedro Corrêa, Mário Negromonte, João Pizzolatti e Nelson Meurer. Os “deliveries” de propina, disse ele, oscilavam entre R$ 50 mil a R$ 200 mil.
Segundo Ângulo, às vezes a entrega era para funcionários dos políticos, em restaurantes, flats, hotéis, casas, e em ambientes públicos, como aeroportos e estacionamentos de supermercados. Em Brasília, disse ele, houve diversas entregas em apartamentos funcionais de deputados.
Rafael Ângulo também contou que muitas vezes não entregava a terceiros, mas tinha certeza quem era o destinatário porque outra de suas funções era “lançar” em tabela de controle o pagamento da propina.
Quando viajava para outro estado, também escondia o dinheiro ao corpo, e nunca carregava consigo o nome da pessoa destinatária, para evitar incriminar alguém caso fosse pego com o dinheiro. Ele, no entanto, destacou que nunca chegou a ser parado. O delator disse que, ao anotar os nomes, usava a abreviação “band”, já que Alberto Youssef se referia aos políticos como “bandido”: “Anota para tal bandido”.
Rafael Ângulo citou entregas na casa de Pizzolatti, no apartamento funcional de quando era deputado, e também afirmou ter levado dinheiro às mãos de Negromonte duas vezes, em valores superiores a R$ 100 mil em cada oportunidade. Lembrou ainda que, em uma das vezes, chegou a receber do então conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia uma “caixinha” de R$ 500.
Segundo as apurações em andamento sobre a Lava Jato, Pizzolatti e Negromonte comandavam a distribuição de propina entre os demais políticos do PP.
O que dizem os políticos:
O advogado Michel Saliba, que defende o ex-deputado João Pizzolatti, disse que o cliente nega veementemente qualquer entrega de dinheiro em espécie por parte de Rafael Ângulo ou de qualquer pessoa que represente esquema de corrupção.
Saliba disse que o cliente tinha conhecimento de caixa-dois de campanha realizado pelo então tesoureiro do PP José Janene nas eleições de 2010, e que, após a morte de Janene, Youssef efetuou pagamentos de pendências de campanha. Segundo a defesa, Pizzolatti admite que pode, sim, ter recebido depósito de dinheiro por conta de valores referentes à campanha eleitoral.
Nelson Meurer
O criminalista Michel Saliba, que também defende o deputado Nelson Meurer no processo da Lava Jato, disse que o cliente dele nega ter recebido dinheiro por parte de Rafael Ângulo ou de qualquer outra pessoa.
Pedro Corrêa
Saliba, que também defende o ex-deputado Pedro Corrêa, afirmou que o cliente recebeu dinheiro de Youssef porque tinha negócios com José Janene na área de agropecuária. Segundo ele, com a morte de Janene, Alberto Youssef assumiu o negócio. Por conta disso, Youssef repassava valores a Pedro Corrêa. “Pedro Corrêa afirma e vai provar que os valores são fruto dos negócios que ele tinha com José Janene e que ficaram sob comando de Alberto Youssef.”
Mário Negromonte
O advogado Carlos Fauaze, que defende Mário Negromonte na Lava Jato, disse que o cliente dele nega “peremptoriamente” qualquer envolvimento em esquema de corrupção.
Ainda segundo o criminalista Carlos Fauze, somente após ele concluir a análise dos depoimentos do braço direito de Youssef, é que ele irá comentar as acusações de Rafael Ângulo.