Prestes a lançar o oitavo álbum da carreira, a cantora fala de polêmicas envolvendo os Camargo, explica retorno para o sertanejo, revela seus maiores medos e sonhos e descarta plásticas: “Teria pavor de não me reconhecer no espelho”
Wanessa ficou cinco anos sem lançar um álbum de estúdio. Depois de conquistar o público LGBT com DNA (2011), a cantora decidiu se dedicar a família e viver a maternidade mais de perto. Não foi bem uma pausa, já que ela tinha uma agenda de shows esporádicos em casas noturnas para promover sua fase internacional.
Quando começou a dar sinais de que seu retorno musical estava pronto, ninguém sabia o que esperar, mas os fãs mais intensos, com certeza, aguardavam algo com uma veia eletrônica e diferente… ao invés disso, Wanessa voltou a ser Camargo. E sabe o que isso significa? O seu retorno às raízes.
A cantora de Shine It On deu lugar a algo mais romântico e sofrido. Ainda não percebeu? Wanessa é uma camaleoa. Sua discografia nunca focou apenas em um gênero musical – são sete álbuns de estúdio – e deve ser por este motivo que ela parece tão tranquila com a nova fase.
Enquanto decidia as faixas que entrariam no projeto, que tem estreia marcada para o começo de setembro, mas com o título mantido em segredo, a cantora recebeuQUEM em um estúdio no interior de São Paulo. “Agora é a hora de defender minhas favoritas”, diz Wanessa toda descontraída.
Coração Embriagado e Vai Que Vira Amor saíram dessa reunião e deixaram muita gente chocada. Ela embarcou na onda da ‘sofrência’. Uma escolha discrepante de acordo com muitos admiradores. Para a cantora, nada além de um reflexo de seu estilo de vida atual: “mais maduro, depois de dois filhos, um casamento e separação dos pais”. “Comecei a me redescobrir como compositora”, explica a filha de Zezé Di Camargo e Zilu Godói, pontuando que ficou oito anos sem compor.
Esse entusiasmo todo mostra que Wanessa não quer agradar, mas ser aceita como vier e quiser. “Eu penso no que meu público está esperando, mas no fundo o que conta é o que meu coração bate mais forte”. E bateu pelo sertanejo. “Falei com o meu avô Francisco que agora ele poderia assistir aos meus shows novamente e ele disse: ‘Então a Wanessa Camargo está de volta’. Foi genial”.
Mãe de dois, João Francisco e José Marcus, de seu casamento com o empresárioMarcus Buaiz, ela está preparada para um período intenso de divulgação e revelou como tenta balancear a maternidade com a carreira. “A gente vai colocando as crianças um pouco no nosso mundo, sem afastar. Tenho muita sorte de não trabalhar em um escritório fixo.”
Aliás, ser mãe, mulher e cantar um gênero predominado por homens não é tarefa fácil. Wanessa, assim como muitas outras cantoras, faz questão de tratar doempoderamento feminino em suas novas canções. “Para mim, é uma missão falar sobre a mulher que tem muito mais a conquistar. Temos que quebrar os tabus em relação à sociedade. Não é um jogo ganho.”
Em entrevista exclusiva, a cantora ainda fala sobre seus medos, sonhos, diz que não teria coragem de ficar “plastificada e botocada”, e tenta aposentar as polêmicas envolvendo sua família. “Nós temos uma coisa muito mais forte que é o nosso laço de amor. Não há separação que vá quebrar isso.” Leia abaixo.
QUEM: Você está prestes a lançar um novo álbum que marca seu retorno para o romântico e sertanejo, quando começou o processo de produção?
Wanessa Camargo: Desde o ano passado depois do Carnaval. Estava ouvindo muita coisa, mas sem definição. Na época, já não estava gostando e pensei que aquele tipo de som não era o caminho – mesmo sem saber ao certo qual seria. Sentei com alguns produtores e comecei a mexer em uma música que gostava dos versos, mas não do refrão. Sugeri um novo, comecei a fazer outra nova e percebi que, com o prazo que tinha, não estaria preparada para fazer. Precisei atrasar o projeto para fazer o máximo e tirar o melhor de mim.
QUEM: E como foi esse voltar a compor?
WC: Fazia oito anos que eu não compunha uma música. Então foi maravilhoso porque comecei a me redescobrir como compositora e encontrar com outros compositores também. O álbum foi tomando forma e as músicas eram em português, com vertentes do sertanejo, country, MPB e de vários estilos. Fui experimentando, conhecendo e trabalhando com pessoas novas. Meu mundo abriu.
QUEM: E você mudou de escritório para cuidar da sua carreira…
WC: Resolvi mudar e foi tudo perfeito para chegar no time que tenho hoje. A gente pode se matar para fazer um CD incrível, mas a gente sabe que boa parte do trabalho não é apenas a emoção, o sentimento da canção, mas também o pós, quem vai divulgar, etc. Tudo isso conta.
QUEM: E agora você está decidindo o que vai ou não para o disco?
WC: Nesse processo de 300 a 400 músicas. Separamos 40. Dessas 40 serão tiradas de 12 a 15 que vão para o CD. Isso é muito difícil. É matador porque é como escolher um filho teu. O artista pode errar às vezes. Acredita em alguma música que não dá certo.
QUEM: Mas todas suas escolhas são feitas estrategicamente?
WC: É uma preocupação. Eu procuro saber que tipo de música meu público está esperando, eu penso nisso, mas no fundo o que conta no final é o que meu coração bate mais forte. Às vezes, o pessoal fala que não é bom começar com uma lenta, mas eu não penso assim. Tem esse time para pensar nisso.
QUEM: Teve algo que você apostou e não acertou?
WC: Graças a Deus sempre estouraram. O que acontece é você imaginar algo que vai fazer sucesso e daí outra faz mais, mas então é só trocar (o single).
QUEM: O que você tem escutado?
WC: Minha paixão é Coldplay, Momford and Sons, The Fray… Eu ouço muito isso. Tem um lado folk que amo de paixão, que dá pra trazer um trabalho popular. Gosto muito do trabalho do novo do Enrique Iglesias, que tem umas influências latinas que eu gosto. Depende da música. Ouço tudo. Das antigas, gosto de Abba, Zezé Di Camargo e Luciano, Ana Carolina. Tudo pra mim se torna uma espécie de referência que nem eu mesma sei de onde vem.
QUEM: Qual o assunto predominante do álbum?
WC: Relacionamentos. DR (discutir relação) de todos os tipos, relacionamentos que não deram certo, a descoberta do amor diferente da paixão, a mulher poderosa que cuida da sua vida e não abaixa a cabeça para homem. Tem alguns temas que gosto muito. Tem a saudade, que adoro, amor de infância.
QUEM: E você pinça essas experiências da sua vida?
WC: Sim. Desde a infância. Não necessariamente estou sentindo aquilo, mas já vivi a história. Tem uma que fala de uma menina muito ciumenta. Não sou ciumenta, juro, pode pegar meu marido ali e perguntar se sou neurótica. Sou controlada. Mas tive uma fase muito ciumenta durante a adolescência e aprendi que não é legal ser assim. Essa música que citei é minha, mas não precisei ativar o ciúme, só relembrar. Porque senão você limita o CD para um espírito só.
QUEM: O empoderamento feminino é um assunto muito tratado atualmente. Você tenta passar essas ideologias sociais e políticas na música?
WC: Sou de uma geração de mulheres que está buscando o seu espaço. Outras mulheres conquistaram muito o espaço no trabalho, em casa, a liberdade sexual… Para mim, é uma missão falar sobre a mulher que tem muito mais a conquistar. Temos que quebrar os tabus em relação a sociedade. Quanto mais a mulher mostrar que não aceita homem nenhum colocando o dedo na cara dela e dizendo o que ela pode ou não, mais barulho vai fazer. Temos que repetir. Ainda não é um jogo ganho.
QUEM: E como é ser mãe nessa indústria?
WC: É uma loucura. Tento acompanhar nos afazeres. O Joãozinho já faz aula de música. Então vou me dividindo e levando nas atividades que consigo. É assim. A gente vai colocando as crianças um pouco no nosso mundo, sem afastar. Tenho muita sorte de não ter um trabalho com um lugar fixo, então consigo colocar meus filhos nesse ambiente para ganhar mais tempo ainda.
QUEM: E como é para educar? Eles são calmos?
WC: “São calmos?” (Wanessa lança a pergunta para alguém de sua equipe, antes de sorrir toda orgulhosa com a resposta, afirmativa, é claro). Eles são crianças muito tranquilas, fazem manha como qualquer criança, principalmente meu mais velho que está com quatro anos. Então, vou tentando consertar e descobrindo como educa direito. A gente vai no acerto e erro. Isso daqui deu certo, então continua. Vamos aprendendo. Sou uma mãe no eterno aprendizado. Mãe aprende todos os dias.
QUEM: Qual o seu maior medo como mãe?
WC: Violência. Tenho muito medo. Já sofri assalto. Tenho muito medo porque o nosso País não tem segurança. Nos escondemos em carros blindados, em shoppings com segurança. Queria que eles tivessem a segurança de abrir a janela do carro sem o medo de ter uma arma encostada na cabeça. Além disso, tenho de brigas. Ainda mais meninos. A gente vê meninos se matando em jogo de futebol por causa de time. O que vou tentar ensinar é que não sejam pessoas que entram em pilhas, que sejam calmos em situações adversas – porque vão acontecer. Quero que eles tenham o Yoda (referência ao personagem de Star Wars) dentro deles (gargalha). Mas é conversando muito, explicando tudo e desde sempre ficar de olho. Não pode relaxar com seus filhos. Tem que prestar atenção, não só nas palavras, mas no jeito. Imagino quando for adolescentes… Sei o trabalho que eu dei. É tentar nunca perder esse contato.
QUEM: Por falar em família, nós costumamos ver a sua sempre em evidência. É como se vocês vivessem numa vitrine de polêmicas. Você sente uma pressão maior das pessoas em relação a esses assuntos?
WC: Não, porque minha relação com a minha família é com cada um deles. Minha profissão é pública. Devo satisfação da minha música e sim do meu discurso – porque sei que posso ofender ou atingir pessoas. Tenho essa sensibilidade de respeitar a opinião alheia, as diferenças, não procuro machucar alguém ou a liberdade de alguém. O que converso com minha mãe, com meu pai, meus irmãos, entre quatro paredes, só compete a nós e só devo satisfação a mim e a essas pessoas. Enquanto estiver vivendo em paz com eles, não sinto pressão ou preocupação.
QUEM: Mas você fica chateada?
WC: Fico chateada de ver pessoas querendo ver o circo pegar fogo. Graças a Deus, independentemente das histórias, nós temos uma coisa muito mais forte que é o nosso laço de amor. Não há separação que vá quebrar isso. Somos unidos porque somos uma família. Quando a gente se encontra, a gente se ama. Existe muito amor. Somos muito unidos. Sei que sou muito amada e amo muito meus pais.
QUEM: Você voltou com o Camargo. Por que a oscilação de nomes?
WC: Na verdade, o Camargo sempre esteve perto de mim. É meu nome. Se eu quiser colocar Wanessa Godói, Buaiz, Wan-wan, é meu nome. Como uso nos meus CDs já tem a ver com a musicalidade. Se for popular, tem Camargo. Quando fui pro pop tive que diferenciar o meu trabalho com o que tava vindo. Precisava de algo simbólico e foi a retirada do Camargo nos álbuns e nas apresentações. Foi o meu avô Francisco que deu o toque sem saber. Conversei com ele sobre a volta para o sertanejo e que ele poderia assistir aos meus shows novamente, então ele disse: “Então a Wanessa Camargo está de volta”. Foi genial. Era verdade.
QUEM: Então é uma nova Wanessa?
WC: Com 30 anos, não mais com 17, com outros assuntos, depois de dois filhos, um casamento, separação dos pais, sou eu com essa maturidade. Nova sonoridade sim, buscando coisas novas sempre, mas musicalmente é uma música popular como eu fazia há seis anos.
QUEM: Você está com 30 anos?
WC: Uhum…(risos)… 33. Mas não precisa saber o número. Vamos falar na casa dos 30.
QUEM: Você tem medo de envelhecer?
WC: Não. Tenho medo de morrer! Tenho medo de ficar plastificada, teria pavor de não me reconhecer no espelho. Vou envelhecer naturalmente. Não vou ser dessas pessoas… nossa. Pavor de ficar ‘botocada’. Posso até dar uma arrumada aqui e ali (aponta para a região dos olhos). Não é ter 40 e querer parecer 20. Tenho pavor disso. Acho incrível como a nossa cabeça vai mudando. Me sinto muito bem intelectualmente, mais emocionalmente inteligente, mas o corpo não acompanha (risos). Hoje se eu virar a noite, parece que um trator passou em cima de mim.
QUEM: Consegue se definir como pessoa?
WC: Aí só Freud. Me coloca no divã (risos). Sou como todas as pessoas do mundo, com anseios, dificuldades, sonhos, qualidades… Você não se vê diferente? O ser humano é feito de várias camadas. Se eu tiver mesmo que me definir, vai ser como uma pessoa em busca de algo… seja conhecimento, amadurecimento, paz e alegria. Temos que buscar uma vida interessante. Voltando ao assunto do medo, tenho medo de pensar no meu último suspiro de vida e me arrepender do que não fiz.
QUEM: E o maior sonho?
WC: São tantos. Materialmente, quero ter uma casa onde tenha uma horta suficiente para consumir o que planto. Não precisa ser uma casa enorme, mas quero um jardim imenso onde possa ter essa horta com tudo e ter criação de tudo – não uma fazenda de gado. É de onde possa tirar da terra o que vou comer. Profissionalmente, poder fazer shows e ver as pessoas cantando minha música e me contando como aquela tal canção a fez mudar. Já na família é ver que mais amo perto de mim com muita saúde e ver meus filhos serem muito melhores do que eu.
Fonte: Quem