Você tem perfil empreendedor?
Por Redação Publicado 30 de novembro de 2016 às 11:00

Um aviso: ser um brilhante executivo
não garante o sucesso do voo-solo

Você acha que tenho o perfil de empreendedor? A pergunta partiu do CEO de uma grande empresa, um camarada respeitadíssimo pelos funcionários e com enorme prestígio entre os acionistas. Estranhei o questionamento. Em momentos de crise como o que passamos agora, era de se esperar que pessoas bem colocadas no mercado, como ele, se empenhassem em manter suas posições, preservando cargo e remunerações. “Mas, e aí, tenho esse perfil?”, ele continuou.

Tenho razoável experiência no assunto, pois atuo como mentor da ONG Endeavor há mais de cinco anos. Nesse período, mantive (e venho mantendo) contato com empreendedores de todos os tamanhos, discutindo seus dilemas e tentando ajudá-los no árduo processo de conduzir uma empresa. Comecei minha resposta relacionando as características que definem alguém com forte propensão em abrir um negócio. A lista de praxe: apetite para correr riscos, ambição, persistência, criatividade, habilidade para trabalhar com poucos recursos. Se você não tem boa parte delas, continuei, sugiro nem começar a jornada. Reflita sobre alternativas que podem trazer mais prazer – e mais resultado.

Ele me olhou curioso, como se fizesse uma análise instantânea sobre o próprio perfil – tentando identificar as características que compartilhei. Minha resposta ainda não tinha terminado. “O principal”, disse a ele, “é ter autocontrole e disciplina”. Nesse momento, a expressão do CEO mudou. “Como assim?”, ele reagiu, “tenho amigos empreendedores que são desorganizados e construíram negócios de muito sucesso”.

Estava me referindo a algo que vai além de organização. Aliás, não tem nada a ver com organização. Minha definição do binômio controle-disciplina é a capacidade que alguém tem de vencer a si mesmo. A vida de quem empreende vem recheada de surpresas. De uma hora para outra, o capital pode minguar, o funcionário exemplar arrumar outra ocupação, o cliente encerrar o contrato… O cinto aperta e, na maioria das vezes, sobretudo em negócios iniciantes, não haverá um colchão parrudo de outros acionistas para aliviar a situação. Talvez venham as dívidas e, com elas, a necessidade de entrar em financiamentos. Ou pior: mexer no patrimônio pessoal.

É fundamental, portanto, exercer a capacidade de enfrentar desafios cotidianos e saber passar por cima das cicatrizes emocionais que ficam a cada tropeço. É claro que as competências técnicas ajudam, mas sem autocontrole e disciplina elas se tornam frágeis como pilares de sutentação de um negócio. Ter competência emocional diferenciada é importante para quem trabalha em grandes empresas. E se torna vital na arte de empreender.

Como demonstra Walter Mischel, autor do ótimo livro O Teste do Marshmallow, quem possui autocontrole resiste às gratificações imediatas e tende a fazer melhores escolhas. Traduzindo para o empreendedorismo: essa disciplina digere fracassos cotidianos e resiste a ideias mirabolantes de diversificação em prol de um objetivo mais relevante de longo prazo, que sustenta a caminhada de uma nova empresa. Pensando bem, a capacidade de se controlar, com disciplina, não ajuda apenas no desafio de empreender. Ajuda nos relacionamentos, na vida pessoal e até na jornada por uma saúde física e mental melhor .

Fonte: Época Negócios