Vítimas das falhas de pistolas, policiais relatam dor física e emocional
Por Redação Publicado 12 de março de 2017 às 08:38

Policiais militares e civis de Mato Grosso, vítimas das pistolas .40 produzidas pela empresa Taurus, relatam acidentes que sofreram de folga ou a trabalho por falha da arma que mesmo travadas dispararam ou travaram em situação inversa. Acidentes que trouxeram além de problemas físicos, inclusive mutilação, o caso mais recente, mas também emocionais.

E falar sobre eles é hoje uma forma de pressão para tentar mudar o armamento utilizado pelas Forças de Segurança não só do Estado, mas de todo o país. Vítimas, quase sempre atingidas nas partes íntimas, apesar do constrangimento, tornam públicas as suas histórias. Policial há 11 anos, uma das vítimas perdeu um testículo. Casado, pai de dois filhos, conta que em dezembro de 2012 a arma dele, uma pistola PT 940 da Taurus, caiu no chão, disparou e a bala explodiu no testículo esquerdo.

A arma estava alimentada com uma munição das mais lesivas, com grande poder de stop power, termo que quer dizer paralisação do alvo. “Ia treinar, às 5h30. Minha arma escorregou da minha mão e, em contato com o solo, disparou e atingiu a virilha. Eu jogava tênis na época. Sangrei muito. Quando cheguei ao hospital entrei em colapso por perda de sangue, embora o socorro tenha sido imediato, meu vizinho escutou o disparo e me levou. No hospital, desmaiei, acordei cinco ou seis dias depois, estava em coma. Fiquei 21 dias internado, desses seis em coma. Quase morri. A bala passou pelo testículo, bateu na alça do ílio, que é uma parede óssea da bacia.

Quebrou o osso e ricocheteou para o meu abdomem, onde ainda está. Não foi possível retirá-la porque, na época, preferiram me salvar a procurar a munição. Hoje em dia não posso fazer ressonância magnética, porque puxa toda parte metálica para fora e a munição pode se movimentar para fora do meu corpo, além de ter perdido um testículo tenho esse agravante”, lamenta.

Outro lado

Por causa destes acidentes, a confiabilidade nas pistolas da Taurus tem sido questionada. O Governo do Estado criou uma comissão que estuda a uniformização do armamento estadual e a troca das armas da Taurus. O Ministério Público analisa acionar a empresa para que indenize o Estado.

Desde que os primeiros casos de vítimas da Taurus vieram à tona, a empresa vem se manifestando no sentido de cobrar perícia das armas, alegando que não há falhas e se colocando à disposição para quaisquer esclarecimentos sobre o assunto por parte das autoridades da segurança pública e Judiciário.

O problema, no entanto, ocorre na maioria das polícias do Brasil, existindo casos inclusive de devolução de centenas de pistolas da Taurus após dezenas de casos de incidentes e acidentes vitimando policiais. Até mesmo associações de policiais protestam pedindo a substituição não só de pistolas, mas de fornecedor da arma. Por conta do risco, em vários estados, Forças Especiais das Polícias Militar e Civil utilizam pistolas Imbel ou Glock.