
A fala rápida e o improviso na ponta da língua renderam fama e admiração nacional à atriz carioca de 33 anos. Tatá foi uma adolescente questionadora e, por isso, expulsa de um colégio por “conduta inadequada”. Diz nunca ter correspondido ao que esperavam dela. Mesmo “fora dos padrões”, formou-se em publicidade e artes cênicas e tornou-se uma das humoristas mais populares do país. Prova disso são os quase 15 milhões de seguidores no Instagram. “Já fiz capa de revista masculina, campanha de marca de cosmético e outras coisas que ninguém imaginaria para uma comediante de 1 metro e meio de altura”, orgulha-se. Solteira, considera-se vaidosa e cuida do corpo, mas sem estresse – aliás, durante a entrevista, repetiu o almoço quatro vezes (!).
MARIE CLAIRE Você tem um jeito sério de fazer piada. É daí que vem a sua graça?
TATÁ WERNECK Ainda não sei de onde ela vem. Na verdade, não me acho engraçada.
Sei que sou estranha e criativa e que meu olhar sobre a vida é bem-humorado e observador.
Mas, na real, acho estranho uma pessoa engraçada que se acha engraçada.
MC Mas dá para fazer graça de tudo na vida?
TW Não sei, mas levo tudo com bom humor. Mesmo. Até quando perdi meu avô, fui gravar meia hora depois… Estava sofrendo demais, mas fiquei brincando com isso e fiz as pessoas rirem, mesmo estando muito triste. Raramente faço drama – só com avião, porque tenho pânico. Faço promessa antes de viajar, tipo “nunca mais terei relações sexuais” [risos].
MC E do que não dá para rir?
TW Tirando as coisas sérias do mundo, as pessoas inventarem notícias falsas a meu respeito. Até brinco com isso, mas é muito cruel. Outro dia, minha avó foi ao banco e deram os parabéns para ela porque eu estava grávida. Ela ligou para a minha mãe, minha mãe ligou para mim: “Filha, você está grávida e nem contou pra família?”. Essas notícias viram uma bola de neve.
MC É possível achar graça da atual situação política do Brasil?
TW Não. No emaranhando que a gente vive, sinceramente… Adoraria ser otimista, mas não sei como esse nó vai ser desfeito. Não vejo solução, não acho engraçado o que estamos vivendo.
MC Como mulher, quais dificuldades você enfrenta na carreira?
TW Já temos mais trabalho na carreira só por sermos mulheres, né? E ainda fomos castradas ao fazer piadas e outras coisas “de meninos”. Fomos educadas na base do “menina não pode fazer isso”… Numa mesa, os homens é que eram os engraçados. Ainda sofremos preconceito. Tem muito mais homem no humor. Para enfrentar isso, fazia brincadeiras de homem. Se puxavam a cueca pra cima, fazia igual com a calcinha. Quando fui expulsa do colégio por “conduta inadequada”, me disseram: “Você é a única mulher com esse jeito na escola”, ou seja, discriminação de gênero. Só tinha feito um abaixo-assinado para tirar o cargo de direção do frei. Sempre pegavam no meu pé [risos].
MC Você compra briga contra o machismo na comédia?
TW Se me fazem uma piada machista, dou uma resposta daquelas e mando o cara pra casa chorando. Compro briga mesmo. Não admito falarem certas coisas para mim.
MC Você sempre soube que seria humorista?
TW Não, fiz de tudo na faculdade de teatro. Mas sempre soube que amava o humor. Agora, o que nunca imaginei foi que entraria na Globo, porque não me encaixo nos padrões deles, né? Uma coach me disse uma vez: “Você nunca vai passar num teste, não tem o perfil da Globo”. Mas quem ri por último…
Fonte: MARIE CLAIRE /por INÊS GARÇONI