Suíça amplia veto à carne de 4 para os 21 frigoríficos investigados
Por Redação Publicado 27 de março de 2017 às 16:55

A Suíça ampliou a proibição de importação de carne de 4 para os 21 frigoríficos que tiveram a licença de exportação suspensa pelo governo brasileiro. Esses estabelecimentos são investigados pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, por supostas propinas pagas para a venda de produtos sem inspeção.

A Suíça havia proibido, na terça-feira (21), as importações de quatro fábricas brasileiras. Segundo disseram autoridades suíças ontem, a decisão de ampliar o número de unidades vetadas faz parte das medidas de segurança para toda a Europa.

Os peritos veterinários da União Europeia recomendaram o reforço dos controles sobre as importações de carne do Brasil na sexta-feira, com a deflagração da Operação Carne Fraca.

Chefes dos serviços veterinários dos 28 Estados-membros da União Europeia reuniram-se em Bruxelas para discutir uma resposta da UE ao escândalo e ao risco de carne imprópria para o consumo entrarem no bloco.

“A extensão da proibição é uma resposta às medidas europeias, visando impedir que a carne chegue ao território da União Europeia via Suíça”, disse uma porta-voz do escritório suíço de segurança alimentar e veterinária.

O comissário europeu Vytenis Andriukaitis, responsável pela saúde e segurança alimentar, estará no Brasil na segunda-feira para discutir o assunto com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi.

China, Egito e Chile concordaram no sábado com a reabertura de seus mercados para a importação de carne brasileira.

A retomada das importações para esses três países foi comemorada pelo governo brasileiro, que se mobilizou nos últimos dias para tentar diminuir o dano às exportações com a Operação Carne Fraca.

Brasil volta a registrar aumento do abate informal de animais
Ao mesmo tempo em que o país discute a eficácia de seu sistema de inspeção sanitária, após a Operação Carne Fraca, o abate de animais realizado fora do escrutínio do Ministério da Agricultura e das vigilâncias estaduais e municipais cresce no Brasil.

A recessão impulsionou o indicador que estima a informalidade no abate, uma prática que vinha em trajetória de queda na década passada.
Dados do IBGE mostram que o número de cabeças de bovinos abatidas sob algum tipo de inspeção sanitária foi de 29,67 milhões em 2016. Já o volume de peças de couro inteiras recebido pelos curtumes ficou em 33,62 milhões, embora devesse coincidir com a quantidade de carnes oficialmente registradas.

Como tem valor agregado alto, o couro acaba sendo levado ao mercado de couro cru (o que resulta em contabilização pelo IBGE), ainda que o animal tenha sido abatido, e sua carne, consumida fora das estatísticas oficiais.

Essa diferença entre os couros e as carnes pode ser entendida como uma aproximação do tamanho do abate informal no país. O abate não fiscalizado subiu de 7,5% em 2015 para 11,7% em 2016.

São casos como o de Tonho da Faca, 59, sertanejo da zona rural no entorno do município de Irecê (BA), reconhecido pela vizinhança como “bom matador” pela habilidade ao abater animais que os moradores da região engordam em seus quintais.

Ele foi convocado pelos vizinhos para matar um porco na madrugada de sexta (24). Pelo serviço, foi recompensado levando para casa a cabeça e outras partes do animal.

Como ele, Zé do Figo, 55, também é referência na comunidade para o abate de animais em pequena escala. Em troca, aceita receber partes do animal, mas também faz de graça ou por pequenas quantias, em torno de R$ 10. Um bode vivo pode ser comprado por menos de R$ 5 por quilo para ser abatido.

“Não dá para viver disso. Eu também troco moto, jegue. Mato cobra. Faço de tudo.”

Figo é especialista na matança de caprinos e ganhou esse apelido –que é uma contração da palavra fígado– ao fazer clientela vendendo as vísceras dos bodes que abate.

A figura do “matador” é central na dinâmica do consumo de carnes em zonas rurais e pequenos municípios do país. Os Estados que concentram o maior percentual de abate não fiscalizado são Minas, Pará e Bahia, segundo estudo coordenado pelos professores Silvia Miranda e Sérgio De Zen, da Esalq, Escola de Agricultura da USP.

“Acontece no Norte e no Nordeste porque são lugares em que há menor desenvolvimento. No caso de Minas, se deve ao grande número de municípios muito pequenos, sem estrutura local de fiscalização e com mercados pequenos”, afirma De Zen.

Além das famílias que criam para consumo próprio, pequenos açougues se abastecem dos animais que produtores familiares abatem com a ajuda de um matador.

O abate sem fiscalização é considerado clandestino ou ilegal apenas se for usado para comercialização, segundo a Anffa (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários). Nas hipóteses de consumo próprio ou troca, não há ilegalidade.

Fonte: O Estado Online/Folhapress