
ALGUMAS SUGESTÕES DE ESPECIALISTAS PARA TRAÇAR UM CAMINHO RETO EM DIREÇÃO AOS CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO
Ser conselheiro não é mais uma atividade exclusivamente atribuída a executivos de cabelos brancos, que já encerraram suas atribuições executivas em grandes companhias, como já foi um dia. Hoje, os membros dos conselhos de administração vão de jovens especialistas em suas indústrias (por exemplo, a de tecnologia) a CEOs atuantes em diferentes setores. “Um dos atributos mais importantes na formação de um conselho administrativo é a diversidade de contribuições que as pessoas podem oferecer”, afirma Heloisa Bedicks, superintendente geral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
Essa diversidade, segundo Heloisa, inclui gênero, etnia, idade e área de atuação, entre outros fatores. O que vale é o valor que cada profissional pode agregar com sua experiência. Para isso, é preciso ter tempo – outro fator determinante na escolha de um integrante do grupo. “Se a pessoa diz que faz parte de dez conselhos, desconfie de sua contribuição”, afirma ela. “Essa é uma atividade que exige dedicação.” Flavio Luz, conselheiro de administração e conselheiro fiscal em diversas companhias abertas e fechadas, só topa participar de grupos que se encontram mensalmente – ou, no máximo, a cada dois meses. “Se a reunião acontece só a cada trimestre não é possível fazer um trabalho em profundidade”, diz ele.
A seguir, os conselhos dos especialistas aos executivos que planejam seguir um caminho em direção aos conselhos de administração.
1. Faça cursos que o preparem formalmente
Apesar de ter sido fundado 20 anos atrás, em 1995, o IBGC começou a ganhar popularidade entre grandes empresários e executivos nos últimos anos. “Não sei por que havia um receio no Brasil de fazer os cursos”, afirma Heloisa Bedicks. “Mas isso vem se transformando bastante.” Segundo André Freire, CEO da consultoria de executive search Odgers Berndston, essa realidade já mudou. “O instituto tornou-se um selo de qualidade no mercado, um ponto de partida para futuros conselheiros.”
A formação mais popular do IBGC é o curso para conselheiros de administração. Mas há outros, como gestão de riscos corporativos, liderança n conselho de administração e governança corporativa para herdeiros e acionistas de empresas familiares. “Essas atividades contribuem muito para a formação de conselheiros”, Freire.
2. Acumule, primeiro, uma experiência relevante como executivo
Flavio Luz considera essencial que o executivo tenha uma experiência profissional de peso antes de se tornar conselheiro. Além da formação acadêmica – em engenharia, pela USP, e especializações em Harvard, Stanford, Berkeley e Wharton – Luz foi vice-presidente executivo da Duratex, do grupo Itausa, e vice-presidente financeiro e corporativo da Cofra Latin America, holding do grupo C&A. “A experiência como CEO, CFO e diretor executivo é fundamental para a um membro do conselho contribuir com o negócio”, diz ele.
André Freire, que faz seleção de profissionais para compor conselhos de administração de empresas médias e grandes, afirma que há dois tipos principais de busca – em ambos, no entanto, a experiência profissional é decisiva. “As empresas médias e familiares, que estão em processos de profissionalização, buscam profissionais que tenham sido CEOs em companhias grandes e que entendam da operação, para colocar a mão na massa”, diz ele. “Já outras companhias, que precisam s relacionar com bancos e com o governo, procuram mais conselheiros renomados com habilidades políticas, como ex-ministros ou ex-presidentes de bancos.”
3. Idade não é doumento
Embora a bagagem profissional seja importante para um conselheiro administrativo, isso não significa que ele precise ter mais de 50 anos de idade, segundo Heloisa Bedicks, do IBGC. “Essa é uma ideia que se tinha décadas atrás”, afirma. “Agora não existe mais regra. Uma pessoa de menos de 30 anos pode ser ouvinte de um conselho, e outro, um pouco mais velho pode contribuir com uma expertise específica.” O que determinará se seu presença é ou não relevante é, além do perfil do profissional, a natureza do negócio e a estratégia da empresa.
4. Adquira alguns conhecimentos obrigatórios
Seja qual for a formação acadêmica e profissional do executivo, na hora em que pretende se tornar um conselheiro, terá que aprender algumas disciplinas obrigatórias, afirma Flavio Luz. A primeira delas, o direito societário, vale para qualquer companhia. “É preciso entender alguns aspectos regulatórios sobre as empresas S/A para compreender as regras do jogo e a situação da empresa”, diz ele.
Finanças é outra área indispensável, de acordo com Luz. “Não importa se o profissional vem de operações ou de tecnologia. De qualquer modo, ele precisa entender os números da empresa”, afirma. Segundo ele, é impossível ter papel ativo em um conselho sem saber analisar os investimentos ou o relatório financeiro da empresa.
5. Certifique-se de que terá tempo para atuar – e limite o número de conselhos
“Esse é um ponto fundamental na hora de avaliar se deve ou não se tornar membro de um conselho”, diz Heloisa Bedicks, do IBGC. O código das melhores práticas da governança corporativa, publicado pelo instituto, é hoje a principal referência teórica sobre o tema, no Brasil. Nele, há recomendações específicas sobre o número de conselhos dos quais uma pessoa deve participar.
“O presidente do conselho de administração, poderá participar, no máximo, de dois outros conselhos. Conselheiros externos e/ou independentes que não tenham outra atividade poderão participar de, no máximo, cinco conselhos. Executivos seniores poderão participar como conselheiros de apenas uma organização, salvo se tratar-se de empresa coligada ou do mesmo grupo. Conselheiros internos e/ou diretor-presidente poderão participar de, no máximo, um outro conselho, salvo se tratar-se de empresa coligada ou do mesmo grupo. Presidentes executivos e presidentes de conselho não devem exercer cargo de presidência de conselho de outra organização (com exceção para entidades de terceiro setor), salvo se tratar-se de empresa coligada ou do mesmo grupo.”
6. Entenda a empresa por dentro e por fora
Se o profissional for convidado para compor um conselho administrativo de uma companhia presente em um setor diferente daquele no qual fez carreira, é importante estudar o mercado antes de aceitar a proposta. “Qual a dinâmica do segmento? Quem são os principais concorrentes? E os clientes?”, diz Flavio Luz. É fundamental também compreender a cultura da companhia, como ela funciona por dentro. “Se a empresa não tiver bons valores e boas práticas, o conselheiro pode ter problemas”, afirma Luz. “Então, é necessário entender tanto como a organização se comporta como em qual contexto está inserida.”
7. Proteja seu patrimônio de riscos que fogem ao controle
Entender a empresa sob todos os aspectos e avaliar se, de fato, terá disponibilidade e condições para contribuir com a companhia é fundamental. Porque, uma vez que disser “sim” para um conselho, o compromisso é para valer. “Os conselheiros têm responsabilidade sobre a administração”, afirma Flavio Luz. Isso significa que, se a empresa tem alguma conduta ilegal, o profissional está em risco. “Ele está comprometido como pessoa física com a companhia e, portanto, qualquer problema pode recair sobre seu patrimônio pessoal.”
Além de saber bem em que companhia está entrando, é importante negociar, antes de aceitar o cargo, um seguro D&O (Director and Officers), diz Luz. Esse seguro garante o patrimônio de conselheiros, diretores, executivos e administradores, caso haja necessidade de pagamento de indenização em decorrência de uma ação judicial, em função de prejuízo causado – não por eles – durante o período de exercício de suas funções.
Tudo isso posto, vá em frente.
Fonte: Época Negócios