PM desvenda significado de tatuagens no mundo do crime
Por Redação Publicado 29 de janeiro de 2015 às 10:53

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PM desvenda significado de tatuagens no mundo do crime

Por Rosângela Roms

Bruxos, serpentes, polvos, aranhas, peixes, anjos, palhaços, índias, magos, caveiras,  santos e demônios são figuras comuns nos presídios brasileiros há pelo menos 10 anos.

O capitão da Polícia Militar baiana Alden dos Santos vem realizando um trabalho especial em traduzir os significados destas e outras imagens desenhadas nos corpos de presos e suspeitos de crimes no Brasil e no exterior. Através de seu estudo sobre os significados das tatuagens gerou uma cartilha, e como apoio a investigações pela PM da Bahia foi adotada oficialmente.

“Foram detalhados os significados de 36 imagens associadas a crimes específicos”, diz o capitão. “Muitas delas, além de se repetirem em todo o país, aparecem nos mesmos padrões em países como Estados Unidos, Rússia e locais na Europa.”

A pesquisa identificou recorrência de personagens infantis, como por exemplo o “Diabo da Tasmânia”, o “Papa-léguas” e o “Saci-Pererê”. De acordo com sua investigação, os símbolos mais conhecidos, como palhaços (associados a roubo e morte de policiais) magos ou duendes (comuns entre traficantes), o Diabo da tasmânia sugere envolvimento com furto ou roubo, principalmente arrastões, já o Papa- léguas ou ligeirinho indicaria criminosos que para transportar drogas usam motocicletas.

Já pelo preparo e distribuição de entorpecentes, seus portadores teriam relação com o tráfico através da tatuagem do saci.

Através das redes sociais que seu trabalho encontrou popularidade, sobre supostas conexões entre crimes e tatuagens, até mesmo casos policiais não registrados pela mídia, são mais de 5 mil pessoas que acompanham suas postagens no facebook.

O resultado do estudo já foi baixado pela internet por mais de um milhão de pessoas, pelo you tube, já foram vistos mais de 600 mil vezes o vídeos publicado pelo PM.

Constatação

Somada a entrevistas com detentos de prisões baianas, revistas , redes sociais, jornais, institutos médicos legais, presídios e delegacias, chegam a aproximadamente 50 mil documentos e fotos coletadas pelo PM.

“As principais informações infelizmente não vieram dos presos em si. Há um forte código de silêncio. As conclusões vieram mais pelo cruzamento de dados”, diz. Ele explica: “Levantamos, por exemplo, todos os presos que tinham tatuagem do Coringa e cruzamos com suas sentenças. Havia um padrão claro em seus delitos.”

“Portadores desta tatuagem demonstram frieza e desprezo pela própria vida”, explica o PM. “A maioria parece absorver as características deste personagem – insano, sarcástico, vida louca. Normalmente não se entregam fácil e partem para a violência.”

Questionado sobre a estigmatização que a pesquisa poderia provocar sobre quem tem imagens pelo corpo, o policial militar diz deixar claro que cidadãos “nunca poderão ser abordados somente por apresentarem tatuagens descritas na cartilha”.

“Nosso objetivo não é discriminar pessoas tatuadas, isso seria discriminar o próprio ser humano, que há muito tempo usa tatuagens como forma de expressão”, diz o capitão Alden.

Ele diz que,” para policiais, a importância do estudo é ajudar o policial a salvaguardar sua integridade física, no caso de tatuagens ligadas a mortes de oficiais.”

“Elas também funcionam como mais uma ferramenta para facilitar o trabalho de reconhecimento de suspeitos”, diz, citando as imagens de carpas – estes peixes são frequentemente associados à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Códigos

De acordo com o pesquizador, existem elementos gráficos de imagens figurativas, que segundo ele, também seriam indícios de crimes, como pontos tatuados nas mãos.

Um só ponto preto indicaria “batedores de carteira”. Dois, na vertical, sugerem estupro. Três pontos, em formato de pirâmide, apontam relação com entorpecentes.

O oficial não teme que a divulgação dos símbolos iniba que a exibição ou confecção de novas tatuagens suspeitas.

“A existência desse material não fará com que as facções alterem seus códigos”, diz Alden . “Por incrível que pareça, em vez de os suspeitos deixarem de usar a imagem que os associam à prática de determinado crime, o que percebemos é a lógica inversa: quanto mais se tem consciência de que a polícia conhece, mas frequentes são as imagens, como uma espécie de desafio.”

Segundo o PM, a tendência não se limita ao Brasil.

“O palhaço, com o mesmo significado, é muito comum também na máfia russa, no México, nos Estados Unidos, em Porto Rico. O mesmo ocorre com a índia (mulher cabelos negros e longos, que já serviu para indicar quem tinha autorização do tráfico para portar fuzis, hoje mais associada à prática de roubos).

Cantadas

Não são só as “traduções” das tatuagens que garantem sucesso ao Capitão Alden – mensagens como “Vc é muito gato. Com todo respeito. Mas se faltar com o respeito vc me prende?” e “Tá lindo, Capitão magia” são comuns nas fotos pessoais publicadas pelo PM em sua página.

Chamado de “PM Gato”, Alden minimiza o sucesso pessoal nas redes.

“Eu uso a página só para divulgação de trabalhos da polícia”, diz. “Mesmo com tanto assédio das mulheres, a intenção da página é profissional.”

Ele se diz surpreso com o alcance que suas postagens vem ganhando.

“Gera muita repercussão e isso me dá cada vez mais disposição de alimentar a página. A tatuagem ainda chama atenção, mesmo sendo algo que já faz parte da própria humana”, afirma.

 

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Fonte: ZapNews