
Documento da justiça brasileira, revelando que traficante continuava atuando com uma organização criminosa, foi engavetado em 2015
No período de sete anos em que ficou no presídio de Tacumbú, o brasileiro Jarvis Gimenez Pavão construiu uma cela vip, reformou a sala do diretor e o refeitório e bancou uma ala adventista, para orações. Mas essa “benevolência” tinha um preço. Em troca, autoridades paraguaias fechavam os olhos para os crimes que o sul-mato-grossense continuava praticando, principalmente o tráfico internacional de cocaína da Bolívia para o Brasil.
Além da omissão de guardas e diretores da penitenciária, ele contava também com a ajuda de uma juíza do Paraguai, Patricia Gonzales, que foi alertada pela Justiça do Brasil sobre as atividades que Pavão mantinha mesmo atrás das grades. Só que o documento enviado pelo Brasil em abril de 2015 foi parar em uma gaveta do gabinete da magistrada.
A informação só veio à tona agora, seis meses depois de Pavão ser transferido de Tacumbú para uma cela de um grupo especial da Polícia Nacional do Paraguai, onde continua cumprindo a pena de oito anos por tráfico de drogas.
A descoberta foi feita recentemente pelo juiz Pablino Escobar, no Tribunal Penal de Garantias. Patricia Gonzalez está de licença desde julho deste ano. Ela acompanha o marido, Roberto Melcha Melgarejo, que foi nomeado cônsul do Paraguai na Espanha.
O documento – De acordo com o jornal ABC Color, a Justiça brasileira informou ao país vizinho que Jarvis Chimenes Pavão continuava coordenando as operações de sua organização, levando uma vida de luxo na prisão.
Conforme o documento, Jarvis mantinha contato com a organização criminosa que opera na cidade de Santa Cruz do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, liderada por Antonio Marco Braga Campos.
A quadrilha também mantinha base em outra cidade gaúcha, Novo Hamburgo, e dois membros importantes do grupo, Fabricio Santos da Silva e Enio Souza, também presos no Paraguai, negociavam com Pavão o envio de cargas de cocaína através de Foz do Iguaçu (PR).
Cocaína de avião – Ainda segundo o documento enviado pelo Brasil ao Paraguai, mesmo atrás das grades, Jarvis Pavão continuava trazendo grandes cargas de cocaína da Bolívia para o Paraguai através de transporte aéreo, usando aeronaves e pistas de pouso clandestinas.
A droga era envida depois para a quadrilha comandada por Marco Antonio Campos Braga no Rio Grande do Sul.
Na gaveta – O documento que revelava as atividades de Pavão foi encontrado escondido em uma gaveta. Além de denunciar que o brasileiro continuava operando o narcotráfico, a carta pedia cooperação da justiça paraguaia para barrar as ações do traficante, mas ficou ignorado no escritório de Patricia Gonzalez.
No documento, a justiça do Brasil solicitava a apreensão de todos os bens que o traficante mantém em território paraguaio. Com dupla nacionalidade, Pavão é casado com uma cidadã paraguaia e tem filhos registrados no Paraguai.
Segundo o ABC Color, o juiz interino também encontrou sete cartas rogatórias engavetadas, indicando pelo menos uma negligência grave da juíza Patricia. Após a descoberta, a Suprema Corte ordenou uma auditoria no tribunal.
Pavão recusa notificação – Após descobrir o documento da justiça brasileira, Pablino Escobar mandou notificar Jarvis Pavão na cela onde o brasileiro está recolhido, mas ele se recusou a receber o documento.
Escobar disse que também recebeu uma ligação telefônica da Espanha – sem mencionar da parte de quem – pedindo que não revelasse a descoberta do documento engavetado, “para não acabar prejudicando alguém”.
Escândalo sexual – A juíza Patricia Gonzalez é conhecida no Paraguai por causa de um escândalo sexual envolvendo o senador do Partido Colorado Juan Carlos Galaverna.
Partiu dela a decisão de proibir a divulgação de vídeos com conteúdo sexual envolvendo o político colorado. A imprensa paraguaia apontou “rapidez incomum” na concessão da liminar para proibir publicações relacionadas ao vídeo, contrariando a liberdade de expressão garantida na Constituição daquele país.
Fonte: Campo Grande News