Para Dennis DJ que produziu de ‘Cerol na mão’ a ‘Malandramente’ reggae é nova onda do funk
Por Redação Publicado 16 de fevereiro de 2017 às 11:14

Faz tempo que a gente não ouve por aí aquela levada mansa do som que nasceu na Jamaica mas ganhou sua versão à brasileira. Faz mesmo? O reggae, que já teve sua época de ouro no país, pode até andar meio esquecido pela maioria, mas anda escondido por trás de outros gêneros que dominam as listas de mais ouvidas nas rádios e na internet.

Você pode até não perceber, mas “Deu onda”, o funk deste verão, é um exemplo disso. Muito mais do que o clima praiano, o hit do MC G15 tem em comum com o estilo o andamento lento e melódico, característica da nova vertente rasteirinha, aliada à percussão marcada.

Um dos precurssores da mistura é Dennis DJ, nome importante do funk no Brasil desde que produziu “Cerol na mão”, “Um tapinha não dói” e “Vai lacraia” no início dos anos 2000. O artista musical brasileiro mais buscado no Google em 2016 diz ter usado o compasso do reggae em “Malandramente”, do ano passado, ao perceber que o gênero voltou a ser tendência no pop. “Isso deu margem para sair o ‘Deu onda'”, diz ao G1. “Se você reparar bem, o reggae passou a estar mais presente em muita coisa. Também está no hip hop e sertanejo.”

E no pop internacional. Rihanna se tornou um fenômeno ao integrar elementos do reggae e da música caribenha ao dance e R&B desde seu álbum de estreia, “Music of the sun”, de 2005. Beyoncé usou a referência em “Lemonade”, seu álbum mais recente, o Fifth Harmony gravou “All in my head” e até Katy Perry, que não constuma inovar muito, colocou o gênero em “Chained to the rhythm”, lançada na semana passada, com participação de Skip Marley, neto de Bob.
Ouça exemplos de como o reggae vem dominando o pop:

  • “Man down”, Rihanna: O reggae mais famoso da cantora também tem uma pegada gângster, com direito a tiros no clipe
  • “Hold up”, Beyoncé: Um dos hits de “Lemonade”, a faixa mistura reggae com dance e tem letra que fala de traição
  • “All in my head”, Fifth Harmony: O ex-quinteto aparece numa versão praiana na música que tem participação do rapper Fetty Wap
  • “The lazy song”, Bruno Mars Em 2011, no iniciozinho da carreira, o astro pop já antecipava a tendência, no hit que é manso até no nome
  • “O nosso santo bateu”, Matheus e Kauan: Também tem reggaenejo. Esse entrou em todas as paradas de sucessos, com um refrão meloso e animadinho
  • “Idas e voltas”, Jorge e Mateus: Esse reggae romântico poderia ter sido lançado pelo Natiruts, mas está no segundo álbum de estúdio da dupla sertaneja, de 2015
  • “Malandramente”, Dennis e MCs Nandinho e Nego Bam: Apesar de bem diferente de um reggae convencional, o hit do ano passado tem a cadência lenta e a percussão marcada do ritmo
  • “Deu onda”, MC G15: O clima de praia não é a única semelhança. O hit do verão 2017 é o principal expoente do funk rasteirinha, que tem a batida lenta e melódica do reggae

“É uma questão de mercado, mas também de ouvido do público. Fica mais fácil de assimilar quando uma música segue uma sonoridade que já está presente. Isso faz parte da atualização do produtor. No meio do caminho, a gente vai criando sonoridades”, avalia Dennis.

Salvação?
Poderá a mistura com o reggae, ou com outro gênero, salvar o funk no embate com o aparentemente inabalável sertanejo? Para Dennis, essa já é uma briga ganha… pelo funk. “Estou nisso desde o Bonde do Tigrão. Vi ritmos passarem e o funk continuar aí. Pelo menos uma música estoura no ano”, avalia.
“O funk é o único gênero 100% ‘brazuca’ hoje. É influência do gueto, da favela. É a minha voz, a do Catra ou a de algum menino que está fazendo um beat e, de repente, aquilo vira alguma coisa.”

Mas quando o assunto é grana o funk perde, e feio, na opinião do produtor. “A gente estoura o ‘Malandramente’, o ‘Bumbum granada’… é um dinheiro considerável, é claro, gravar um clipe não é barato. Mas não chega aos pés do que o sertanejo gasta para estourar uma música, é coisa de milhões”, afirma. A falta de organização também tira pontos.
“Muitos meninos do funk são da periferia, não tem uma estrutura, um empresário certo. Mas o profissionalismo tem melhorado. Hoje tem show de funk por aí que não perde em nada para o sertanejo. A gente também faz show bonito. Mas, enquanto temos 10, o sertanejo tem 100.”

 

Fonte: Por Carol Prado, G1