“O problema do sobrepeso não está na boca nem no estômago mas sim na mente” diz psicoterapeuta
Por Redação Publicado 15 de fevereiro de 2017 às 10:19

O excesso de peso costuma ser relacionado principalmente à má alimentação, à ingestão exagerada de comida e ao sedentarismo. A psicoterapeuta Rachel Handley, brasileira que mora em Las Vegas e é uma das fundadoras do programa “Minha Mente no Controle da Comida” (Mind Over Eating), defende a tese de que esse problema começa na mente.

“Trabalhando na área há tantos anos, posso afirmar que o problema do sobrepeso não está na boca nem no estômago, mas sim na mente. Aprendemos desde pequenos a alimentarmos nossas emoções com a comida, então virou um hábito automático e inconsciente. Para muitos a comida virou o melhor amigo, pois sempre está disponível, nunca nos rejeita e faz nos sentirmos bem – ao menos momentaneamente”, disse em entrevista à Marie Claire durante passagem pelo Brasil para a Semana da Compulsão Alimentar do Rituaali, centro de saúde e bem-estar inaugurado no ano passado na cidade de Penedo.

FOME FÍSICA X EMOCIONAL
Ela acredita que existe a fome física, que é quando realmente sentimos necessidade de comer, e a fome emocional. “A fome física geralmente acontece 3 vezes por dia, pois nossa digestão leva de 4-5 horas para se completar. Então se você comeu o seu almoço até se saciar e depois de 2 horas está com fome de novo, certamente não é a fome física que você está sentindo.”

A fome emocional surge a partir de sentimentos. “Estudos apontam que as pessoas comem por vários motivos ligados às emoções – comem porque estão entediadas, estressadas, tristes, irritadas ou até alegres.” O ideal é suprir essas emoções sem ser com alimentos. “Se estamos cansados, vamos tirar uma soneca ou pelo menos levantar as pernas e descansar. Se estamos estressados, vamos usar técnicas de respiração profunda, tomar um chá calmante, tomar um banho relaxante etc. Quando comemos para lidar com nossas emoções, estamos ignorando o problema, mascarando-o temporariamente.”

Quando você “desconta” seus sentimentos na comida o resultado, depedendo do seu metabolismo, pode ser o ganho de peso. Mas também existem casos em que a pessoa deixa de comer. “A minha experiência profissional está muito mais ligada a pacientes obesos, mas sempre há as exceções às regras. Existem pessoas que quando estão estressadas ou tristes não conseguem comer e, consequentemente, acabam perdendo peso – isso existe, mas é uma minoria. Tanta a obesidade quanto a anorexia não são apenas problemas físicos, mas emocionais também, e ambos precisam ser tratados por especialistas.”

FALSO MAGRO
Muitas vezes a pessoa se excede na comida e não engorda, mas isso não significa que ela não tenha um problema. “Há pessoas, como é o meu caso, que são TOFIs (sigla em inglês para Thin Outside, Fat Inside) ou, em português, os chamados falsos magros. Eu fui viciada em chocolate por muitos anos, comia muito doce, mas até então achava que não tinha nenhum problema porque não tinha sobrepeso. Antes de trabalhar com isso, acreditava que magreza era sinônimo de saúde, mas tem muita gente que é gorda por dentro”, explicou. “Todas as enfermidades que acompanham os obesos também podem ser percebidas nos TOFIs – diabetes, pressão alta, colesterol etc.”

Sendo assim, ela defende que todos tenham uma alimentação saudável. “Não deve ser uma preocupação apenas para os mais gordinhos. É importante que as pessoas entendam que magreza não é sinônimo de saúde. Sinônimo de saúde é ter controle sobre o que a gente come e o que a gente bebe, é não ser sedentário, é ter uma boa qualidade de sono e conseguir gerenciar o estresse do dia a dia. Vários fatores devem ser levados em conta, não só o peso corporal.”

PRINCÍPIO DO 80/20
A psicoteraeuta, que não acredita em programas dietéticos, desenvolveu o princípio do 80/20 no seu programa para que as pessoas se alimentem com equilíbrio e que o emagrecimento seja resultado de um estilo de vida saudável. “80% do tempo a pessoa come o que o corpo precisa para ter saúde e 20% do tempo come o que deseja. Não acho que devemos ter uma lista de alimentos ou bebidas que podemos ou não comer”, explicou. “Busco, simplesmente, ajudar as pessoas a comerem o que é saudável, sem abrir mão do seu prato preferido, e como lidar com as emoções sem usar a comida como apoio. Temos um exercício especifico que ensinamos como comer as guloseimas de vez em quando, de uma forma que não vá causar dano a sua saúde – esse é o 20% desse princípio.”

Em suas palestras, ela costuma dar uma dicas para as pessoas serem mais saudáveis: “Pense no seu corpo como um carro possante, uma Ferrari, por exemplo. Depois, reflita sobre a qualidade do combustível que você deve abastecê-lo para que possa desfrutar desta incrível máquina o máximo de tempo possível.”

A COMPULSÃO ALIMENTAR  E O SEXO FEMININO
A especialista afirma que muita gente não sabe, mas tem compulsão alimentar. O problema atinge principalmente o sexo feminino. Nos EUA, por exemplo, 3,5% das mulheres têm compulsão enquanto 2% dos homens desevolvem o transtorno. “Nós somos muito mais pressionadas pela sociedade a seguirmos um padrão de beleza e termos um corpo magro, por isso, muitas vezes acabamos entrando em dietas muito rigorosas – e às vezes malucas. Depois delas, a predisposição a perder o controle com os alimentos aumenta muito e considero isso alarmante.”

Por isso, Rachel enfatiza a importãncia de “exercitar” nossa mente, o que ela ajuda seus pacientes a fazerem no seu programa. “Temos que entender os pensamentos que criaram comportamentos automáticos desfavoráveis e, assim, trabalhar para conseguir alterá-los. Se não, não há dieta, exercício físico ou até cirurgia que melhore a autoestima.”

Fonte: MARIE CLAIRE/por PAULA MELLO