O prazer de liderar por metros a mais: Bolt sobra de novo e leva tri dos 200m
Por Redação Publicado 18 de agosto de 2016 às 22:02

Jamaicano vence com folga e leva segunda medalha na Rio 2016. E sexta tem mais

Existe uma razão para Usain Bolt ter os 200m como prova favorita. Uma vez passada a curva, sua velocidade não o deixa na mão. Não há a pressa dos 100m ou a tensão da troca de bastões em um revezamento. São apenas metros a mais curtindo sua vantagem sobre quem quer que seja o adversário, passadas extras apreciando como é bom ser o homem mais rápido do mundo. Nesta quinta-feira, mesmo com a medalha em jogo, a postura não foi diferente. As pernas falaram sério enquanto o Raio fez da reta sua passarela para o último voo solo. Em sua despedida de provas individuais em Olimpíadas, debaixo de chuva, até sentiu uma ponta de frustração pelo tempo “alto” de 19s78. Logo depois, relaxou. Pouco importava que não tivesse recorde. Ele era mais uma vez tricampeão olímpico.

No último domingo, o jamaicano já havia subido um degrau na história do atletismo ao tornar-se o primeiro atleta homem ou mulher a ganhar três ouros nos 100m. E a coleção dourada ainda pode aumentar nesta sexta-feira, quando Bolt e outros três compatriotas correrão a final do 4x100m. Na eliminatória, um quarteto sem o Raio garantiu a vaga na final com o 5º tempo.

Sem Justin Gatlin, que se despediu nas semifinais, Bolt teve a companhia de Andre De Grasse e Christophe Lemaitre no pódio. O canadense, apontado pelo jamaicano como o futuro das provas de velocidade e com quem havia brincado antes de cruzar a linha de chegada nas semis, ficou em segundo com 20s02. O francês levou o bronze com 20s12.

A trajetória do ouro foi construída com imensa tranquilidade. Na etapa classificatória, Bolt fez apenas o 15º tempo, simplesmente porque não havia a menor necessidade de ser melhor. Os 20s28 que correu foram mais do que suficientes para vencer a nona bateria e avançar às semis – o segundo colocado, um nigeriano, deu tudo o que tinha para fazer a melhor marca da vida e ainda assim ficou seis centésimos atrás do Raio.

Nas semis, Bolt quase “perdeu”. Mas o público ganhou um espetáculo e tanto. Enquanto o jamaicano desacelerava a passos largos, De Grasse arrancou na esperança de batê-lo. O canadense apertou o ritmo, olhou para Bolt, correu mais, olhou para Bolt, e… chegou em segundo. O favorito riu como quem diz: “É sério? Acha que vai ganhar de mim? Nos 200m?”

VITÓRIA FÁCIL, MAS COM SENSAÇÃO DE QUE PODIA MAIS

O foco para a final desta quinta era total, tanto que Bolt foi poupado das eliminatórias do 4x100m pela manhã. Mas de forma alguma a concentração impediu que ele mantivesse a postura descontraída. No aquecimento, com os fones de ouvido a postos, dançou como se estivesse em festa. Sabia que ela viria em algumas horas.

Quando o telão finalmente anunciou a final, o público acordou na noite fria e chuvosa. Enquanto os primeiros adversários correram ao entrar na pista, Bolt justamente diminuiu o passo. Parecia querer aproveitar cada segundo. Cumprimentou torcedores da Jamaica concentrados na curva e seguiu para testar o bloco de partida. No primeiro ensaio da largada, levantou a torcida. Na apresentação oficial, o jamaicano dançou, fez caras e bocas, e levou o estádio abaixo. Qual seria a reação então quando ele ganhasse?

Quando foi dado o tiro, Bolt teve o quinto tempo de reação (0s156), mas arrancou muito rapidamente. Na curva já estava claramente liderando a prova. Uma vez na reta, não houve a menor dúvida que a vitória seria uma questão de tempo, de segundos. Desta vez não houve redução do ritmo. Antes o jamaicano dizia que os 200m ainda poderiam ter quebra de recorde. Não foi desta vez. Por um segundo, não houve sorriso. Socou o ar, sabendo que poderia ter feito melhor. Sabendo que era melhor.

Logo depois, a ficha caiu. Ok, não deu para bater o recorde. Mas de que importava? Ninguém era mais rápido do que ele. Só aquele Bolt de 2009, quando a marca de 19s19 foi estabelecida. Era hora de comemorar. Se ajoelhou e beijou a pista. Pegou uma bandeira da Jamaica e depois recebeu uma canga com estampa do pavilhão brasileiro. Dançou ao som de reggae, trilha sonora oficial das comemorações das provas de velocidade na Rio 2016. Foi reverenciado como merecia. O público ecoou “Usain Bolt! Usain Bolt!”. Voltou à sexta raia, beijou de novo o piso azul que o consagrou e finalmente fez a tradicional comemoração do arqueiro, ou do “raio”, como chamam alguns. Podia ter feito o que quisesse. Ali ele era rei.

Fonte: Ge