O gráfico que muda tudo
Por Redação Publicado 24 de fevereiro de 2015 às 13:39

dinossauros2 - Cópia (2)

Caiu no descaso

 Por Roberto Altenhofen

 Segunda-feira braba, ressaca-guerra, e, para piorar, dia de relatório Hocus Focus.

 Menos crescimento e mais inflação – essa é a dobradinha rotineira das perspectivas dos agentes de mercado.

 Com a útima atualização, chegamos a retração de 0,5% no PIB e inflação de 7,33% para 2015.

 Após oito pioras consecutivas nas projeções, acho que a deterioração do cenário não é mais novidade para ninguém.

 Pelo menos, não deveria…

 A nova equipe econômica, que veio pregando alinhamento às projeções de mercado como forma de recuperar a credibilidade, já depara-se com defasagem de quase 300 pontos-base do Focus para a meta de inflação, e um abismo para a perspectiva oficial de 0,8% de crescimento, número que ninguém mais leva em consideração.

Olha a bolha, olha a bolha…

 O Banco Central de Israel é o mais novo membro do time da bolha de liquidez.

 Não chega a ser propriamente um juro negativo, como Suécia ou Suíça, mas está na turma dos Bancos Centrais com juros zerados como forma de espantar influxo de capital.

 A autoridade monetária local cortou o juro básico da economia israelense a 0,1%.Com isso, nada menos do que 20 Bancos Centrais pelo mundo já cortaram juros em 2015.

 A coisa parece muito simples…

 As Bolsas, por quase todo lado, estão em patamares recordes. É o que se vê nos EUA, Japão, Europa, China… E ativos de risco subindo dessa maneira dão um sinal inequívoco de que a economia global vai bem, não?

 Então por que raios tamanha ajuda, sem precedentes, dos Bancos Centrais?

 PS: com o mundo em juros zero, somos uma ilha que oferece o último peru com farofa fora do dia de Ação de Graças. Você não encontra 13% de rendimento anual com perfil de investment grade em nenhum outro lugar que não seja a ilha da fantasia. Portanto, aproveite.

Um dinossauro na encruzilhada

 O Grupo British American Tobacco (BAT), controlador da Souza Cruz, anunciou a intenção de fechar o capital da subsidiária brasileira. Se confirmada, será uma operação histórica, posto que Souza Cruz é uma das empresas mais antigas em Bolsa – estreou na Bolsa do Rio de Janeiro em 1946, sendo posteriormente listada na Bolsa de Valores de São Paulo em 1957.

 A operação seria feita através de uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) para compra da totalidade das ações em cirulação no mercado, representativas de 24,7% do capital da Souza Cruz.

 Para tanto, os caras estão oferecendo preço de R$ 26,75 por ação, o que significa um prêmio de 13% sobre o fechamento de CRUZ3 na última sexta-feira.

 As ações da Souza Cruz disparam com a notícia. Naturalmente, vão buscar patamar próximo destes R$ 26,75, deixando uma margem de desconto para embutir o risco de não materialização da operação.

 Mas, a julgar pela pequena margem de desconto (CRUZ3 a R$ 26,3 no momento que escrevo), o mercado considera a deslistagem de Souza Cruz como praticamente certa.

 Quem te viu, quem te vê

As ações da BAT sobem em Londres, o que sugere que os acionistas do grupo britânico estão considerando a ideia acretiva para eles…

 Agora, o que os acionistas da Souza Cruz estão achando?

 A primeira vista, o valor oferecido pela BAT parece modesto. Afinal, pouco mais de um ano atrás CRUZ3 valia mais de R$ 30.

No entanto, levando em conta que de lá pra cá a venda de cigarros caiu vertiginosamente, impactando os resultados, trata-se de um prêmio bastante razoável, que deve sim viabilizar a deslistagem da empresa.

 Ao longo de boa parte das décadas, CRUZ3 ficou conhecida por sua resiliência em períodos desafiadores à economia de um modo geral. Prova disso era o bom histórico de dividendos, sustentado por lucros crescentes a partir dessa demanda que, por um bom tempo, mostrou-se inelástica.

 Nos últimos anos, porém, o cenário mudou, com o número de fumantes caindo e o mercado ilegal avançando, o que fatalmente acabou pressionando os dividendos da companhia: saiu de um rendimento (yield) anual de aproximadamente 10% via dividendos, para uma média abaixo de 5% nos últimos três anos, diluindo um dos maiores atrativos da ação.

 Fosse você acionista de Souza Cruz, estaria enxergando uma janela de oportunidade?

O gráfico que muda tudo

 Poxa, mas então o que o BAT está vendo para querer segurar sozinha essa trolha?

 Muito provavelmente, o gráfico abaixo:

Nos últimos anos, a despeito dos dividendos decrescentes, o comportamento do Fluxo de Caixa Livre (FCF) da Souza Cruz, que é o que efetivamente sobra no caixa da empresa após cumprir todas as obrigações operacionais e de investimentos.

A linha vermelha, por sua vez, faz a relação entre o preço da ação e o fluxo de caixa da empresa, múltiplo que, pelo gráfico, nota-se que ficou mais barato ao longo dos últimos anos.

A BAT, que não é boba nem nada, quer pagar vermelho para ficar com o azul todinho para ela.

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