MS é o 2º em número de casos de violência doméstica
Por Redação Publicado 25 de agosto de 2017 às 08:00

Os avanços e desafios no combate à violência contra a mulher foram debatidos na  Audiência Pública realizada na tarde de quinta-feira (24), tendo em vista que Campo Grande é a capital com mais casos de feminicídio no Brasil (de janeiro a julho de 2017 foram registrados 18 casos). Durante a reunião foi assinado um Termo de Compromisso de direito de uso e utilização de integrantes voluntárias da Frente Feminina da Juventude para programa sociais das secretarias, além de firmar compromisso de combater a violência contra a mulher e propiciar políticas públicas focadas neste tema.

Hoje Mato Grosso do Sul é o 2º estado com maior numero de casos de violência doméstica.

O debate foi marcado pelo discurso emocionado da jornalista Pauliane Amaral, que foi aplaudida de pé ao falar de sua irmã, a musicista Mayara Amaral, assassinada cruelmente no último dia 26 de julho. Às lágrimas, Pauliane criticou o modo como a mídia tratou o caso “a abordagem irresponsável e impregnada de violência de gênero mostra o total despreparo com que a maioria dos nossos meios de comunicação trata casos de violência contra a mulher. A necessidade de justificar um crime contra a mulher pela conduta da mulher é um claro retrato de uma sociedade doente e misógina. Até quando a morte de uma mulher vai ser justificada pelo comprimento de sua roupa? Pela cor do seu batom? Por ir ou não a um motel? Até quando? Esse tipo de debate só desvia a atenção do problema principal que é a impunidade dos crimes de violência contra a mulher”, salientou.

Segundo dados apresentados na Audiência, 77% das mulheres vivendo em situação de violência sofrem agressões semanalmente ou diariamente, sendo que o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de assassinato de mulheres.

Após o discurso emocionado de Pauliane Amaral, a delegada Roseli Molina, corregedora da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul afirmou que é preciso tirar uma lição de crimes de feminicídio. “Dá pra tirar disso uma lição muito grande disso. Daqui 20 anos vamos ver a nova geração lidando melhor com esse assunto, Tivemos avanços nesses últimos 20 anos, antes os casos eram subnotificados, as agressões ficavam dentro das casas. Já avançamos muito,  por mais que ainda tenhamos essa violência endêmica, antes nem sabíamos o tamanho dessa violência. Essa é um luta incessante, temos aqui muitos homens presentes. Temos que levar informações para essas mulheres. Temos que nos fazer valer desses mecanismos, saber que tem medida protetiva, que tem uma rede de proteção que funciona, mas para isso a mulher precisa denunciar”, disse.

O proponente do debate, vereador André Salineiro,  presidente da Comissão Permanente de Legislação Participativa, destacou a importância de ouvir a sociedade. “Temos que ouvir as pessoas que estão do lado de lá, ouvir o outro lado, pessoas imbuídas nessa questão não só da violência contra mulher, mas na questão da segurança púbica em geral. Precisamos respirar segurança púbica com finalidade social, precisamos de medidas concretas”, revelou.

A vice-governadora Rose Modesto também participou do debate e afirmou que a educação é a saída para mudar a realidade da sociedade e diminuir os casos de violência, “esse é um debate indispensável, a sociedade está gritando por socorro na questão de combate à violência contra mulher. O Poder Executivo seja estadual, municipal ou federal está fazendo ações e cumprindo com seu papel. Acredito que só uma coisa pode fazer essa realidade mudar. Ninguém se torna consciente sem ser tocado. Temos que levantar a bandeira da sensibilidade, a educação é tudo, começa em casa, vai para escola, pra igreja, para todos os lugares. Se não começar hoje não vamos ver essa mudança acontecer na nossa geração. Para não ficar enxugando gelo, tem que ser com empenho e dedicação”, revelou.

Para a psicóloga da Casa da Mulher Brasileira, Tatiana Quintana, “é nos espaços públicos onde a gente fala sobre as leis que a gente pode olhar para as pessoas e dizer: eu vejo você. Temos que nos enxergar. A violência também é aquela das nossas crenças, dos nossos julgamentos, quando a gente julga o comportamento das mulheres. Temos que nos perguntar: qual a educação que estamos passando para nossos filhos? A gente ensina esses valores aos homens? A gente ensina os homens a cuidar? A gente não ensina homens a lidar com suas emoções, a lidar com suas dores. Ele se cala e busca refúgio nas drogas, no álcool. Os homens que a gente cria, esses homens precisam ser alertados sobre a necessidade de cuidar da sua emoção, do seu próprio sentimento, quando se tornam incapazes de lidar com isso é que eles ficam violentos”, disse.

A subsecretária de Políticas para as Mulheres do Governo do Estado, Luciana Azambuja Roca, destacou a importância do Projeto “Maria da Penha vai à Escola”, que surgiu da necessidade de instituir políticas públicas que mudassem o comportamento da sociedade. “O Projeto surgiu em agosto de 2015. Fizemos palestras nas escolas e atingimos 2.620 alunos. No ano passado, em que comemoramos 10 anos da Lei Maria da Penha, na Campanha Agosto Lilás atingimos 7.629 alunos em Campo Grande. Já estamos com esse Projeto em 55 municípios do Estado desde Dourados até Paraíso das Águas, todos engajados. Hoje estamos também com os Projetos Maria da Penha vai à Igreja, Maria da Penha vai à Empresa, Maria da Penha vai à Aldeia. Nesse ano nossa meta é 15 mil alunos da rede pública no ensino médio, só em Campo Grande. Somente de 1 a 15 de agosto já atingimos 7.550 alunos”, destacou.

Para a subsecretária de Políticas para a Mulher do município de Campo Grande, Carla Stephanini “hoje nós podemos dizer que estamos avançamos no sentido da legislação. Hoje o feminicídio é uma qualificadora do homicídio, quando a pessoa morre na condição de ser mulher, mas isso é um avanço. Sabemos da dificuldade das mulheres que são vitimas de estupros. Na questão dos equipamentos sociais também avançamos, com a Casa Abrigo, com o Centro Especializado de Atendimento à Mulher e com a Casa da Mulher Brasileira, que chegou aqui porque temos uma acúmulo de trabalho da área, senão não teríamos conseguido”, afirmou.

A coordenadora-presidente da Frente Feminina da Juventude, Desirê Queiroz destacou que “o mundo pode ser mudado sim, por meio das nossas ações, é isso que nos faz grande. Acredito que a educação é a chave para tudo isso, o combate à violência contra a mulher tem que ser uma política de Estado, assim a gente pode garantir, que além da boa vontade dos gestores, ainda se tenha o dever de cumprir a lei. Digo a vocês que a juventude passa, mas mulheres seremos até o dia da nossa morte, então precisamos pulverizar esse movimento. A violência contra a mulher não pode ser naturalizada”, disse.

Também marcaram presença no evento a delegada titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de Dourados-MS, Paula Ribeiro dos Santos; Alelis Izabel de Oliveira Gomes, representando secretária de Educação Ilza Mateus; e o diretor da Escola Municipal “João Evangelista Vieira de Almeida” e presidente dos diretores-adjuntos da REME (Rede Municipal de Ensino), Fábio Reis.

De acordo com dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), apenas 10% dos casos de estupros são notificados e 1 mulher é vítima de estupro a cada 11 minutos. Conforme dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), a cada dia ocorrem 10 estupros coletivos no Brasil. Dados revelam ainda que 503 mulheres brasileiras são vítimas de agressão a cada 60 minutos, sendo que 61% dos casos são praticados por conhecidos, 19% por companheiros e 16% por ex-companheiros.