Polícia Federal deflagrou a 22ª fase da Lava Jato nesta quarta-feira (27).
Ação investiga abertura de offshores para ocultar dinheiro da corrupção.
O Ministério Público Federal (MPF) investiga a abertura de offshores (empresas no exterior) e a compra de apartamentos em Guarujá (SP) para lavar dinheiro do esquema de corrupção naPetrobras.
Todos os imóveis do condomínio Solaris, na praia das Astúrias, estão sendo apurados. Familiares de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, podem ter sido beneficiados pela construtora OAS na compra de apartamentos.A cúpula da empreiteira já foi condenada na Lava Jato.
“Em relação ao conjunto Solaris, nós estamos investigando todas as operações desses apartamentos. Nós temos indicativos em relação a familiares do Vaccari e também de uma offshore aberta pela Mossack Fonseca”, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, nesta quarta-feira (27), ao detalhar a 22ª fase da Operação Lava Jato.
A Polícia Federal apura se a empresa Mossack Fonseca abriu offshores para esconder a propriedade de apartamentos que eram da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) e que, em 2009, foram assumidos pela OAS.
Vaccari, que já presidiu a Bancoop, foi preso pela Lava Jato em 2015 e está detido na Região Metropolitana de Curitiba.
De acordo com o jornal “O Globo”, um dos imóveis do condomínio Solaris, um triplex, estaria sendo reformado para a família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o MPF, o caso ainda é investigado.
O procurador afirmou que Lula pode ser investigado caso tenha imóvel no Solaris.
Abertura de empresas
A empresa Mossack Fonseca criou offshores para Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, e Pedro Barusco, ex-gerente da mesma área, afirmou o MPF. Mário Goes, apontado pela Polícia Federal como um dos operadores do esquema, também teria recebido uma empresa no exterior. Os três já foram condenados na Lava Jato.
“A Mossack Fonseca era uma grande lavadora de dinheiro”, disse Carlos dos Santos Lima.
Segundo despacho assinado pelo juiz Sérgio Moro, há provas contra a empresa, que tem sede no Panamá. “Existentes, portanto, provas, em cognição sumária, de que a Mossack Fonseca providenciou os serviços necessários para a abertura de off-shores para pelo menos quatro agentes envolvidos no esquema criminoso da Petrobras e que as utilizaram para lavagem de dinheiro.”
O MPF ainda não sabe o montante de dinheiro movimentado nas empresas no exterior. Manter offshores não é ilegal, mas a falta de declaração à Receita Federal constitui crime.
Destruição de provas
O texto assinado por Moro diz que a investigação interceptou mensagens com orientação para destruir documentos. Como exemplo, Moro cita a mensagem de um cliente pedindo para que as empresas sejam fechadas porque o escritório dele havia sido alvo da Polícia Federal.
O juiz também menciona uma mensagem da dirigente da Mossack, orientando um funcionários a destruir provas. Ela disse: “Tire todos os papéis do escritório, nomes de clientes, documentos a entregar, agendas telefônicas, e apague do computador tudo o que puder, inclusive, apague os favoritos da máquina.”
Prisão em SP
A publicitária Nelci Warken, presa nesta quarta-feira em São Paulo, seria uma “laranja” do esquema, de acordo com o procurador (veja o vídeo abaixo). Ela prestou serviços de marketing à Bancoop era dona de offshores e empresas no Brasil – uma delas, a Paulista Lime Publicidade, fica em um terreno baldio, segundo o MPF. A suspeita ainda deve prestar depoimento.
Nelci apareceu, nas investigações, como responsável por um triplex no condomínio Solaris, embora ele tivesse sido transferido à Murray Holdings, uma offshore da Mossack Fonseca. Interceptações telefônicas comprovaram que ela afirmava ser dona do apartamento e que pagou por reformas feitas nele.
Segundo a advogada de Nelci, ela não tem nenhuma relação com a OAS e diz que a compra do apartamento foi regular.
Triplo X
A 22ª fase da Lava Jato foi deflagrada na manhã desta quarta. Ao todo, esta fase da Lava Jato tinha 23 mandados. De acordo com a Polícia Federal, até as 11h30, dos seis mandados de prisão temporária, três haviam sido cumpridos. Dois investigados estão fora do país e um não foi localizado. Ainda há mandados em andamento.
Em São Paulo, a ação ocorre na capital, Santo André e São Bernardo do Campo. Em Santa Catarina, ocorre em Joaçaba.
Entre os crimes investigados na atual fase estão corrupção, fraude, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Oitenta policiais participam da ação.
A prisão temporária tem prazo de cinco dias e pode ser prorrogada pelo mesmo período ou convertida em preventiva, que é quando o investigado fica preso à disposição da Justiça sem prazo pré-determinado. Os presos serão levados para a Superintendência da PF, em Curitiba.
Segundo o MPF, a empreiteira OAS participava do chamado “clube” de empresas que, por meio de um cartel, fraudava as licitações da Petrobras. Para conquistar os contratos, as empresas pagavam propina a diretores da Petrobras e a partidos políticos, com a intermediação de operadores.
Dirigentes da OAS já foram condenados por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Fonte: G1