
Juiz federal responsável pela Operação Lava Jato fez palestra na Universidade Columbia. Durante a fala, manifestantes brasileiros protestaram em inglês e foram vaiados pelo restante do público.
Na palestra, Sergio Moro explicou a Operação Lava Jato como se falasse a um público estrangeiro, apesar de a grande maioria dos presentes serem brasileiros. Elogiou a atuação do ministro Edson Fachin, indicado para ser o novo relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal).
Moro disse que a operação pode significar “um curto período de instabilidade, mas há outras escolhas a serem feitas, nem tudo é a economia. Se não fizermos nosso trabalho a democracia e o Judiciário podem sair prejudicados”.
Afirmou também que se encarrega apenas de julgar o trabalho dos procuradores. “Se os procuradores apresentam evidências de conduta criminosa, e se isso envolve políticos, eu preciso decidir baseado nas evidências. A consequência política é algo que acontece fora dos tribunais.”
Logo depois, a sessão foi aberta para perguntas da plateia. Questionado se tinha interesse em ocupar uma cadeira no STF, Moro sorriu e respondeu que “não faria campanha”. Quando indagado sobre o nome de Alexandre de Moraes, naquela hora ainda apenas cogitado para o cargo, Moro disse que estava longe do Brasil e não estava atento às notícias, mas que desejava sorte ao novo ministro.
Moro falou sobre a foto tirada conversando, descontraído, com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) durante um evento no ano passado. Aécio é citado na delação da Odebrecht e nega qualquer irregularidade. Moro disse que estava sentado ao lado do senador: “O que podia fazer?”. Também disse que não conversavam sobre as investigações.
O juiz deu a entender que vai continuar tornando públicas delações da Lava Jato. Disse que vazamentos à imprensa são ilegais, mas que a divulgação autorizada pelo juiz é diferente. “A Justiça brasileira permite e até exige essa conduta”, disse.
Um estudante questionou Moro sobre a relação da Lava Jato com o descobrimento do pré-sal. Moro disse que “não há nenhuma evidência disso e não podemos acreditar em teorias da conspiração. Às vezes isso parece conversa de maluco”.
“Devemos ter fé no futuro”, disse Moro, “e se conseguirmos superar a corrupção sistêmica teremos razão para ficarmos orgulhosos do Brasil e provar que a democracia vai sair fortalecida”.
Lava Jato não é criminalização da política, diz Moro
Na palestra, Moro contestou a tese de que a Operação Lava Jato é uma forma de criminalizar a política.
“Ninguém está sendo processado ou condenado com base em suas opiniões políticas. São casos envolvendo propinas. Então, não é similar ao macarthismo, é complemente diferente”, disse, ao responder a uma das perguntas da plateia.
Em sua fala, ele ponderou que, como o caso envolve propina a políticos, “inevitavelmente” haverá consequências políticas. “Mas isso acontece fora do tribunal e o juiz não tem controle sobre isso”, ressalvou Moro.
“Alguns políticos também dizem que a Operação Lava Jato representa a criminalização da política. Mas para sermos honestos, a culpa não pode ser apontada para o processo judicial, mas para os políticos que cometeram os crimes. O processo judicial é somente uma consequência. O Judiciário não pode ficar cego diante desses crimes”, completou em seguida.
Moro também disse que os juízes estão “apenas fazendo seu trabalho”, “processando os casos baseados em provas” e que as ações estão sendo conduzidas conforme o “devido processo legal”, com respeito aos direitos da defesa.
Fonte: G1.