João Carlos Martins sobre concerto com Luan Santana: “O público ‘nariz empinado’ vai respeitar um artista popular”
Por Redação Publicado 23 de março de 2017 às 10:48

O maestro João Carlos Martins se prepara para retornar aos palcos do Theatro Municipal de São Paulo, casa em que iniciou sua carreira. Na Temporada 2017, que estreia na próxima quarta-feira (29), o maestro e a Bachiana Filarmônica SESI-SP apresentam obras de Tchaikovsky e Beethoven. Ao R7, ele contou que está feliz de voltar a se apresentar em um dos principais palcos da música clássica.

— Quando tinha 12 anos, lá era a minha segunda casa. Foi no Theatro Municipal que comecei a ouvir Johann Sebastian Bach, fiz inúmeros concertos com a Sinfônica Municipal, toquei com todos os regentes, com vários maestros, e foi depois disso que fui morar nos Estados Unidos. Depois, só tive uma apresentação esporádica, mas quando iniciei minha nova carreira como maestro, me apresentava na Sala São Paulo. É uma emoção enorme voltar para o palco em que passei minha infância e juventude. Espero ficar até o apagar das luzes.

A Temporada 2017 conta ainda com o violinista Lucas Faria, de 18 anos. A carreira dos dois se cruzou quando o maestro levou o jovem, ainda com 12 anos, para tocar no Lincoln Center, em Nova York. Atualmente, Lucas é residente de Budapeste e vai apresentar um dos concertos mais difíceis para violino. Segundo o maestro, o concerto abre com a quinta sinfonia de Beethoven e conta com uma grande surpresa para o público no final.

— Há 5 anos, lancei o Lucas [Faria] com 12 anos de idade, um menino ainda, em Nova York, tocando Vivaldi. Depois desse dia, ele, com muita perseverança e disciplina de um atleta, foi desenvolvendo suas habilidades e acabou ganhando o concurso Prelúdio, da TV Cultura, e ganhou uma bolsa para estudar no Conservatório de Budapeste. Hoje, ele volta para tocar um dos concertos mais difíceis da literatura do violino, de Tchaikovsky. Reservei a Quinta Sinfonia de Beethoven, porque aqui no Brasil ele é considerado referência de superação, ele foi o maior exemplo na história da música de superação. Quando ele compôs a Quinta Sinfonia, já estava em estado avançado de surdez. A partir daí, escreveu as obras mais importantes da carreira. No final, vou entregar uma surpresa para o público.

Além da atual temporada, o maestro João Carlos Martins planeja um concerto com um dos maiores nomes da música popular: Luan Santana. Ele explicou que as negociações para o espetáculo já estão avançadas e só falta fechar as datas.

— Cerca de 98% dos meus concertos são feitos de músicas clássicas, mas também faço parcerias com artistas que tenho muito respeito. Há 20 anos, me apresentei com Tom Jobim. Também já fiz parceria com Milton Nascimento, Caetano Veloso, Chitãozinho e Xororó, com a Vai-Vai, com o Tiago Abravanel. Faço esses concertos uma vez por ano. Este ano, no final, a parceria vai ser inusitada. Ele vai cantar, inclusive, Bach. Estamos acertando as datas com Luan Santana.

Segundo ele, o cantor sertanejo vai fazer com que diminua o preconceito com o artista popular.

— Já estamos acertando o repertório também. Primeiro ele deve entrar com uma sinfonia de Beethoven, depois vai cantar músicas clássicas e ainda vai cantar seis músicas dele com arranjos de música erudita. É uma forma de o público “nariz empinado” respeitar um artista popular que deverá ir longe na carreira e, ao mesmo tempo, o público dele vai entender a importância da música clássica.

No início deste ano, o maestro ficou internado devido a uma embolia pulmonar depois de sua vigésima terceira cirurgia em busca de recuperar alguns movimentos dos dedos para voltar a tocar piano, sua grande paixão. João Carlos Martins declarou que sempre vai fazer o possível para manter o contato com a música.

— Realizei, na minha vida, 23 operações para manter o sonho de continuar tocando. Quando era pianista, fazia 21 notas por segundo. Agora, não estava conseguindo fazer uma nota em 21 segundos. Não conseguia fazer nada em dezembro. A operação foi para conseguir tocar, pelo menos, músicas lentas. E é isso que vou fazer até o apagar das luzes. A pior coisa que aconteceu na minha vida foi perder as mãos para o piano. Mas a melhor coisa que aconteceu, também foi perder as mãos para o piano, porque encontrei um novo universo na regência. Com isso, consegui levar a música para todos os cantos.

Feliz com sua trajetória na música, o maestro ainda aproveitou para falar sobre a importância de seus projetos sociais para crianças de comunidades carentes.

— Tenho projeto em Paraisópolis e em várias comunidades. Faço questão de levar concertos para cidades com menos de 10 mil habitantes e vou lançar, nesse ano, em cidades com até 30 ou 40 mil habitantes, o projeto de formar as orquestras locais. Vai ser uma espécie de cartão de visita na própria cidade. Quando a orquestra tiver selo de qualidade, passa a se chamar “orquestra bachiana” com o nome da cidade. Tudo isso fez parte da minha vida, mas o legado que queiro deixar é o Orquestrando São Paulo e que vai se transformar no Orquestrando Brasil. É gratificante ver como a música pode mudar a vida das pessoas. Uma vez, na Fundação Casa, um menino me mostrou que a música venceu o crime. Por isso que sou chorão. Me emociono com essas histórias.

Fonte: POP/Juliana Moraes, do R7