Jeff Weiner: liderança é a habilidade de inspirar outros para atingir objetivos comuns
Por Redação Publicado 27 de janeiro de 2016 às 11:35

Como o CEO do LinkedIn vem transformando a rede social corporativa em um lugar para fazer bem mais do que só procurar um emprego novo

Àfrente do LinkedIn, Jeff Weiner já provou ao mercado que a rede social corporativa pode não ter o sexy appeal de Facebook, Instagram e Netflix, mas os resultados no fim do trimestre compensam. Em quatro anos, o valor de mercado do LinkedIn foi multiplicado por quatro. Entre todas as pontocons que abriram capital desde 2010, só as ações do site e do Facebook se valorizaram. O bom desempenho é resultado da estratégia do LinkedIn de se expandir além do ato de preencher um emprego vago. Sob a batuta de Weiner, a empresa comprou startups de conteúdo e e-learning e criou soluções voltadas a outras áreas de grandes empresas que não só RH. De quebra, o site se instalou na China com sucesso, enquanto outros gigantes do setor ainda enfrentam dificuldades. Nessa entrevista exclusiva com Época NEGÓCIOS, o executivo de 45 anos fala sobre a estratégia de conteúdo, o bom resultado na bolsa e até onde faz sentido acatar às exigências da censura chinesa.

Nos últimos anos, com as compras de startups como Pulse e SlideShare, o LinkedIn vem se transformando em um serviço não só para buscar empregos. Qual é a estratégia por trás disso?
O LinkedIn vai além de só ajudar as pessoas a encontrarem empregos. Nossa missão é conectar os profissionais do mundo e torná-los mais produtivos e bem-sucedidos. A maioria deles não está procurando empregos, mas quer ser melhor no que já tem. Uma grande parte do que fazemos é ajudá-lo a ficar informado. Sentimos que o Pulse (comprado em 2013 por US$ 90 milhões) poderia acelerar significativamente nossos esforços.

Como a compra da Lynda, startup de cursos onlines adquirida em abril por US$ 1,5 bilhão, se integra nessa estratégia?
Nossa proposta geral de valor é conectar nossos membros e clientes a oportunidades. Uma grande parte dessa conexão, principalmente nos dias atuais, é garantir que você continue a aprender e a adquirir as habilidades necessárias para avançar na sua carreira. Pelo seu perfil no LinkedIn, nós entendemos quais habilidades você tem e quais precisa baseado nas vagas que procura. Assim, podemos recomendar cursos (externos). Com a compra da Lynda, passamos a oferecer o conteúdo (dos cursos).

Após o Pulse e o Influencers, é natural que o próximo passo do LinkedIn seja começar a produzir conteúdo original na plataforma? A entrevista que você fez com a Oprah, veiculada exclusivamente no site, é muito parecida com um talk show…
Nós temos mais de um milhão de pessoas que escrevem conteúdos mais longos no LinkedIn pela plataforma Pulse. Isso é conteúdo original. Qualquer um dos nossos membros, Influencers ou editoras, podem aproveitar a influência da nossa plataforma com posts curtos ou longos e vídeos. Temos uma equipe editorial – pequena, mas crescendo – que faz um trabalho ótimo como a entrevista que você viu com a Oprah. Eles estão entrevistando profissionais influentes, como CEOs e presidentes. Pretendemos continuar nesse caminho.

Desde o IPO, o valor de mercado do LinkedIn aumentou quase quatro vezes, enquanto outras empresas de internet continuam a sofrer na bolsa. O que justifica esse desempenho?
O crescimento do nosso valor de mercado é atribuível ao fato de que continuamos a expandir no nosso mercado potencial. Quando entrei, em dezembro de 2008, tínhamos 32 milhões de membros. Até então, nossa missão era conectar os mais de 780 milhões de “trabalhadores do conhecimento” do mundo. Alguns anos depois, reconhecemos que estávamos crescendo mais rápido que esperávamos. Não demoraria muito até atingirmos a metade desse mercado. Começamos a pensar no que viria depois. Eu ainda não estava aqui, mas a companhia começou a operacionalizar nossa visão de criar oportunidades para todos os mais de 3 bilhões de membros da força de trabalho global. Se você analisar soluções de talentos, marketing e vendas, temos uma oportunidade potencial de receita bem além dos US$ 100 bilhões (anuais). É mais que o dobro da época do IPO. Quando falamos sobre capitalização de mercado, costumamos dizer que a rua define o preço diário, mas nós definimos o valor no longo prazo.

Muitas empresas ainda encaram como um problema o funcionário deixar seu perfil no LinkedIn atualizado, como se ele estivesse atrás de um novo emprego. É uma posição justa?
Os funcionários estão compartilhando o que sabem e o que os anima. Se a companhia tem uma narrativa clara sobre o que quer atingir, a visão, missão, estratégia, cultura, valores e proposta de valor, essa narrativa pode ser transportada e reforçada por qualquer funcionário. Eles vão começar a falar sobre o que mais os anima ou os deixa orgulhosos. Isso beneficia a companhia.

Empresas de internet gigantescas desistiram da China. Mas não o LinkedIn. Como a natureza profissional do site ajudou na negociação com o governo chinês?
A China quer criar oportunidades de emprego para a crescente classe média. O governo quer fazer uma transição de sucesso das áreas rurais para as cidades e criar empregos para mais de 250 milhões de pessoas. É uma das maiores migrações de capital humano na história da civilização. Como plataforma, o LinkedIn pode ajudar nesse esforço conectando nossos membros chineses a oportunidades econômicas.

O LinkedIn concorda com a censura de conteúdo exigida pela China. Qual é o limite da empresa aqui? O que a companhia não concordaria em acatar?
Qualquer coisa que nos prevenisse de realizar ou manifestar nossa visão de criar oportunidades econômicas é algo sobre o qual teríamos que pensar a fundo. Como faríamos negócios nesse ambiente? Até hoje, porém, temos conseguido nos manter verdadeiros ao que fazemos. Criamos oportunidades. O LinkedIn é uma plataforma diferente de outros sites para usuários finais que não conseguem operar na China.

Como um dos primeiros unicórnios (nome dado a startups com valor de mercado acima do US$ 1 bilhão), você acha que o mercado vem passando por um momento de valores de inflados?
Certas companhias que foram chamadas de unicórnios estão mostrando crescimento extraordinário e vão viver por muito tempo, ao contrário do fim dos anos 90, com sua dinâmica de bolha e modelos de negócios insustentáveis. Existem outros unicórnios com valores de mercado privados que provavelmente são exagerados e se adiantaram aos fundamentos dessas empresas. Todo dia você lê uma manchete sobre downrounds (aportes feitos com valores de mercado menores) ou investidores diminuindo o valor de mercado de empresas de capital fechado. Isso não quer dizer que não exista valor sendo criado. No longo prazo, é bom para criar um ecossistema saudável.

Você foi considerado um dos CEOs mais bem avaliados dos últimos anos pelo site Glassdor. Qual é a habilidade mais importante para ser admirado pelos seus funcionários?
Defino liderança como a habilidade de inspirar outros para atingir objetivos comuns. A palavra mais importante que existe é “inspirar”. A capacidade em inspirar os outros cria um ambiente e uma experiência de trabalho positivas. A inspiração vem de três fatores: a clareza da visão, a coragem da convicção e a habilidade em comunicar os dois primeiros de forma clara. Se você consegue estabelecer a cultura e o senso de proposta corretos e motivar os funcionários para perseguir a visão e a missão da empresa, o resultado será positivo.

Fonte: Época Negócios