
Após aproximadamente dois meses do início do ano letivo para adolescentes da rede municipal e estadual de ensino, dois casos de agressões gravadas já foram registrados na Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude). As agressões ocorrem na saída das escolas e vêm se tornando cada vez mais comuns, conforme o delegado Bruno Urban.
“Esse tipo de situação normalmente ocorre entre meninas. Os meninos se entendem de outra forma. E em grande parte das vezes, a motivação é ciúmes de ex-namorados ou fofocas, que levam a indiretas em redes sociais, provocações e, posteriormente, à agressão”, explica o delegado da Deaij.
No dia 20 de fevereiro de 2017, por volta das 17h40, nas proximidades da Escola Estadual Dolor Ferreira de Andrade, no bairro Maria Aparecida Pedrossian –região leste de Campo Grande–, a agressão entre duas adolescentes de 12 e 14 anos foi filmada e divulgada nas redes sociais, até mesmo pela mãe da vítima. A confusão teria sido motivada por provocações e ciúmes. Vendo a situação, a mãe da vítima agrediu a adolescente que batia em sua filha.
Urban informou que as ameaças entre as duas envolvidas eram feitas via Facebook e por empurrões na escola. O diretor da instituição de ensino em que ambas estudavam estava ciente da situação de desavença entre as duas turmas, pois, segundo a mãe da vítima, ela teria ido diversas vezes na escola no decorrer de 2016 para conversar com as autoridades da escola sobre a situação.
“Nessas brigas, não há vítimas, as duas são autoras. As provocações, as ameaças são de ambos os lados”, contou.
O caso foi registrado na Deaij e a situação de a mãe da vítima ter agredido a adolescente está sendo investigada pela Depca (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente).
Segundo caso do ano ocorreu dia 2 de março, entre adolescentes de 14 anos
O segundo caso de 2017 ocorreu no dia 2 de março, por volta das 11h25 com duas adolescentes de 14 anos. As meninas trocaram socos e empurrões em frente da Escola Estadual Padre Mário Brandino, no Aero Rancho –sul da Capital. A vítima estudava nesse colégio, mas a agressora, que era da Escola Estadual Maestro Heitor Villa-Lobos, foi até lá motivada por ciúmes de um ex-namorado. A agressão foi filmada, e a Deaij teve acesso às imagens, que foram encaminhadas ao MPE (Ministério Público Estadual).
Bruno Urban informou que, em grande parte dos casos, as brigas são motivadas por fofoca.
Em outro caso, que ocorreu em agosto de 2016, no terminal Júlio de Castilho, meninas com uniforme de uma escola estadual brigavam, enquanto uma multidão de alunos acompanhava e parecia gostar.
No caso mais grave, que aconteceu em setembro de 2013, uma briga filmada na saída de uma escola resultou na morte da adolescente Luana Vieira Gregório, 15, que foi esfaqueada por uma menina.
Secretarias criam projetos para reduzir problemas
A Semed (Secretaria Municipal de Educação) informou que, pelo fato de as agressões sempre ocorrerem na parte externa das escolas, a responsabilidade por conter a ordem é da Guarda Civil Municipal e da Polícia Militar. Porém a Semed, em parceria com o Conselho Tutelar, TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) e a 27ª Promotoria de Justiça, conta com três projetos que auxiliam na redução da violência.
Um dos projetos é o ProCEVE (Programa de Conciliação para Prevenir a Evasão e a Violência Escolar), realizado em parceria com a 27ª Promotoria de Justiça. Já o Tribunal de Justiça auxilia com o programa Justiça Restaurativa na Escola. O projeto Escola que Protege é desenvolvido em instituições de ensino junto com o Conselho Tutelar.
A SED (Secretaria de Estado de Educação) alegou, por meio de nota, que “tem um olhar atento, tomando iniciativas de prevenção à violência e promovendo a cultura de paz”.
Dessa forma, a secretaria criou o CAP (Programa Cultura, Arte e Paz) destinado às escolas da rede estadual, com cinco eixos principais: Educação em Direitos Humanos; Prevenção e Combate à Violência; Prevenção de Acidentes e Cuidados com a Saúde; Prevenção Patrimonial Pública e Privada; e Sustentabilidade.
Em 2016, o CAP atendeu 54.374 estudantes, 2.390 profissionais da educação e 12.323 pais e responsáveis, em 72 escolas da Capital e 46 escolas do interior. O programa hoje atende a Capital e os municípios que abrangem a região da Grande Dourados. Em 2017 atenderá às cidades fronteiriças e à região do Bolsão.
Sobre a segurança no entorno das escolas, a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) revelou que está formando uma parceria com a Guarda Municipal. (VR)
Escola onde menina morreu conseguiu diminuir violência
A Escola Estadual José Ferreira Barbosa, localizada na Vila Bordon –região oeste de Campo Grande–, onde Luana Vieira Gregório, 15, foi morta em setembro de 2013, conseguiu diminuir o número de agressões entre estundantes.
Segundo o diretor da instituição, Mariomar Rezende Diniz Junior, a escola aderiu a um regime de tolerância zero quanto às brigas na instituição e nos arredores.
Ele conta que, na época, uma parceria entre a SED (Secretaria de Estado de Educação) e a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) resultou no projeto Justiça Restaurativa, que contava com a presença de policiais militares. O Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas) também foi realizado durante aproximadamente dois anos após a morte de Luana. Mariomar, porém, reclamou que uma antiga parceria entre um Posto Policial no bairro Vila Popular, que é vizinho da Vila Bordon, não existe mais. Conforme o docente, na época foi feito um combinado de que era só entrar em contato com os policiais, que a ocorrência seria atendida, mas Diniz diz que o acordo foi esquecido.
Após questionada a respeito dessa situação, a Polícia Militar informou, por meio de nota, que a Vila Bordon é área de responsabilidade do 1º Batalhão da PM e, caso o diretor se interesse, ou outros membros da comunidade, podem procurar o comandante da unidade para tratar mais profundamente a respeito do assunto.
“Temas relacionados à violência são, na verdade, reflexos de outros problemas sociais. Contamos com a participação familiar, da escola e comunidade, de uma forma geral, em parceria com o Estado a fim de juntos contribuirmos para a resolução da situação. Por normativa da Sejusp [Secretária de Estado de Justiça e Segurança Pública], a PM é acionada por meio da central 190. O acionamento pelo telefone do pelotão do local pode ser feito, entretanto a viatura pode estar empenhada em outro atendimento. Reforça-se ainda que a Polícia Militar é acionada milhares de vezes diariamente e atende uma grande demanda de todas as gamas de crimes por toda a cidade”, explicou a Polícia Militar em sua nota. (VR).
Fonte: O Estado Online/Vitória Ribeiro