
O Fórum dos Caciques de Mato Grosso do Sul ocorreu no fim de semana em Sidrolândia –a 64 km de Campo Grande– e o foco do evento, que teve início na sexta-feira (10) e encerramento ontem (12), foi discutir sobre a demarcação de territórios indígenas, saúde indígena e esclarecer a população indígena sobre questões levantadas no evento, como a coordenação da Funai-MS (Fundação Nacional do Índio de Mato Grosso do Sul). O Fórum também teve a presença de Antônio Fernandes Costa, presidente da Funai nacional, e da deputada estadual Mara Caseiro (PTdoB).
Antônio Fernandes enfatizou que precisa de tempo para organizar a coordenação e o momento exige conversa, já que o presidente foi nomeado há aproximadamente um mês pelo presidente Michel Temer. Além disso, o presidente lembrou a dificuldade orçamentária encontrada, mas que planeja colocar as coordenações mais próximas das aldeias para evitar que os indígenas sejam obrigados a saír de suas moradias a fim de resolver problemas. Sobre a demarcação de terras, ele alegou que busca a paz.
“Para manter a paz alguém tem de ceder, não podemos fazer de Mato Grosso do Sul um Estado como Israel, onde há divisão de povos. Na última terça-feira [7] fizemos uma força-tarefa para levantar as questões de demarcações. Estou feliz com a organização do Fórum dos Caciques, mas precisamos juntar os deputados, o governador e todas as tribos. Sobre a coordenação da Funai-MS existe uma portaria que proíbe nomeação ou substituição da Funai até março, que estamos tentando revogar”, explica.
Presidente da Funai diz que indígenas não recebem ajuda sem coordenador
De acordo com o presidente do Fórum dos Caciques do Estado, Juscelino Custódio Mamete, a Fundação está há cerca de oito meses sem coordenador e a intenção é de que todos os indígenas tenham as dúvidas esclarecidas acerca de temas que lhes interessem.
Para Mamete, sem coordenação na Funai-MS, os indígenas não recebem a devida ajuda. “A maioria da comunidade mexe com agricultura; o suporte que precisamos da Funai é com relação à manutenção das máquinas, diesel, fornecer sementes. Mas, mais do que isso, é para dar suporte a fim de que não haja violência. Sempre que entramos em confronto com ruralistas, perdemos homens”, lamenta.
Irmão de indígena morto é nomeado para coordenação
Otoniel Gabriel, 36, irmão de Oziel Gabriel, que foi morto em uma operação da Polícia Federal, foi nomeado chefe de coordenação da Funai de Sidrolândia.
“Depois de dois estudos antropológicos confirmarem que a terra era nossa, que nossos ancestrais foram enterrados lá, fomos correr atrás do que era nosso comprovadamente. Eram 17 mil hectares, totalizando 31 propriedades. Havia aproximadamente 600 indígenas e cerca de 200 policiais. O juiz determinou que houvesse reintegração de posse em pleno feriado de Corpus Christi, e os policiais chegaram fortemente armados, com cães e não houve nenhum tipo de conversa. Parecia uma guerra. Após a ação, voltamos ao território e hoje 90% da área é nossa. Faltam apenas cinco fazendas. E hoje todo mundo já sabe que a bala que matou meu irmão veio de um PF”, afirma.
Otoniel se emocionou ao contar sobre o dia em que perdeu o irmão e falou sobre a importância de ter sido nomeado chefe de coordenação. “Essa nomeação representa uma vitória para mim, que a partir de agora vou poder ajudar o povo. Não no sentido de guerra e conflito, mas na unificação de todos. Há espaço para os indígenas e há espaço para produtor rural, não há motivo para brigar. Só estávamos reivindicando o que era nosso por direito. Não quero que ninguém passe pela situação de perder o irmão em confronto.” (VR)
Fonte:O Estado/Vitória Ribeiro