Filme gravado em Campo Grande explora o cotidiano de um mototaxista
Por Redação Publicado 24 de janeiro de 2017 às 15:50

Diversos pontos da cidade viraram set de filmagem para a gravação do curta-metragem “De Tanto Olhar o Céu Gastei meus Olhos”, dirigido pela cineasta curitibana Nathália Tereza. De locais abertos, como a Feira Central e as ruas da Vila Jacy, a cidade se tornou cenário, por onde passaram atores e equipe de produção de vários lugares do País.

Um mototaxista, figura fácil no trânsito de Campo Grande, é o protagonista na trama. Seu nome é Wagner, um jovem que mora com a irmã e o sobrinho. Vive dias corriqueiros no trabalho, levando gente da periferia aos bairros da classe alta da Capital, até receber uma carta inesperada do pai ausente, endereçada à irmã e a ele. No desenrolar dos acontecimentos, os dois acabam fazendo escolhas diferentes quanto à aparição do pai.

A partir desse conflito, o enredo chama a atenção para a vida dos filhos que têm pai ausente e das mães que criam filhos sozinhas. De tão comum, o roteiro da ficção é semelhante a muitos dramas reais, mas o especial está em seu ponto central: a relação das pessoas com os lugares em que vivem e por onde passam.

Enxergar e valorizar essa conexão é essencial para Nathália. “Todos nós somos ‘pessoas-lugares’, estamos no mundo e interagimos com o mundo. Quando produzo, penso nos personagens dentro do espaço, acho importante. Isso acaba revelando um certo isolamento afetivo das pessoas também”.

MS-PR

Roteirista e diretora de outros cinco curtas, Nathália é de Campo Grande. Mudou-se para o Paraná para cursar Cinema e Vídeo e, depois de formada, investiu em outras formações na área.

Voltou-se para cá no trabalho por notar que Mato Grosso do Sul é um pedaço do Brasil ainda pouco presente no cinema nacional. E ela aposta que acertou na escolha, porque o Estado “tende a ser cada vez mais filmado, mais pensado porque é um lugar que embarca muito a complexidade de pessoas, de seus próprios lugares, da fronteira e de culturas mescladas”.

No novo filme, procura abordar ainda a presença marginal do funk na cidade e as peculiaridades da profissão de mototaxista. “Flertamos com essa cena do funk e com os motoqueiros da cidade. O personagem cruza os espaços e através da moto, e aí ele expressa muito o sentimento dele”, adianta a diretora.

É a segunda vez que Nathália se inspira nos espaços daqui para desenvolver um trabalho como diretora e roteirista. A primeira produção resultou em “A Outra Margem” (2015), curta em que também explora a relação cidade-personagem e pelo qual recebeu premiações em festivais de cinema de Vitória (ES), Recife (PE), Brasília e do Canal Curta!. Elogiado pela crítica, traz nas primeiras cenas o estacionamento do Parque das Nações Indígenas como ponto de partida de um enredo que transita entre o romântico, o brega e o existencial.

MISTURA

“De Tanto Olhar o Céu Gastei meus Olhos” foi selecionado pela Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, em 2016, para receber investimentos do Fundo de Investimento Cultural (FIC). O valor disponibilizado é de R$ 60 mil.

A produtora contratada para realizá-lo é a Ponte Produções, de Recife (PE). Suas sócias, Thaís Vidal e Dora Amorim, conheceram Nathália durante a Jornada Internacional de Cinema, festival da Capital pernambucana. Dali, surgiu o convite para trabalharem juntas.

Thaís detalha que equipe e elenco são formados por 33 pessoas, que vieram de várias partes do Brasil. “Tem gente do Paraná, do Rio de Janeiro, Recife e vários atores de Campo Grande também”.

Todos estão vivendo a experiência em Campo Grande com bastante imersão, segundo a empresária. “Estamos achando incrível gravar aqui e conhecer a realidade das pessoas. Estamos encantados também com o céu daqui, que tem uma relação com o curta”.

O protagonista do curta é o pernambucano Edilson Silva. Também fazem parte do elenco os atores Maria Eny, Frederico José, Felipe Soares, Beth Terras, João Alisson e Zezé Duarte.

Além de ser pano de fundo das filmagens, Campo Grande ganha com o potencial que a produção em cinema tem de movimentar a economia, como destaca Vidal. “Contratamos parte da equipe aqui e tem toda a questão de locação, de transporte e alimentação que envolve o trabalho e acaba colaborando com isso”.

As imagens começaram a ser gravadas na terça-feira (17) e se encerram hoje. A previsão é de que a estreia aconteça em algum festival do País e em um cinema de Campo Grande, ainda no fim deste ano.

Fonte: Correio do Estado