Ex-jogadora luta contra câncer após 14 anos de exposição ao sol: “Se cuidem”
Por Redação Publicado 18 de fevereiro de 2017 às 11:13

Um sinal diferente em cima do nariz fez a ex-jogadora Michelle Peters procurar um médico. Conhecida como Chell no mundo do vôlei de praia, a brasiliense de 38 anos levou um susto quando teve o diagnóstico. A mancha, que crescia gradativamente com o passar do tempo, era um câncer de pele. Semanas depois, diversas outras manchas apareceram no corpo da ex-jogadora, que encerrou a carreira em 2014. Chell iniciava ali a sua luta contra um dos mais comuns tipos de câncer, o qual pode levar o indivíduo à morte se não tratado. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, foram 200 mil novos casos no país em 2016. Recuperando-se bem do problema de saúde, a ex-atleta faz um alerta aos mais novos.

– Foram 14 anos de exposição solar, e a doença só começou a aparecer dois anos depois de eu encerrar a carreira, quando a minha pele já estava muito menos queimada. No vôlei de praia, nós jogadores costumamos ser alertados sobre a proteção solar, mas em dias de competição é muita tensão, então muitas vezes você não repõe adequadamente essa proteção. Foi o que aconteceu comigo. Eu passava protetor, mas vez ou outra não renovava. Isso ficando cerca de 6h exposta ao sol. Estou pagando um preço caro e faço um alerta para que todos se cuidem e não esqueçam de se proteger – disse Chell.

Michelle já removeu boa parte dos sinais cancerígenos que apareceram pelo corpo. As próximas manchas a serem retiradas estão numa das pernas da ex-atleta. As remoções têm sido feitas em consultório sem necessidade de cirurgia. O câncer de Chell é do tipo carcinoma basocelular, o mais frequente e menos grave. Há também o carcinoma espinocelular (sinais com a forma de um nó e que formam uma casquinha) e o melanoma maligno (pinta escura que vai se deformando ao longo do tempo), este último o mais grave e que pode ser fatal se não for detectado a tempo.

Michelle Peters Chell e Andrezza  vôlei de praia (Foto: Reprodução Facebook)Chell (à esq.) e sua antiga parceira Andrezza  durante competição (Foto: Reprodução Facebook)

– Não gosto nem de lembrar o susto que tive quando vi o meu primeiro exame dizendo que estava com câncer. É uma palavra muito forte. Hoje estou enfrentando bem o problema, mas tive que mudar completamente o meu estilo de vida. Praticamente não pego sol mais e, quando saio de casa, uso filtro solar, óculos e boné. É muito ruim passar por isso – disse Chell, que é casada, mãe de um filho, mora em Brasília e ainda perdeu um bebê recentemente num aborto espontâneo sem relação qualquer com o câncer de pele.

jogadores demonstram preocupação com o problema
O relato dos problemas de saúde de Chell tomaram as redes sociais nos últimos dias, levando os atletas em atividade a atentarem mais para os cuidados com a pele. Medalha de prata na Rio 2016, quando atuava ao lado de Ágatha, Bárbara Seixas revelou que costuma ir ao dermatologista frequentemente para avaliar a pele. Apesar dos cuidados, a atleta, que joga atualmente com Fernanda Berti, demonstra bastante preocupação com o tema.

– Proteção solar é igual a roupa para a gente. Temos que nos proteger bastante todos os dias, em competição ou treinamento. Costumo ir frequentemente ao dermatologista observar isso e ver se tenho alguma mancha, alguma coisa suspeita, porque eu me preocupo bastante quanto a isso – afirmou Bárbara.

Bárbara Seixas comemora a vitória brasileira em Olsztyn (Foto: Divulgação/FIVB)A medalhista olímpica Bárbara Seixas possui cuidados redobrados com a pele (Foto: Divulgação/FIVB)

Opinião semelhante tem Saymon. Campeão do Major Series de Fort Laudardale, o parceiro de Álvaro Filho toma cuidados redobrados com a pele, aplicando protetor solar no corpo duas ou três vezes por dia.

– Felizmente nunca tive problema de pele. O sol é o nosso pior inimigo, mesmo porque a gente fica mais de 5h por dia treinando na praia. Passo muito protetor solar, hidratante e faço limpeza de pele em casa – revelou.

Campeã do Circuito Brasileiro 2016/17 ao lado de Larissa, nesta sexta, em Maceió, Talita contou que a dupla costuma treinar em horários de menor incidência de raios ultravioleta – até às 10h e após às 16h. No entanto, nem sempre é possível se preservar do sol mais nocivo à pele.

– A exposição que a gente tem no sol é muito grande, vou ao dermatologista todos os anos, mas esse negócio é muito ruim, porque mesmo se cuidando a gente ainda corre um risco. Fico sempre atenta para ver se tem alguma pinta no corpo, e o caso da Chell serviu de alerta – disse.

lábios também devem ser protegidos
Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, o médico Flávio Luz ressaltou que a situação dos atletas que praticam suas modalidades expostos ao sol é mais complicada do que as pessoas que se expõem à radiação solar por outros motivos. Ele lembrou que a proteção solar considerada adequada pode atrapalhar o desempenho dos desportistas, principalmente jogadores de vôlei de praia, que geralmente estão mais concentrados na competição.

– Como o atleta tem que estar focado em sua performance, sugiro que os jogadores de vôlei de praia sempre tenham uma pessoa para aplicar protetor. Na testa, como é uma área de muito suor, o ideal é proteger com um boné. Atento também para a importância da proteção aos lábios. Atletas que recebem muita radiação solar devem usar uma pasta labial. O câncer de pele nos lábios é muito agressivo – frisou.

alison, bruno schmidt, vôlei de praia (Foto: Paulo Frank/CBV)Pessoas de pele clara, como Bruno Schmidt e Alison são os que correm mais risco (Foto: Paulo Frank/CBV)

Flávio Luiz explica que quanto mais clara a pele da pessoa, mais sujeita ela está ao câncer de pele. Tanto é que a incidência maior da doença no Brasil está nos estados da Região Sul, onde a população é predominantemente branca e de olhos claros.

– As pessoas mulatas e negras não estão livres do câncer de pele, mas estão mais protegidas. A melanina (proteína que determina o tom de pele do indivíduo) age como se fosse um protetor solar natural – afirmou o médico, lembrando que o atleta deve procurar um dermatologista para saber qual grau de proteção solar deve usar.

Para os atletas que apresentaram os primeiros sintomas de câncer de pele, o especialista dá duas notícias boas. Os sinais cancerígenos quase sempre podem ser removidos em consultórios ou em cirurgias simples, e aqueles desportistas que passam pelo problema não precisam abandonar a carreira.

– O atleta de vôlei de praia que passar pelo problema pode seguir com a sua carreira. Ele só precisa remover as manchas e passar a ter cuidado redobrado com a exposição ao sol – finalizou.

Fonte: Globoesporte.com/Por Flávio Dilascio Rio de Janeiro