
O ex-governador André Puccinelli (PMDB) e seu filho, advogado André Puccinelli Júnior, permanecerão presos por tempo indeterminado ou até que as suas defesas consigam os habeas corpus – o que não deve demorar a acontecer. O político, e tido como pré-candidato ao governo do Estado no pleito do próximo ano, foi o principal alvo da 5º fase da Operação Lama Asfáltica, batizada de ‘Papiros de Lama’, e que foi desencadeada na manhã desta terça-feira (14) pela força tarefa formada pela Polícia Federal, Receita Federal e Controladoria-Geral da União.
De acordo com o delegado da Polícia Federal, Cleo Mazzoti, durante coletiva de imprensa concedida após o encerramento da operação, o ex-governador e todo o grupo que ele comandava teria recebido, em espécie, recursos na ordem de R$ 20 milhões oriundos de propina paga pelo frigorifico JBS, empresa dos irmãos Batista que são investigados na Operação Lava Jato. O valor exato da propina ainda será levantado numa auditoria.
A operação policial de hoje é fruto da delação premiada do operador Ivanildo da Cunha Miranda. Ele procurou a PF no mês de Agosto e relatou, entre outras coisas, que teria entregado boa parte da propina diretamente para o ex-governador. Ivanildo recebia valores da JBS e ficava com uma parte, entre R$ 60 mil a R$ 80 mil. “Em 2010, acima de R$ 200 mil”, comentou o delegado. “Na delação, ele [Ivanildo] disse que recebia os valores da propina da JBS e entregava ao senhor Puccinelli em espécie ou em conta que Puccinelli indicava”, complementa Mazzoti.
A PF então investigou as informações do depoimento e, somando com as provas coletadas nas outras quatro fases da Lama Asfáltica, ficou comprovado desvios na ordem de R$ 85 milhões somente no esquema apurado na Papiros de Lama. Em toda a Operação Lama Asfáltica o dinheiro desviado de recursos públicos ultrapassa a marca de R$ 235 milhões.
Somente na campanha para o governo estadual de 2010, Puccinelli teria recebido uma propina no valor de R$ 20 milhões da JBS. “Hoje, nas buscas, temos alguns documentos que dão o mesmo caminho. A investigação não sai da linha que está sendo levada desde o início”, disse. O delegado contou que o dinheiro da JBS era trazido de várias formas e em grandes quantias dentro de mochilas e caixas de papelão.
A participação da Águas Guariroba
Conforme o delegado, durante a 4ª fase da Lama Asfáltica, a investigação constatou a simulação de um contrato de esgoto firmado entre as Águas Guariroba e a Proteco, que pertence ao empreiteiro João Amorim. A obra aconteceria em Dourados, no entanto, a concessionária não mantém concessão naquela cidade. O esquema apontou que a empreiteira comprou uma estação de saneamento lá, por R$ 3,5 milhões, e a revendeu, no dia seguinte, para a Águas Guariroba no valor de R$ 4,5 milhões.
Em outro esquema descoberto pela força tarefa, a Águas Guariroba contratou serviço de assessoria jurídica fictício do escritório de advocacia de André Puccinelli Junior. As investigações comprovaram ainda que houve aquisições de livros jurídicos, por parte da Águas, e serviços de consultoria advocatícia com ‘fortes indícios de que não foram realmente prestados’. “Quase R$ 5 milhões foram transferidos da Águas para o grupo do ex-governador de 2011 a 2017”, revelou.
Ainda segundo ele, a Papiros de Lama deve gerar novas operações. A empresa de Puccinelli Júnior, a Ícone, recebia dinheiro de propina da JBS e da Águas Guariroba, por meio da aquisição de grande quantidade de livros vendidos, sem utilização pelo comprador, e por meio dos direitos autorais pagos ao filho do ex-governador.
O escritório de advocacia ligado a Puccinelli Júnior ainda recebe grandes somas, cerca de R$ 1 milhão, da Águas Guariroba. Para a PF, é prova de que o processo de lavagem de dinheiro está em andamento. O total da propina ainda está sendo apurado, bem como o valor que Águas Guariroba repassou ao grupo.
Operação Papiros de Lama
O peemedebista e o seu filho, advogado André Puccinelli Júnior, foram alvos de um mandado de prisão preventiva. A operação cumpriu ainda seis mandados de condução coercitiva, entre os nomes estão André Luiz Cance, João Maurício Cance, João Baird e João Alberto Krampe Amorim dos Santos. Os advogados Jodascil Gonçalves Lopes e João Paulo Calves foram alvos de mandado de prisão temporária.
A ação cumpriu, ao todo, dois mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária, seis de condução coercitiva, quando a pessoa é levada para depoimento, e 24 de busca e apreensão, além do sequestro no valor de R$ 160 milhões das contas bancárias de pessoas físicas e empresas investigadas. Os mandados foram cumpridos em Campo Grande, Nioaque, Aquidauana e São Paulo (SP).