Entrevista: ‘O poder público é indutor do progresso’, diz síndica da antiga rodoviária
Por Ariel Moreira Publicado 12 de abril de 2017 às 10:48
Foto: Redação

O Terminal Rodoviário Heitor Eduardo Laburu mais conhecido como “antiga rodoviária”, está esquecido. É um “elefante branco” em Campo Grande para o Poder Público. Nenhum órgão quer assumir a responsabilidade de revitalizar o prédio e torná-lo ativo. Antes no local de 25 mil m² havia grande fluxo de pessoas, cinema, comércio, relações sociais, enfim vida.

Em janeiro de 2010, o local perdeu charme e popularidade após mudança dos serviços rodoviários para um novo espaço na Avenida Gury Marques, no bairro Universitário.

Em 2017, os arredores da antiga rodoviária passou a ser formado por baixo fluxo de transeuntes, dando margem à criminalidade e presença maciça de usuários de drogas e local de ampla prostituição. Ainda assim resistem comerciantes que insistem em suas atividades como possibilidade de renda e até de preservação da tradição na esperança de que voltem os tempos prósperos e o glamour do antigo espaço.

O prefeito Marquinhos Trad (PSD) declarou que existe a possibilidade de transferir a Secretaria de Segurança Pública e a Fundação de Cultura para o local, porém segundo informações da assessoria da Prefeitura, é uma análise sem previsão de efetiva revitalização do espaço.

Atualmente a Prefeitura da Capital é responsável, naquele local, pela área dos “dogueiros” e do espaço onde estava instalada a Guarda Civil Municipal.

Antiga rodoviária em Campo Grande

O Ultramaxnews conversou com Rosane Nely Lima, síndica administrativa do prédio da antiga rodoviária há três anos e comerciante no local há 26 anos.

Confira abaixo a entrevista completa:

Ultramaxnews: Atualmente quantos comerciantes estão ativos no local?

Temos uma média de 58 comércios, mas ainda temos muita procura devdo à localização, que é área central. O Bairro Amambaí liga todos os bairros de Campo Grande, então essa facilidade faz com que as pessoas nos procurem, mas temos falta de credibilidade no local devido ao entorno, em função do problema social muito grande, que são usuários de drogas e moradores de rua. 

Ultramaxnews: Esta situação social foi devido à transferência do terminal rodoviário para outro espaço?

Não. Sempre houve essa situação. Todas os terminais rodoviários têm problemas sociais em seu entorno, porém, anteriormente, havia um grande fluxo de pessoas. O problema social não era tão visível como é hoje.

Atualmente temos 236 salas, muitas delas desocupadas. Na época de maior afluxo de pessoas tínhamos por volta de 200 comércios ativos por onde transitavam aproximadamente cinco mil pessoas por dia, e esse problema passava despercebido.

Hoje temos menor fluxo de pessoas. Até no entorno do prédio muitos comércios fecharam, pelo fato de serem comércios específicos para atender à população da antiga rodoviária. Eles também foram mudando.

Deveria haver uma política para chamarem esses proprietários de prédios vazios, para que aluguem ou vendam e tomem providências para não deixar o imóvel abandonado, pois esses imóveis abandonados se tornam moradias de usuários e moradores de rua.

Ultramaxnews: Qual o motivo do descaso do Poder Público na região?

Na minha visão faltou vontade política de resolver a situação dos proprietários, porque não adianta os policiais irem a todo momento no local, chega a ser perda de tempo. As rondas são constantes, principalmente da Guarda Civil Municipal que realiza o trabalho de prevenção. A Guarda tem uma parceria com o condomínio, nos ajuda imensamente, só temos a agradecer muito, não acontecem situações mais sérias devidos a atuação deles, que cuidam da área pública mas, por determinação própria, acabam por tomar conta do entorno todo. A Polícia Militar também realiza rondas, mas prisões só podem ser feitas se tiver um Boletim de Ocorrência (B.O.), se houver um crime, e eles não cometem crimes. Por isso que eu digo que não é um problema de segurança pública e sim um problema social.

Ultramaxnews: A população tem muito preconceito com a região?

Com certeza, até comigo, quando eu chego em uma reunião, muitos falam ela é da antiga rodoviária? Todo mundo já olha de uma maneira diferente, isso já aconteceu diversas vezes e não é só pela população, esse preconceito vem também pelos funcionários públicos mesmo, de pessoas que têm por dever atender ao povo.

O poder público é indutor do progresso, a iniciativa tem que partir deles, o prédio é público/privado mas eu não consigo desenvolver um projeto de revitalização para o prédio, somente no prédio, precisamos de uma junção.

Ultramaxnews: A Prefeitura estuda transferir duas secretarias para a antiga rodoviária, o prédio possui capacidade para acolhimento?

Sim. Nós já sabemos como direcionar os comércios dentro do prédio para atender esses funcionários públicos. Temos um projeto de levar o Detran, para que a Prefeitura faça a cedência da área dela para o Governo do Estado, assim direcionando o comércio como por exemplo ter um despachando, locais com xerox, pague fácil, café expresso, estruturas que atendam esse público.

Ultramaxnews: Quais são suas sugestões para projetos de inclusão na antiga rodoviária.

Primeiro passo: uma junção de fatores e disposições.

Segundo: os projetos devem ser voltados ao bairro, não somente voltados ao prédio. O prédio é o coração do bairro, é um empreendimento de 25 mil metros quadrados, que possui um apelo histórico muito grande.

Sou, também, presidente da Associação de Moradores e Amigos do bairro Amambaí, onde desenvolvemos um projeto com várias propostas, sendo eu uma das principais é a revitalização do bairro com apelo turístico, porque temos 70% da rede hoteleira nas proximidades. Acredito que deveria haver uma subsecretaria de turismo para atender os turistas no prédio.

Recentemente tivemos um concurso público em Campo Grande, para o qual compareceram aproximadamente dez mil pessoas de outras cidades, lotando os os hotéis de preços mais acessíveis que estão em nossa região.

A visão que eles vão levar é a que eles viram no bairro, os problemas sociais, os locais de lanches totalmente inadequados, então não temos estrutura para atender as pessoas.

Outra posição é buscar transformar parte da antiga rodoviária em “lanchódromo”, onde a Prefeitura dá concessão individual para cada um dos 15 traillers, edita as regras, desenvolve o projeto da praça de alimentação dentro das normas legais, da vigilância sanitária, da Semadur, de todas as secretarias e quem paga este investimento são os lancheiros, porque é um investimento para eles obeterem mais lucros.

Vai ficar uma segunda feirona só que específica para lanches, também podemos realizar atrações culturais a cada 15 dias e futuramente teremos um ponto turístico ali. Precisamos valorizar isso tudo que temos no bairro, para as pessoas notarem esse potencial do bairro, precisamos realizar um projeto de revitalização incluindo o bairro todo.

Joana Lima