Cunha informou a banco patrimônio de US$ 16 mi em 2011, diz documento
Por Redação Publicado 19 de outubro de 2015 às 14:01

Em 2010, ele afirmou à Justiça Eleitoral que tinha patrimônio de R$ 1,4 mi.
Na eleição de 2014, presidente da Câmara declarou patrimônio de R$ 1,6 mi.

Apesar de ter declarado à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 1,4 milhão na eleição de 2010, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), informou no ano seguinte ao banco Merryll Lynch (atual Julius Baer), na Suíça, que era dono de um patrimônio líquido de US$ 16 milhões (equivalentes a R$ 61,9 milhões), revela documento interno da instituição financeira encaminhado à Procuradoria Geral da República (PGR).

A TV Globo teve acesso com exclusividade à documentação encaminhada pelo Ministério Público suíço ao Brasil. Os 35 arquivos enviados pela Suíça também mostram a reprodução de documentos pessoais do peemedebista e de familiares, como passaporte, visto norte-americano, nome completo, data de nascimento e endereço em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

As investigações do Ministério Público da Suíça indicam que Eduardo Cunha manteve quatro contas bancárias no país europeu, abertas entre 2007 e 2008. Dessas, duas teriam sido fechadas pelo deputado no ano passado, em abril e maio. As outras duas contas, com saldo de 2,4 milhões de francos suíços (cerca de US$ 2,4 milhões ou R$ 9,3 milhões), foram bloqueadas pela Justiça suíça.

No total, as contas de Cunha na Suíça, indicam as investigações, receberam nos últimos anos depósitos de US$ 4.831.711,44 e 1.311.700 francos suíços, equivalentes a cerca de R$ 23,8 milhões, segundo a cotação desta sexta-feira (16).

Em nota divulgada na tarde desta sexta, o presidente da Câmara voltou a negar ter recebido “qualquer vantagem de qualquer natureza” e disse reiterar o depoimento dado à CPI da Petrobras, no qual negou ter contas no exterior. Na nota, de 15 parágrafos, assinada pela assessoria da presidência da Câmara, ele se diz alvo de “perseguição” do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Na declaração de bens enviada à Justiça Eleitoral para as eleições do ano passado (veja a imagem acima), Cunha declarou ter um patrimônio de R$ 1.649.226,10. Ele disse ser dono de um Toyota Corolla, do ano de 2007, avaliado em R$ 60 mil; de uma sala comercial, avaliada em R$ 335 mil; de cotas nas empresas C3 Participações Artísticas e Jornalísticas (R$ 840 mil) e Jesus.com Serviços de Promoções, Propaganda e e Atividades de Rádio (R$ 47,5 mil).

Em 2014, o presidente da Câmara também declarou à Justiça Eleitoral possuir 50% de um apartamento (R$ 175 mil), havido por herança; plano de previdência no Banco Bradesco e R$ 70 mil como parte de herança recebida por ele. Na declaração, Cunha diz ter apenas uma conta em seu nome, no Banco Itaú.

Elaborado por uma funcionária do antigo Merryll Lynch em 25 de julho de 2011, o parecer de análise de risco e perfil de Eduardo Cunha o classifica como um cliente com “perfil agressivo” e com interesse em “crescimento patrimonial”.

À época, a analista de risco relatou no memorando que conhecia Cunha havia seis anos, sendo que, destocou a funcionária, ele era cliente do banco desde 1991. Segundo ela, o patrimônio de Cunha foi construído com receitas obtidas por meio de seu salário de deputado federal, investimentos no mercado imobiliário e “um grande portfólio de ações” que ele vinha “negociando regularmente ao longo dos últimos 20 anos”.

O relatório do banco suíço destacou ainda que, em 2011, Eduardo Cunha mantinha um saldo de US$ 5 milhões nas contas que ele mantinha no banco, sendo que, observou a analista de risco, as principais contas eram às vinculadas às offshores Orion SP e a Triumph SP.

Os documentos enviados pelas autoridades suíças ao Brasil apontam que o presidente da Câmara manteve quatro contas bancárias no país europeu, abertas entre 2007 e 2008. Dessas, duas teriam sido fechadas pelo deputado no ano passado, em abril e maio.

As outras duas contas, com saldo de 2,4 milhões de francos suíços (cerca de US$ 2,4 milhões ou R$ 9,3 milhões), foram bloqueadas pela Justiça suíça.

Investimento imobiliário
A funcionária do Merryll Lynch também destacou em seu parecer de análise de risco que Eduardo Cunha fez “uma significativa quantia de dinheiro” investindo em imóveis no bairro da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro.

No relatório, a analista afirma que Cunha chegou a ganhar US$ 2 milhões com o mercado imobiliário. De acordo com o documento, o presidente da Câmara comprava imóveis em construção e o revendia assim que estavam prontos.

O relatório explica que as propriedades da região tiveram uma valorização significativa na década de 2000. A analista observou ainda que ele é o dono da “grande casa” que ele vive com a mulher e as filhas em um condomínio na Barra da Tijuca.

“Eu o visitei na casa dele, com valor estimado atualmente entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões”, enfatizou a analista.

Além dos investimentos imobiliários, a funcionária do banco suíço relatou aos superiores que Eduardo Cunha estava desenvolvendo um negócio no setor de energia, porém, advertiu, a iniciativa, na ocasião, estava em estágio embrionário.

“Estou confiante de que avaliei com precisão o patrimônio do cliente com base em minhas conversas e encontros com ele”, concluiu a analista de risco.

‘Muito bem-sucedido’
Em outro relatório de avaliação de risco elaborado em novembro de 2012, a mesma funcionária do Merryll Lynch relatou detalhes sobre a experiência profissional e a origem do patrimônio do presidente da Câmara.

Desta vez, ela ressaltou aos superiores que Eduardo Cunha é economista desde 1980, atuou como economista-chefe na filial brasileira da multinacional Xerox e presidiu a Telerj entre 1991 e 1993.

De acordo com a analista de risco, o peemedebista foi “muito bem-sucedido” no comando da extinta estatal de telefonia do Rio. A funcionária desta ainda que, no cargo, ele “introduziu a telefonia celular” no Brasil.

Além disso, o memorando ressalta que ele tem propriedades no Rio e em São Paulo. Mais uma vez, a funcionária destacou que boa parte do patrimônio de Cunha foi obtido por meio de investimentos que ele fez na Barra da Tijuca na época em que o bairro era apenas um subúrbio da capital fluminense.

“Hoje, a Barra da Tijuca é uma área residencial e comercial chique, que continua crescendo. Ele [Cunha] tem rendimentos de seu salário, de seus investimentos locais [no Brasil] e dos aluguéis de imóveis”, escreveu a funcionária do Marryll Lynch.

Carros de luxo
No pedido enviado ao Supremo Tribunal Federal para solicitar a abertura de um novo inquérito para investigar Cunha, a Procuradoria Geral da República aponta que o presidente da Câmara usa uma frota de carros de luxo no Rio de Janeiro avaliada em quase R$ 1 milhão. Entre esses carros estão modelos como Porsche Cayenne, Touareg, Corolla, Edge, Tucson e Pajero Sport.

No documento, a procuradoria escreve que alguns dos veículos usados por Cunha estão registrados no nome da mulher dele, Cláudia Cruz, e no de empresas do casal. A PGR ressalta que é “interessante notar” que, em uma conta aberta na Suíça, a mulher do deputado “se autointitulava dona-de-casa”. A PGR investiga se a origem do dinheiro usado para a compra dos veículos é legal.

A PGR também afirma que há “indícios suficientes” de que as contas no exterior atribuídas a Eduardo Cunha são “produto de crime”. A PGR pediu o bloqueio e o sequestro das contas.

“Atualmente, o patrimônio declarado dele [Cunha] é de R$ 1,6 milhão, conforme suas declarações de patrimônio à Justiça Eleitoral. Em 2002, o valor declarado era de R$ 525.768,00. Para o procurador-geral em exercício, há indícios suficientes de que as contas no exterior não foram declaradas e, ao menos em relação a Eduardo Cunha, são produto de crime”, diz nota divulgada nesta sexta pela PGR.

Fonte: G1