SÃO PAULO – Pressionado pelo conturbado quadro político e pela retração econômica do país, o dólar comercial tem seu sexto dia consecutivo de alta e é vendido a R$ 3,5190 (às 10h52m), uma alta de 0,83%, nesta quinta-feira. A divisa abriu os negócios a R$ 3,50 e já chegou à cotação máxima de R$ 3,533, a primeira vez nos últimos 12 anos. A mínima atingida até agora é de R$ 3,5040.
Já o principal índice negociado na Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa apresentava recuo de 0,68%, às 10h52, a 49.947,13 pontos. O Ibovespa iniciou o pregão a 50.270,64.
Ontem, o dólar fechou em R$ 3,488 na compra e a R$ 3,490 na venda, valorização de 0,72% ante a moeda brasileira. Esse valor não era atingido no fechamento desde 11 de março de 2003.
Nesta quarta-feira, o Banco Central anunciou que o fluxo cambial ficou negativo em US$ 3,9 bilhões em julho. Já a posição vendida dos bancos, que é quando essas instituições apostam que a cotação do dólar vai subir, passou de US$ 17,5 bilhões em junho para R$ 21,7 bilhões no mês passado.
A pressão sobre o câmbio deve continuar no curto prazo, já que não a expectativa de solução para o atrito político entre governo e Congresso Nacional. Esse ambiente conturbado pode fazer com que as medidas do ajuste fiscal não sejam aprovadas, comprometendo o controle das contas públicas, item avaliado pelas agências de classificação de risco.
Se for rebaixada pela Moody’s, o Brasil mantém o grau de investimento, mas, assim como na Standard & Poor’s, cresce o risco de perda do grau de investimento, já que estará apenas uma nota acima do nível especulativo e com perspectiva (viés) negativa. As notas das agências internacionais de risco balizam as decisões de investimentos estrangeiros.
Além disso, é esperado para esse ano o aumento da taxa de juros por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o que deve retirar recursos de países emergentes, ou seja, mais um fator para a alta das cotações das moedas.
AÇÕES DE BANCOS CAEM
Para o analista de câmbio da Corretora TOV, Fernando Bergallo, a valorização da moeda americana frente ao real poderia estar maior se o Fed indicasse quando vai elevar os juros.
— Essa situação é reflexo de duas crises: política e econômica. O mercado já se antecipa à perda do grau de investimento do Brasil pela agência Standard & Poor’s e se torna comprador de dólar. Entretanto, quando se olha pra frente, há ainda espaço para a cotação da divisa subir mais, caso o Fed cumpra a decisão de subir os juros — disse Bergallo.
O Departamento de Trabalho dos Estados Unidos informou nesta quinta-feira que o número de pedidos de auxílio-desemprego subiu 3 mil, para 270 mil, abaixo dos 273 mil esperados por especialistas. Foi a 22ª semana em que o total de pedidos ficou abaixo de 300 mil, o que indica o fortalecimento do mercado de trabalho americano e aumenta as perspectivas de elevação dos juros americanos.
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A complicada situação política e econômica também é a causa da qdo Ibovespa até agora. Segundo o operador da Corretora Renascença, Luiz Roberto Monteiro, a má avaliação do governo Dilma, que chegou a 71%, segundo o Datafolha, aliada ao racha na base do governo na Câmara, contamina ainda mais o mercado hoje.
— O cenário político contamina o econômico e o investidor fica cada vez mais receoso em apostar nos papéis brasileiros. Não acredito que essa situação se reverta até o fim do dia — disse Monteiro.
Na Bolsa brasileira hoje, às 10h52m, os papéis preferenciais do Itaú recuavam 0,65%, sendo cotados a R$ 28,96. As preferenciais do Bradesco eram vendidas a R$ 25,90, queda de 0,19%. Já a PN da Vale foi influenciada também pela queda do preço do minério na China e, com isso, a retração era de 0,64%, chegando a R$ 15,29. As preferenciais da Petrobras foram impactadas também pelo cenário externo, e chegaram a ser cotadas a R$ 9,95, queda de 0,59%.
Fonte: O Globo