Centro de diagnóstico do câncer na Capital poderia salvar vidas, afirma especialista
Por André Farinha Publicado 14 de novembro de 2017 às 09:56
Dra. Ana Sheila Campos, bióloga especializada em biologia celular e molecular

Com certeza você já teve algum familiar ou conhecido que sofreu com o câncer. A doença está entre as que mais matam no Brasil e no mundo. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que 14 milhões de pessoas desenvolvem o câncer todos os anos, deste total, 8,8 milhões morrem por conta da doença.

No país, estes números poderiam ser menores se em todas as capitais, como Campo Grande, houvesse um centro de diagnóstico, identificação e monitoramento do câncer. De acordo com a Drª. Ana Sheila Campos, bióloga especializada em biologia celular e molecular do câncer e que trabalha no laboratório de citometria de fluxo do Hemorio, no Rio de Janeiro, o diagnóstico precoce da doença contribui, e muito, para o tratamento e a consequente cura da doença.

A especialista, que no início deste mês esteve na Capital passando suas férias com a família, apresentou ao jornal O Liberdade um projeto, seu em particular, que pretende criar em Campo Grande um centro de diagnóstico e caracterização molecular do câncer. Durante a sua estádia, ela conversou com empresários, diretores de clínicas particulares e de hospitais públicos para tratar do assunto. Nos diálogos que protagonizou ouviu de todos a mesma resposta: “existe sim a necessidade de ter na cidade um laboratório especializado em câncer”.

“O diagnóstico e a identificação de alterações genéticas são os primeiros passos para um bom tratamento e o monitoramento da doença. O projeto de criação do centro ainda está em desenvolvimento, mas é uma necessidade importante e que precisa ser discutida. O meu sonho é ver em Campo Grande um centro de referência em diagnóstico de câncer para a região Centro Oeste”, contou a doutora Ana Sheila Campos.

Segundo ela, hoje os grandes centros do país estão sobrecarregados e, com isso, alguns diagnósticos ficam prejudicados, pois o resultado dos exames muita das vezes acaba demorando (muito) para chegar ao médico solicitante. “É uma logística frequente. O material é recolhido do paciente e precisa ir para fora, para onde tem o laboratório especializado, e depois volta para cá para ser analisado pelo médico.”, destacou.

Em sua avaliação, Ana Sheila cita que Campo Grande dispõe hoje de capacidade para tratamento do câncer, porém, a estrutura disponível não consegue dar suporte para todos os pacientes. “No Hemosul, por exemplo, os serviços prestados são voltados apenas para a hemoterapia. Hoje, na Capital, o doente hematológico vai para outros hospitais, por onde passa pela transfusão de sangue e outros procedimentos, o que não deixa de ser importante, contudo, insuficiente, principalmente quando se trata de tratamento de câncer.”.

Ao mesmo tempo, a especialista cita que existe equipamento disponível para o diagnóstico e identificação do câncer hematológico na Capital. “Equipamento existe aqui, mas é necessário incentivo para ampliar a capacidade de atuação e montar um centro de diagnóstico como Campo Grande realmente precisaria. Através de uma parceria financeira tanto pública, da verba SUS, quanto privada, de empresas e universidades que tenham interesse em patrocinar, bem como envolvimento de clínicas particulares e convênios médicos, esse empreendimento seria perfeitamente viável.”.

Ana estima que, para montar o centro de diagnóstico, identificação e monitoramento do câncer em Campo Grande valores a partir de R$ 150 mil já seriam o suficientes para o ponta pé, o restante dependeria da demanda e de quais exames seriam feitos. “Equipamento tem, estrutura física também tem, pessoal capacitado para realizar dos diagnósticos também, é só uma questão de treinamento. A cidade tem totais condições de ter esse centro, mas falta iniciativa e apoio”, afirmou.

No entendimento dela, ainda é muito prático para o clínico mandar para fora pedidos de exames importantes ao diagnóstico e/ou acompanhamento da doença, mas quem perde com isso são os pacientes. “Por exemplo, um paciente do interior do Estado, hoje precisaria ir para Barretos fazer todos os exames sendo que poderia vir até a Capital, que é mais perto e com gastos menores. Quando a gente fala de uma doença que precisa de um diagnóstico rápido e de um tratamento preciso e completo, 30, 40, 50 dias significam muito para a vida do paciente, então, se tivermos esse centro funcionando em Campo Grande, tanto para o diagnóstico como para o monitoramento da doença, poderíamos sim ajudar a salvar vidas.”, finalizou Ana Sheila Campos.