O Ministério da Saúde divulgou hoje que foram confirmados 586 casos de febre amarela em humanos no Brasil, entre janeiro e abril deste ano. Em 2016, foram apenas 40 no mesmo período. Cerca de 450 casos ainda estão sendo investigados. A região que mais concentra ocorrências confirmadas é o Sudoeste, com 426 em Minas Gerais, 142 no Espírito Santo, 9 no estado do Rio de Janeiro e 5 em São Paulo.
Preocupado com a proliferação da doença, o Ministério decidiu adotar uma recomendação Organização Mundial da Saúde (OMS) e aplicar uma dose única da vacina, a partir deste mês. O Brasil era o único país que ainda adotava duas vacinas. Segundo estudos da OMS, a dose única é suficiente para a imunização permanente. Para isso, o Ministério se mobiliza para a capacitação de profissionais e compra de seringas específicas.
A previsão é que 9,5 milhões doses da vacina sejam aplicadas neste mês, sendo que 3,5 milhões foram fornecidas pela OMS. Nas próximas semanas, os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia receberão um milhão de doses cada
Cerca de 21,6 milhões de doses extras foram distribuídas para atender as áreas ampliadas de vacinação, além de 4,1 milhões de doses de rotina. Desse número 3,8 milhões foram para o Rio de Janeiro; 7,5 para Minas Gerais; 4,78 para São Paulo; 3,65 para o Espírito Santo; e 1,9 milhão para a Bahia.
O ministério também planeja, caso haja necessidade, o fracionamento das doses de vacinação. A medida seria aplicada apenas em regiões com risco de expansão da doença em humanos. Serão realizados treinamentos nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia, regiões que, segundo o Ministério, não há recomendação de vacinação. Posteriormente serão decididos locais em que o fracionamento será aplicado. A ação será pontual, com início e fim programados.
Atualmente, a dose padrão é composta por 0,5 ml do líquido da vacina. A dose fracionada teria uma diminuição no volume – para 0,1 ml – e a mudança tornaria capaz a vacinação de um número maior de pessoas. Segundo o ministério, estudos mostraram que a dose fracionada tem a mesma eficácia que a dose padrão. O ministro da Saúde, Ricardo Barros, explica que o fracionamento é para atender a demanda espontânea.
Essa medida busca viabilizar a vacina para pessoas que não precisam ser vacinadas, mas buscam a imunização, mesmo assim. Queremos vamos o equilíbrio entre a demanda e a necessidade, por isso o ministério está se preparando para ter folga e não passar dificuldades. Mas reforço que a estratégia só será aplicada em caso de necessidade.
Ele também explicou que tudo depende dos dados técnicos que serão divulgados e afirmou que não deixará de vacinar as áreas recomendadas. A demanda espontânea não estava prevista, mas será levada em consideração nos pedidos de vacina. O ministro ainda disse que espera não ser necessário vacinar os grandes centros, mas que se houver a necessidade, o ministério estará pronto. Na próxima terça-feira, o órgão irá se reunir com os governadores dos estados para desenvolver estratégias de combate a proliferação da doença.
Contudo, viajantes internacionais terão que tomar a dose padrão para conseguir obter o Cartão de Vacina Internacional. Gestantes, crianças menores de 2 anos e pessoas com baixa imunidade também deverão tomar a dose padrão, pois a eficácia nestes grupos ainda não foi estudada. Para manter o calendário de vacinação, o ministério irá aplicar a dose padrão em crianças até 4 anos.
Já está comprovado que a dose fracionada funciona por, no mínimo, um ano, mas ainda não se sabe por até quanto tempo a vacina poderia proteger a população. A coordenadora-geral do programa nacional de imunizações, Carla Madga Domingues, explicou que não necessariamente será preciso tomar outra dose após um ano
O tempo de imunização ainda precisa ser avaliado, com novas evidências, para sabermos se haverá necessidade de um reforço da vacinação. O ministério vai acompanhar novos estudos para ver a necessidade de revacinação. O fracionamento já foi aplicado durante um surto no Congo e foi eficaz em imunizar um grande contingente de pessoas.
Sobre a ampliação da recomendação de vacina contra febre amarela para viajantes internacionais da OMS, Carla garante que não condiz com a realidade epidemiológica do país e afirmou que o ministério não sairá vacinando indiscriminadamente a menos que haja necessidade real comprovada.
Fonte: O Globo