Bombas em metrópoles e alta tensão: entenda a instabilidade na Turquia
Por Redação Publicado 29 de junho de 2016 às 08:53

Mais um atentado de grandes proporções se soma a uma série de ataques às maiores cidades da Turquia, Ancara e Istambul.

A Turquia sempre foi um marco de estabilidade entre a Europa e o Oriente Médio. Mas atualmente vive um período de alta tensão, lutando contra militantes curdos no leste e tentando evitar que o conflito na Síria atravesse a fronteira.

E enquanto tratavam os militantes curdos como a principal ameaça, os turcos começaram a ser alvo do autoproclamado Estado Islâmico (EI).

Qual é o perigo da crise atual?
Além do atentado da terça-feira, cinco atentados a bomba em Istambul e três em Ancara nos últimos oito meses enviaram aos turcos uma mensagem clara de que não há lugar no país onde seja possível ficar à salvo da violência.

Em Istambul, no ano passado, militantes do PKK (Partido Trabalhista do Curdistão) explodiram um carro perto de um ônibus que levava forças de segurança.

Mas o autoproclamado Estado Islâmico também tem estado ativo na região. Um homem-bomba matou três turistas israelenses e um iraniano na movimentada avenida Istiklal, em Istambul, em março.

Em janeiro, 12 turistas alemães morreram quando um extremista suicida do EI explodiu a si mesmo na área turística da cidade de Sultanahmet.

Alguns dos ataques mais sangrentos ocorreram em Ancara:

Até recentemente, os ataques ocorriam apenas em áreas curdas do leste e sudeste do país – onde militares turcos já enfrentavam o PKK havia décadas.

A violência nas maiores cidades tendia a se focar em escritórios de partidos políticos, especialmente os de esquerda ou o HDP (Partido Democrático do Povo), pró-curdo. O partido marxista DHHP-C, que opera na clandestinidade, realizou ataques contra a polícia e embaixadas do Ocidente.

Mas para milhares de turistas que chegam ao país a cada ano, a Turquia permanece sendo um destino atrativo. A França, porém, orientou seus cidadãos a ficarem alertas em áreas turísticas.

O ataque a Ancara em fevereiro atingiu cinco ônibus militares  (Foto: AFP)O ataque a Ancara em fevereiro atingiu cinco ônibus militares (Foto: AFP)

A Grã-Bretanha também divulgou alerta, dizendo que “mais ataques poderiam ser indiscriminados e poderiam afetar locais visitados por estrangeiros”.

Mas os turcos estão com medo de frequntar shoppings e locais públicos.

“Acho que estamos assistindo a uma escalada da violência “, diz Menderes Cinar, analista da Universidade de Baskent, em Ancara.

Por que a situação se deteriorou?
A Turquia está inserida em um conflito em duas frentes: dentro do país e na fronteira com a Síria.

O governo em Ancara lutou por décadas uma guerra interna contra o PKK. Por dois anos, um cessar fogo conseguiu conter escaramuças entre turcos e militantes curdos – vistos como terroristas pelo governo e por muitos países do Ocidente.

Mas o cessar fogo acabou em julho de 2015, após um ataque a bomba que matou 32 jovens curdos e ativistas de esquerda na cidade de Suruc.

As vítimas teriam sido alvejadas por um extremista do EI. Elas estariam planejando viajar para a Síria com o objetivo de reconstruir Kobane, uma cidade devastada por militantes do Estado Islâmico.

Isso deu início a uma onda de ataques de militantes e respostas militares do governo. O PKK acusou o governo turco de desejar que o Estado Islâmico tivesse sucesso em deter o avanço de tropas curdas na Síria e no Iraque.

A Turquia e o PKK parecem ter regredido para a situação em que estavam antes do início da trégua em 2013.

O líder do PKK, Cemil Bayik, acusou o presidente Erdogan de “proteger o EI” para impedir o avanço curdo em território controlado pelos jihadistas. Em entrevista à BBC em abril ele condenou ataques a civis, mas defendeu a campanha militar travada pelo grupo.

Um ataque suicida em Suruc deixou 32 pessoas mortas em 2015  (Foto: AP)Um ataque suicida em Suruc deixou 32 pessoas mortas em 2015 (Foto: AP)

Qual é a influência do conflito na Síria?
A Turquia foi envolvida no conflito sírio há muito tempo e seu premiê, Recep Tayyip Erdogan, foi um dos primeiros a defender a queda do presidente da Síria, Bashar Assad.

Mas o governo turco começou a se preocupar quando grupos curdos começaram a controlar áreas no norte da Sìria. A Turquia temia o fortalecimento da milícia YPG (Unidades de Proteção Popular Síria Curda) e seu braço político PYD (Partido da União Democrática).

“A Turquia sente uma ameaça existencial do PYD e do PKK. E está claro que o PYD e o PKK são a mesma coisa”, diz Burhanettin Duran, do institudo de pesquisas Seta, partidário do governo turco.

Em 2015, o YPG fez o Estado Islâmico recuar da fronteira turca e passou a controlar uma faixa de 400 quilômetros de território. Após a intervenção russa no conflito, em setembro de 2015, os curdos da Síria também ganharam território ao norte de Aleppo.

Grupos curdos agora controlam a maior parte da fronteira síria com a Turquia. Um grande problema do governo turco é que, apesar dos Estados Unidos classificarem o PKK como uma organização terrorista, apoiam o YPG na fronteira com a Síria.

Fonte: G1