A inesperada virtude da ignorância
Por Redação Publicado 20 de março de 2015 às 19:19

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O Ibovespa engata mais um pregão de euforia, com valorização expressiva.

Caminha para fechar a semana com ganho acumulado de 6,5%, flertando com o melhor patamar em 2015.

Hoje não temos grandes novidades. Quando tudo aponta para baixo, a melhor novidade é não ter novidade. Mais ou menos como o depoimento do Renato Duque, que ficou calado na CPI da Petrobras ontem.

A maior virtude dos mercados, hoje, é sua capacidade de ignorar os fundamentos e os desdobramentos da economia real, voltando-se, exclusivamente, à distração diária da impressão de dinheiro e da continuidade da farra da liquidez.

Assim, como Birdman, o Ibovespa alça voo apoiado em seus próprios devaneios, muito atrelados à liquidez.

Esclarecimento importante

Peço desculpas pela repetição, mas, devido à infinidade de questões chegando diariamente no email, esclareço novamente este ponto importante:

“Gosto muito da newsletter de vocês, mas um ponto tem confundido minha cabeça: vocês vêm demonstrando dia após dia que o mundo está à beira de um colapso econômico, que irá atingir em cheio os ativos de risco; mas, ao mesmo tempo, recomendam o investimento em algumas ações, por vezes até de forma bem entusiasmada. Como devo entender essas recomendações (aparentemente) contraditórias?”

Se um crash das ações em nível global de fato se confirmar, não esperamos que esse fluxo migre para a Bolsa brasileira, de elevado componente de risco (beta), mas em busca de proteção (títulos do Tesouro dos EUA, dólar, ouro…).

Por isso recomendamos que o investidor mantenha sempre o grosso do patrimônio alocado de forma ultraconservadora, e líquida para aproveitar as eventuais oportunidades. Exemplos? LFT, fundos DI… Alta rentabilidade, baixo risco e liquidez diária.

Agora, nossas alocações em Bolsa já vislumbram um cenário de pressão sobre os ativos de risco. Afinal, é nosso cenário-base. Elas buscam descolamentos favoráveis entre preços e fundamentos e, muitas, alternativa de exposição ao dólar ou ouro.

Seja como for, você sempre precisar ter um pouco, muito pouco que seja, em ações. A diversificação permeia qualquer boa alocação de patrimônio.

É, como nunca, hora de evitar empresas com governança questionável, excessivamente alavancadas, em processo de reestruturação e/ou intensivas em capital.

Falando nelas…
O terceiro dil(e)ma

Nos últimos dois introduzi aqui no M5M dois dilemas relevantes:

Versão Brasil: na pior popularidade desde o impeachment de Collor, Dilma precisa tomar medidas impopulares (ajuste fiscal), que pioram a sua popularidade, e não tem mais a possibilidade (verba) para medidas populistas.

Versão Mundo: os Bancos Centrais inundaram o mundo com liquidez, agora precisam virar a mão. Mas… Se aumentarem os juros, os Bancos Centrais enxugam a liquidez e, consequentemente, colapsam os mercados e geram um problema para pagamento dos juros de uma montanha de empréstimos incentivados nos últimos sete anos de juro zero. Se não sobem, vão inflando ainda mais essa bolha.

Agora, o novo (mais um) dil(e)ma versão Petrobras:

As ações da Petro despencaram ontem com o rumor de que a estatal estuda lançar baixa contábil “infinitamente menor” do que a recomendada pela gestão anterior (de R$ 61 milhões).

Grosso modo, eles pegariam o que já apareceu na Lava Jato, em torno de R$ 2 bi e acrescentariam processos de danos morais, resultando em uma baixa próxima de R$ 4 bi. Montante questionável, tendo em vista que só essa semana o MP bloqueou R$ 1,3 bi de operadores do esquema em contas na suíça em apenas uma operação…

Se lançar uma baixa contábil elevada, Petro corre o risco de colapsar o seu balanço e as medidas de alavancagem (pelo impacto no seu patrimônio).

Se lançar uma baixa contábil intencionalmente baixa, arrebenta com a credibilidade (que sobrou) de suas contas e, pelo que o mercado demonstrou ontem, com suas ações.

Tem um agravante nisso tudo…

É bem provável que Petro sequer tem capacidade de mensurar o tamanho do rombo.
A inesperada desvirtude da ignorância

Em dois anos desde que abriu capital, a companhia de tecnologia Senior Solution (SNSL3):

·         Levou o seu faturamento de R$ 46 milhões para R$ 77 milhões (+67%)

·         Levou o seu lucro de R$ 4 milhões para R$ 12 milhões (3x)

·         Com isso, atingiu uma posição de caixa líquido (de dívida) de R$ 30 milhões

Em dois anos desde que abriu capital, o valor de mercado da Senior Solution ficou praticamente parado, em R$ 128 milhões.

Pode?
Como fazer um IPO bem sucedido

O exemplo acima ajuda a ilustrar como uma abertura de capital pode ser, sim, um propulsor para as operações de uma empresa, e não apenas uma forma de encher o bolso de seus acionistas.
Mas, espera um pouco, como ela conseguiu isso?

O caso da Senior é típico de alavancagem operacional bem sucedida.

Fruto de uma combinação de crescimento orgânico e inorgânico (via fusões/aquisições).

Como alimentar essa engrenagem?

É aí que entra o caixa de R$ 30 milhões.

(foto ilustrativa)
Acompanhem mais em…
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FONTE LINK:
A inesperada virtude da ignorância