Encontra-se em trâmite a Medida Provisória (MP) 746/2016, de 22 de setembro, que, entre outras normas, defende o fim da obrigatoriedade da Filosofia, além de outras disciplinas no Ensino Médio, como Artes, Educação Física e Sociologia, deixando, assim, questionamentos, pois de um lado há famílias em situações de vulnerabilidade social e econômica acatando a ideia do curso técnico profissionalizante como sendo um caminho para o mercado de trabalho; e, de outro lado, há os intelectuais preocupados com o progresso cultural do ser humano.
É certo que a situação do ensino público no Brasil está precária, mas isso não é de hoje; então, as mudanças não poderiam ser arbitrárias, impostas por uma MP, mas deveriam ser discutidas com a comunidade interessada no assunto, pois quem garante que simplesmente ir alterando a estrutura do Ensino Médio de 800 para 1.400 horas, com regime de ênfases, curso técnico e deixando para segundo plano algumas disciplinas de humanas, trará uma educação de qualidade? Será que a crise educacional não deveria ser encarada como um problema desde as séries iniciais do Ensino Fundamental?
As matérias de Filosofia e Sociologia, por exemplo, deixam o aluno antenado aos acontecimentos sociais, históricos e no que diz respeito à sua vida; então, tirar essas e outras disciplinas da área de humanas seria tirar o direito à reflexão. Parece que o governo quer guardar o pensamento das pessoas, pois, direcionando-as para o trabalho, pode não sobrar espaço para essa análise reflexiva, deixando esse ser humano incapaz de ter um olhar para melhores condições de vida e de trabalho; ou seja, deixar de pensar bem, para ser mais um integrante da massa de manobra social.
Sendo assim, Filosofia e Sociologia não deveriam ser lecionadas somente no Ensino Médio, e sim a partir do Ensino Fundamental, pois, de acordo com os estudos do educador e filósofo norte-americano Matthew Lipman, que implementou a “Filosofia para Criança” na década de 60, a criança e o adolescente, quando em contato com a Filosofia, tendem a ser mais perceptivos ao que acontece à sua volta, debatem questões, têm opiniões seguras, aumentam o diálogo e o vocabulário. Mas claro que, para isso acontecer, seria necessário um professor qualificado e valorizado!
Então, se os governantes estivessem realmente preocupados em criar um país forte, com a estruturação de um ensino para o “pensar bem” desde a base educacional, com melhor qualificação e salários para esses profissionais, os alunos não precisariam ser vítimas do processo de tentativas e erros, pois há, de fato, uma crise educacional, um problema em longo prazo, e não um projeto que se pode ir alterando a qualquer momento,
Estamos falando de seres humanos em formação e da importância da filosofia em suas vidas, além de outras áreas da educação, e não de meras mercadorias que se pode ir testando para melhorar a sua qualidade.
Fonte: Correio do Estado