Após prender 21 policiais na semana passada por crimes de corrupção, a Corregeria da Polícia Militar, o Ministério Público Estadual (MPE/MS) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) estão novamente nas ruas de Campo Grande para cumprir uma série de mandados de busca e apreensão e de prisão envolvendo policiais militares. A segunda fase da Operação Oiketikus está sendo executada na manhã desta quarta-feira (23).
De acordo com a investigação, os policiais investigado na ação são suspeitos de receberem propina de contrabandistas para liberarem as mercadorias apreendidas. Os valores recebidos pelos militares chegavam facilmente à casa dos R$ 100 mil, em troca, eles deixavam de vistoriar os caminhões que transportavam a carga ilegal, especialmente de cigarros paraguaios, ou permitiam que o veículo continuasse a viagem após uma falsa fiscalização.
O Gaeco, responsável pela investigação, está ouvindo nesta manhã 12 testemunhas do esquema de corrupção. A ACS (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar de Mato Grosso do Sul) acompanha essas testemunhas e sustenta que há fragilidade nas provas apresentadas pelo MPE. A entidade já pediu a soltura para sete dos 21 detidos na ação, no entendimento do advogado Edmar Soares, deveriam ter sido aplicadas medidas cautelares, ou seja, afastar os militares do serviço até que a investigação fosse concluída.
Cigarros liberados
Há exatos uma semana, quando desencadeou a primeira fase da operação, a Corregedoria da PMMS prendeu 20 PMs, sendo três oficiais e 17 praças, o último suspeito, praça, se apresentou à noite. Todos foram encaminhados para celas do Presídio Militar Estadual e estão sendo investigados. A ação de hoje é uma consequência dos depoimentos prestados por estes policiais, embora o Gaeco ainda não tenha liberado maiores detalhes da operação.
Estes policiais foram comprados pela ‘Máfia dos Cigarros’, as investigações começaram no mês de abril de 2017 e as primeiras provas obtidas pela investigação foram o enriquecimento de alguns policiais militares, além da interceptação de conversas telefônicas. No caso especifico dos oficiais da PMMS, estes ficaram encarregados de desviar suas equipes policiais para direções opostas ao do contrabando, com isso, evitaria a apreensão da carga. Eles também davam informações sigilosas aos contrabandistas, como o local onde aconteceria a fiscalização.
Ainda conforme a investigação, o esquema tinha pelo menos duas frentes. Uma envolvia as cidades de Bela Vista, Bonito, Guia Lopes da Laguna e Jardim e os distritos de Alto Caracol e Boqueirão. Nestes, os responsáveis pelo sucesso da ação irregular eram os tenentes-coronéis Admilson Cristaldo Barbosa e Luciano Espíndola da Silva e o major Oscar Leite Ribeiro, além de outros 10 praças.
Já a outra frente envolvia as cidades de Dourados, Maracaju, Mundo Novo, Naviraí, Iguatemi, Japorã e Eldorado. Nesta área, os envolvidos são terceiros-sargentos, cabos e soldados que recebiam uma propina mensal que variava de R$ 3 mil a R$ 15 mil. Um dos citados na investigação, p PM Aparecido Cristiano Fialho, tinha um patrimônio de R$ 7 milhões, que é incompatível com o que recebe na polícia. Ele usaria uma revendedora de veículos para lavar o dinheiro da propina, além de imóveis.
Outro ponto interessante presente no relatório do Gaeco é o fato de serem raras as grandes ações contra o contrabando de cigarros por parte da PMMS. As últimas, batizadas de ‘Fumus Malis’ e a ‘Gato de Botas’, ocorreram há mais de sete anos. No documento, o Gaeco recomenda a prisão cautelar dos policiais investigados.