
O universo das palavras foi o caminho que o aluno Fernando Gaspar da Silva, do 8º ano da escola municipal Harry Amorim Costa, escolheu para interagir com o mundo ao seu redor. Aos 13 anos, Fernando tem Transtorno Espectro do Autista (TEA), que é uma alteração neurobiológica caracterizada por dificuldades na interação social e comunicação. A pessoa com TEA também apresenta comportamentos repetitivos e interesses restritos.
O transtorno, no entanto, não foi barreira para ele descobrir o talento para a escrita, tanto que nesta terça-feira (8), Fernando lançou seu primeiro livro, ilustrado por ele mesmo, no Centro de Formação da Semed (Secretaria Municipal de Educação). Batizado de “Brad, o urso azul”, o livro, que já tem uma segunda parte que será lançada em breve, foi produzido em apenas um mês.
Tudo começou a partir de um desafio lançado pela mãe, a empresária Lucinei da Cunha Arantes e Silva, que propôs ao filho escrever uma história de pelo menos dez páginas. Fernando, que desde a infância é apaixonado por histórias em quadrinhos e desenho animado, imediatamente pegou a máquina de escrever que havia ganhado da avó aos nove anos e datilografou a saga de um filhote de urso, desde seu nascimento até sua separação da família, quando foi parar em um zoológico para ser reencontrado novamente.
Ao longo da narrativa, permeada de humor e muita aventura, Fernando coloca o pequeno urso em diversas situações, sempre acompanhado de amigos. Além da família, a professora de Língua Portuguesa Luciane Zaida Ferreira da Silva Viana também acompanhou o aluno em sua jornada.
Ela conta que recebeu o livro já datilografado e dividido em capítulos, porém o texto necessitava de correções e elementos que tornassem a narrativa mais atraente para o leitor. “No começo foi difícil ele aceitar as sugestões, mas aos poucos fomos fazendo as melhorias e depois de nove aulas estava finalizado”, contou a professora.
A mãe Lucinei disse que não imaginava que o desafio, lançado de forma despretensiosa, chegasse a ganhar uma tarde autógrafos. Ela conta que Fernando estudou quatro anos fora da rede municipal, mas quando retornou teve um acolhimento que a deixa emocionada até hoje. “Me surpreendeu muito e hoje sou grata e feliz por todo esse suporte e carinho”, ressaltou.
Suporte especializado
A evolução de Fernando na linguística é uma junção de fatores, que passa pelo apoio incondicional que ele recebe da família desde bebê até o respaldo especializado oferecido pelos técnicos da Semed.
A psicóloga e especialista em neuropsicologia, Mari Meire de Moura, técnica da Divisão de Educação Especial da Semed explica que os indivíduos com TEA necessitam ter suas ações direcionadas. “O Fernando tem esse desenvolvimento favorável porque nossas equipes orientam e direcionam suas habilidades. Oferecemos uma suplementação e incentivo para que esse dom fluísse”, explicou.
Ao todo, a Semed conta com 30 técnicos para atender com exclusividade as 313 crianças da Reme que foram diagnosticadas com TEA. A equipe que oferece suporte aos técnicos conta com neuropsicólogos, psicopedagogos, psicóloga e uma professora de libras.
“Temos um atendimento de excelência voltado para os alunos com esse transtorno. Oferecemos respaldo através de salas de recursos, orientação aos profissionais e acompanhamento diário dos casos”, contou.
Para Fernando, a tarde de autógrafos foi um sucesso. Apesar da timidez quando está em público, ele ficou bem à vontade no vídeo que gravou para falar sobre o livro. Na entrevista, ele explica o processo de produção da obra e o porquê de escolher um urso azul para ser o personagem principal. “O urso polar é branco, o coala é cinza e tem outros ursos que são marrons. Eu queria que o meu fosse diferente”, concluiu.