Em entrevista, Zeca do PT fala sobre ser Senador, Lula e delações da JBS
Por André Farinha Publicado 16 de julho de 2017 às 10:46
Deputado federal Zeca do PT

Não é segredo para nenhum acompanhante da política estadual que o hoje deputado federal José Orcírio Miranda dos Santos, ou simplesmente Zeca do PT, tem como meta de vida ser um senador da República. Aos 67 anos – e com um currículo invejável por muitos, tendo sido deputado estadual (1991-1998), governador do Estado (1999-2006), vereador em Campo Grande (2013-2015) e desde 2015 está como deputado federal – o petista trabalha para disputar o pretendido cargo político no pleito de 2018. Embora o atual momento do PT em Mato Grosso do Sul impeça a realização de uma megacampanha, Zeca tem fé de que conseguirá a vitória.

Em 2018 serão duas vagas em aberto para o Senado no Estado, na avaliação do parlamentar, será uma disputa bastante equilibrada. “Estou na expectativa de ir para o Senado. Quero terminar minha vida política cumprindo o que prometi aos índios, quilombolas e assentados, e lá poderia contribuir mais. Acho que teremos uma ótima briga. Tomara que seja com o Dr. Odilon [de Oliveira, juiz federal], Moka, Pedro Chaves, Murilo Zauith, Nelsinho Trad. Nesse cenário eu me garanto.”, disse Zeca do PT, em entrevista ao jornalista André Farinha, por e-mail, para o site R1 News.

Quanto à participação do PT no pleito de 2018 em Mato Grosso do Sul, Zeca comenta que o planejamento ainda está em fase de elaboração e que uma primeira posição deve ser tomada somente no mês de Agosto. “Acabamos de assumir a direção do partido e tivemos uma primeira reunião da executiva onde foi definido que no início do próximo mês iremos realizar uma reunião de planejamento estratégico para reorganizar o partido e definir os rumos para as campanhas de 2018. Temos que analisar a conjuntura política do Estado.”, ressaltou. Zeca também está como presidente do Diretório Estadual do PT/MS.

Zeca do PT acredita que será eleito senador em 2018 (Foto: Reprodução)

Em sua visão, se nada for comprovado contra o ex-governador André Puccinelli e o atual Reinaldo Azambuja, no que diz respeito às denúncias dos empresários Joesley e Wesley Batistas, donos da JBS, os dois políticos se tornarão adversários fortíssimos na disputa do Governo do Estado. “Se for provado algo pode acontecer de um novo nome surgir, como aconteceu nos Estados Unidos com o Donald Trump ou em São Paulo com o João Dória. E pode ser alguém do agronegócio, do empresariado ou do judiciário, por exemplo, o Dr. Ricardo Ayache, presidente da Cassems, uma boa pessoa, com bom discurso e boa presença, ou também o Dr. Odilon de Oliveira.”.

As denúncias da JBS

Zeca do PT teve o seu nome citado pelos empresários da JBS, na delação premiada em que apontaram ter pagado cerca de R$ 150 milhões em propinas a políticos de MS entre os anos de 2003 e 2016. As informações apontam que o esquema começou no governo de Zeca e continuou depois, inclusive, beneficiando o petista na sua campanha política de 2010, quando novamente disputou o cargo de governador.  Sobre o assunto, o ex-governador nega todas as acusações e reforça que, na época de sua gestão estadual, a JBS não tinha (praticamente) nada no Estado e que só conhecia o empresário Júnior Batista, que não está entre os delatores.

“Estou absolutamente tranquilo em relação a isso. Acredito que o Ministério Público Federal vai analisar o processo de maneira técnica, que não cabe nem denúncia. Na época em que fui governador, entre 1999 a 2006, a JBS praticamente não tinha nada aqui no Estado. Eu não conhecia, nem tinha contato com os irmãos delatores. Conheci o Júnior Batista, eu acho que em uma feira agropecuária, mas ele é o único dos três irmãos que não está envolvido nesse caso.”, declarou.

Segundo Zeca, ele só concorreu ao Governo do Estado no pleito de 2010 por conta do partido. “Sai candidato para o PT não morrer. Fui chamado por Joesley, que provavelmente sabendo que tínhamos chances concretas de disputar com [André] Puccinelli, me ofereceu R$ 1 milhão para a campanha, que está na prestação de contas no Tribunal Regional Eleitoral. Então, estou tranquilo, no Direito brasileiro a responsabilidade da prova cabe a quem acusa. Eles vão ser chamados para apresentarem as provas e eu tenho absoluta certeza de que não há nada. Acho que ele atirou contra tudo e todos para tentar salvar a sua pele.”, completou.

De uma maneira geral, o deputado e ex-governador avalia que a “crise política só imbica o Brasil para o buraco”.

Somos favoráveis a Lava-Jato, mas somos contra seletividade das investigações, que até pouco tempo só iam contra o PT. Por que o senador Aécio Neves, com todas as provas, não foi preso e o Delcídio foi? Essa história de que o Produto Interno Bruto está crescendo, que tá gerando emprego, que novas empresas estão abrindo, não é verdade. A crise econômica brasileira é cada vez mais grave, são quase 14 milhões de brasileiros desempregados. Tenho medo quando professores universitários, empresários, gente qualificada defende a tese da volta da ditadura. Isso é um horror! Não tem outra saída para crise se não a política. Que se apure tudo de todos.

Sobre a condenação do ex-presidente Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva, Zeca diz que é necessário esperar até julgarem. “É uma condenação em primeira instância que todos nós já sabíamos que ia ocorrer. Mas soa estranho a condenação do Lula sem nenhuma prova, enquanto Aécio e outros larápios continuam soltos, inclusive, o senador [Aécio] teve o seu mandato restabelecido pelo STF. O brasileiro tem notado essa injustiça com o presidente, querem tirá-lo de qualquer forma da disputa de 2018. Acredito que o Tribunal Regional Federal vai reconsiderar e negar essa condenação por absoluta falta de provas.”, frisou o deputado.

Como dito no início, Zeca também está como presidente do Diretório Regional do PT/MS desde junho deste ano. Ele revela que encontrou o partido numa situação delicada e que a sua missão é reerguer e preparar a militância para os desafios que estão por vir. “Assumimos a direção do partido em situação crítica, com a perda do fundo partidário, e temos muitas dívidas deixadas por gestões passadas. Nosso compromisso é conseguir colocar as finanças em dia, por meio de diversas ações que devemos fazer e motivar nossa militância.”.

O mandato de deputado federal

Zeca do PT tem destinado suas emendas parlamentares para vários municípios e para a Capital (Foto: Assessoria/Reprodução)

Eleito deputado federal no pleito de 2014, Zeca do PT avalia seu mandato como positivo. Através das emendas parlamentares, vem contribuindo com a gestão de várias cidades do interior de Mato Grosso do Sul. “As emendas parlamentares são muito importantes, principalmente para os pequenos municípios que têm poucos recursos próprios e tem sofrido com a queda dos repasses do Fundo de Participação dos Municípios. Temos algumas emendas próprias e em conjunto com deputado Vander Loubet para obras de infraestrutura de pavimentação asfáltica e drenagem pluvial para comunidades que sofrem com inundações em tempos de chuva nas cidades de Jardim, Porto Murtinho, Coxim, Bela Vista.”.

As emendas do deputado também foram destinadas às reformas do Hospital Regional de Campo Grande e do Laboratório Central, para custeio de hospitais e postos de saúde em vários municípios e à Fundação Nacional da Saúde para perfuração de poços e implantação de redes de abastecimento de água para assentamentos e comunidade quilombolas e indígenas.

“Temos também um trabalho muito forte com a agricultura familiar, onde desenvolvemos um projeto para fortalecer a agroindústria e o fortalecimento das cooperativas de pequenos produtores. Com dinheiro das emendas apoiamos iniciativas como a abertura de abatedouros de animais de pequeno porte, aquisição de patrulhas mecanizadas, equipamentos para hortas comunitárias, reformas de laticínios cooperativos, resfriadores de leite e aquisição de sementes e calcário.”.

“Em Campo Grande, eu e o Vander destinamos R$ 2 milhões em emendas parlamentares para criação do Mercado Escola, uma parceria com os projetos das incubadoras da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul que será um dos primeiros Centros de Estudos e Comercialização da Produção Orgânica e Agroecológica da Agricultura Familiar do país.”, finalizou Zeca do PT.