Wanessa “Quando voltei para o sertanejo, alguns fãs foram agressivos”
Por Redação Publicado 3 de abril de 2017 às 15:59

“A minha identidade musical é ser assim. É isso que as pessoas não entendem, eu sou alguém que sempre busca algo diferente”. É assim que Wanessa Camargo define seu retorno ao sertanejo com o lançamento do álbum 33, que volta ao streaming com duas faixas bônus (e o apoio da gravadora Som Livre) após lançamento independente em setembro do ano passado.

Depois de um hiato de cinco anos desde o lançamento de DNA, a cantora percebeu que suas composições estavam com uma cara mais romântica e decidiu tirar o pé do freio e preparar o terreno para um retorno às suas raízes. “Não era mais ‘Shine It On’ que estava em mim. Eu senti vontade de cantar o romântico, voltar pro português”, revelou em coletiva de imprensa para o lançamento de 33 em São Paulo.

Sem papas na língua, a cantora assumiu que perdeu fãs com a mudança, mas que não se preocupa. “Me preocupo em como eu vou mostrar isso ao público, cada palavra que canto é com verdade. Enquanto você pode ouvir a música aqui e ali, eu vou cantar ela a minha vida inteira, todo show. Eu vou carregar esse legado e se eu não acreditar nisso, eu não vou suportar. Como vou cantar algo que não acredito?”.

Billboard Brasil conversou com a cantora sobre a indústria da música nesses 16 anos de carreira:

Você já está na música há 16 anos e fez um hiato de cinco anos entre discos. Nesse tempo, qual mudança viu na indústria musical? Como afetou o lançamento de 33?
Eu peguei a época em que ainda se ganhava disco de ouro com 100 mil cópias, a gente chegava nesse número. Hoje você tem 20 mil [pra ganhar disco de ouro], daqui a pouco vai virar cinco. Mudou muito. As redes sociais não tinham essa importância na divulgação, tudo mudou, o streaming veio e tomou conta do negócio. Na televisão era diferente, você focava nas quatro emissoras principais e pronto. Hoje a TV fechada tem peso, YouTube, Facebook são tão importantes quanto. O foco é no digital, tínhamos um plano de ação só para isso. Na minha época era muito diferente. Hoje tudo está muito rápido, a troca das músicas. Agora você pode lançar mais de uma coisa ao mesmo tempo. Você tem que correr pra se manter atualizado.

Tendo transitado pelo universo romântico, sertanejo e pop, qual diferença você vê entre as pessoas que trabalham em cada gênero?
O pop perde muito por causa da falta de união do gênero. Não sei por que, mas você vê o quanto o samba, o sertanejo, o axé saem na frente. Eles abraçam uns aos outros, fazem colaborações. Há uma união. Com quantas pessoas Wesley Safadão gravou? E Maiara & Maraisa? O sertanejo sempre foi muito esperto. Meu pai e o Chitãozinho já tinham percebido isso e fizeram A.M.I.G.O.S. lá atrás com Leandro & Leonardo. Concorrência é a melhor coisa que tem porque você não tá sozinho. Hoje tem dois movimentos mais fortes no Brasil, o sertanejo e o pop/funk.

Nessa transição para o sertanejo, você acabou perdendo alguns fãs. Você tinha um grande público LGBT. Como ficou isso?
A perda faz parte, mas tem uma coisa que eu acho engraçada. Quando eu fui para o pop, o público que não gostou – e foi muito, tá? –, que gostava da Wanessa romântica, que cantava em português, eles entenderam, deixaram de ir aos shows, mas em nenhum momento foram agressivos comigo. Quando eu fui para o sertanejo, agora, alguns vieram com muita agressividade, não sei por quê.

Você pretende trazer essa experiência com o pop e outros ritmos para um crossover em um próximo trabalho?
Como esse é o primeiro passo, comecei mais light. Esse crossover vai ser mais legal mais para frente. Esse CD já traz algumas pitadas de pop, reggaeton. Mas no próximo vai ter mais desse crossover do popnejo, como eu chamo, que é o que eu mais gosto, de trazer para o sertanejo algumas guitarras a mais, para não ficar igual, sempre fazer coisas diferentes. Ao mesmo tempo, amo sertanejo raiz e também quero trazer mais isso, aquela música que você sente que está no sertão, ouvindo o passarinho cantar.

E teve a coincidência de Lady Gaga lançar Joanne, um álbum com uma pegada mais country, logo depois de você. Ouviu?
Eu gosto muito disso, de quem não tem medo de se arriscar. Outra que mudou completamente, pra você ver como lá fora eles têm uma abertura maior para isso: a Taylor Swift era super country e hoje mudou tudo. Se ela quiser voltar para o country, que era maravilhoso, inclusive eu até prefiro, ela pode. Sou apaixonada pela Shania Twain, é o tipo de artista que admiro muito. Ela faz country, mas com linguagem pop e fez sua música chegar a um público maior.

Fonte: TERRA/Billboard Brasil, por Rebecca Silva