Cientistas são heróis que não usam capa ou máscara para manter uma identidade secreta, mas, ainda assim ajudam a salvar centenas de vidas. Este é o sentimento que despertou no aquidauanense Luiz Fernando da Silva Borges (18) o gosto pela ciência, e um de seus super-heróis favoritos é o neurocientista Miguel Nicolelis – que desenvolveu uma tecnologia capaz de permitir que uma pessoa paraplégica desse o chute inicial no jogo de abertura da Capa do Mundo de futebol, realizada no Brasil em 2014.
Presenciar o funcionamento de uma máquina capaz de transformar sinais enviados pelo cérebro em movimentos foi um dos estopins para que o rapaz iniciasse suas próprias pesquisas. Os estudos iniciados pelo aquidauanense contribuíram com enormes avanços na criação de tecnologia para recuperar o tato dos dedos e do punho de quem perdeu o braço. “Criei um método que, além de devolver melhor a sensação tátil, transforma, com mais precisão, os sinais musculares em movimento”, explica.
Hoje, o jovem cientista trabalha para lançar no mercado um equipamento que permita a comunicação com pacientes que estejam em estado coma ou vegetativo, permitindo que os mesmos sinais cerebrais, lidos pela tecnologia de Nicolelis e convertidos em movimento, sejam, desta vez, traduzidos em soletração. Isto vai permitir que os pacientes digam a médicos e familiares como se sentem em relação ao tratamento, por exemplo. A pesquisa envolve diversas áreas, como biomedicina, neurologia, o desenvolvimento de softwares, realidade virtual e engenharia.
“Eu sempre fui muito curioso, daquelas crianças que sempre desmontam os brinquedos que ganham para saber como funcionam”, conta o aquidauanense. Das brincadeiras de criança para a rotina no laboratório de pesquisa, Luiz Fernando, hoje, recebe o merecido reconhecimento da comunidade científica internacional, sendo premiado em feiras competitivas que avaliam projetos de estudantes do ensino médio.
O projeto “Hermes Braindeck”, de Luiz Fernando, levou o primeiro lugar em engenharia na 15ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE), realizada em São Paulo, tendo como “investidor-anjo”, o empresário Ricardo Ferreira Nantes, do grupo BR Apollo, que garante 100% do financiamento para as pesquisas.
Atualmente, para a classificação do nível de consciência de pessoas com trauma encefálico é usada a chamada “Escala de coma de Glasgow”, que não permite avaliar aspectos ligados à coordenação motora, quando as pessoas não são capazes de movimentar os seus membros – braços, por exemplo – de maneira voluntária. Ele explica que os médicos dão instruções aos pacientes para que realizem movimentos – como piscar os olhos, por exemplo. O sinal “mecânico” – movimento – atesta que eles estão conscientes e entenderam o que está sendo dito.
O equipamento desenvolvido pelo sul-mato-grossense – do tamanho de uma maleta – vai permitir a comunicação com quem, mesmo que não seja capaz de mexer nenhuma parte do corpo, continua percebendo o ambiente ao seu redor. “É muito comum ouvirmos relatos de pessoas que acordam do coma falando sobre tudo que ouviram e sentiram nesse tempo todo”, lembra. O estudante do curso técnico em informática no Instituto de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul criou um dispositivo portátil que realiza a conversão das ondas cerebrais (pensamentos) em respostas. O paciente é questionado sobre uma série de detalhes sobre a própria vida e estimulado a pensar sobre eles. O software lê esses sinais do cérebro e os transforma em frases, como sim ou não, por exemplo.
Os testes em pessoas que não estão em estado de coma atingiu acertos de 80% na leitura dos sinais cerebrais. Agora, o esforço está na busca de instituições médicas que permitam a aplicação do teste em pacientes diagnosticados. Depois, a tecnologia, que já está patenteada, tem de ser regulamentada por órgãos reguladores do governo brasileiro para chegar ao mercado. Graças ao seu trabalho, Luiz Fernando tem a chance de ser premiado mais uma vez, em sua terceira participação na Intel ISEF, maior feira de ciências do mundo, em Los Angeles, nos Estados Unidos, em maio deste ano. Em julho, ele viaja para Israel para um mês de estudos no Instituto Weizmann.
Reportagem reproduzida de O Pantaneiro – Aquidauana.