Engenheiro do Crea: ‘Maracanã deveria estar fechado’
Por Redação Publicado 15 de março de 2017 às 11:03

Com base em laudo e fotos, Jorge Mattos afirma que estádio não poderia ter sido aberto

Palco da estreia do Flamengo na Libertadores, na quarta-feira passada, o Maracanã, neste momento, não cumpre requisitos de segurança e deveria estar fechado. É o que defende o engenheiro Jorge Mattos, coordenador da Câmara Especializada de Engenharia Civil do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio (Crea-RJ).

Mattos fez a avaliação com base nos laudos da SBP (empresa alemã de engenharia), levados até ele pelo GLOBO, que constam do processo que o governo do estado move contra o Comitê Organizador Rio-2016 pedindo que o órgão pague pelos danos causados pelas cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. O engenheiro também analisou fotos feitas pela reportagem no dia seguinte ao jogo entre Flamengo e São Lorenzo. Hoje, o Crea-RJ vai ao Maracanã para descobrir quem foi o engenheiro responsável pelo laudo técnico que liberou o estádio. Com base neste laudo, a Defesa Civil autorizou a realização do jogo.

— Caso tivesse poder de liberar ou não o estádio, não liberaria, porque isso aqui mostra uma condição extremamente insegura e importante de ser verificada. Tanto que estamos mandando uma fiscalização para apurar quem é o responsável por esse ato — disse Mattos.

Apesar de ter sido reformado em 2013 por R$ 1,26 bilhão, de acordo com o laudo da SBP, o estádio tem peças soltas na cobertura com alto risco de queda. Já as fotos mostram que as escadas de emergência, que deveriam estar fixadas no chão e na parede, estão soltas, podendo causar riscos ao torcedor.

Um dos motivos da reforma no Maracanã foi a necessidade de adequá-lo aos mais rigorosos critérios de segurança. E isso significava ser evacuado em até 13 minutos. Com escadas soltas, como mostraram as fotos, esse tempo sobe, e os riscos aumentam.

— É absolutamente inadmissível que as escadas não estejam presas. O engenheiro responsável por isso deveria ter verificado cada um dos pontos — diz Jorge Mattos. — Imagina em uma emergência, precisando evacuar o estádio, as pessoas passando rápido. Soltas, essas escadas se moveriam e as pessoas cairiam no chão. Isso é perigoso.

RUIM DESDE OUTUBRO

De acordo com o laudo da SBP, a existência de peças soltas, com “risco de queda e urgência no reparo”, já havia sido constatada em outubro do ano passado, quando o Maracanã foi reaberto para o jogo Flamengo x Corinthians, pelo Campeonato Brasileiro.

O documento, elaborado pela empresa alemã SBP a pedido do Rio-2016, diz que “o sistema de fixação do equipamento de som próximo ao eixo 3, um problema típico para os demais pontos onde há o mesmo equipamento, apresenta problemas que devem ser reparados devido a risco de queda dos aparelhos”.

A Odebrecht confirma que o problema na cobertura continua. Comitê e empreiteira (administradora do estádio) trocam acusações sobre de quem é a responsabilidade. O Crea promete investigar, punir o engenheiro responsável e, se preciso for, acionar o Ministério Público para que o estádio permaneça fechado até que os problemas sejam resolvidos.

— O Crea não libera ou deixa de liberar. Temos uma denúncia grave de que não foi feita a verificação adequada. Vamos verificar para punirmos o profissional e provocamos o Ministério Público, com uma ação, para que ele aja no caso — conclui Jorge Mattos.

Fonte: O GLobo