
Descoberta foi feita através de interceptação telefônica com gerente de banco. ‘No IR aparece R$ 21 mil, só que sua renda não é só essa. Sua renda é muito maior né?’, diz bancária.
Uma interceptação telefônica com a autorização da Justiça revela, segundo o Ministério Público Federal (MPF), uma tentativa do diretor da Riotrilhos de esconder dinheiro obtido através de pagamentos de propina. Ele foi preso nesta terça-feira (14), junto com o subsecretário de Turismo do estado e ex-subsecretário de Transportes, Luiz Carlos Velloso.
A dupla foi detida na Operação Tolypeutes — desdobramento da Lava Jato no Rio que investiga corrupção e pagamento de propina em contratos da Linha 4 do metrô.
O MPF afirma que parte da propina era repassada de uma empresa ligada à Odebrecht a CBPO. A CBPO é da mulher de Heitor, Luciana Maia, que transferiria o dinheiro para o marido.
Com a quebra do sigilo bancário, os investigadores identificaram transferência de R$ 10 milhões de Luciana para Heitor. Eles também interceptaram uma ligação telefônica entre Heitor Lopres e a gerente de um banco, Patrícia Cavalcante.
PATRÍCIA: Porque o meu receio é exatamente, por exemplo, o meu receio é quando na hora, já que eles tão focalizando muito na conta de vocês, diretor, eles olharem que você mudou pra conta da Luciana R$ 1 milhão depois achar né… que tipo assim… você está querendo esconder alguma coisa. Porque no Imposto de Renda aparece a renda de R$ 21 mil, só que sua renda não é só essa. Sua renda é muito maior né?
HEITOR: Tá.
Obra de R$ 10 bilhões
Segundo o acordo de leniência de executivos da Carioca Engenharia, o esquema de corrupção que existia na Secretaria de Estado de Obras do RJ, com a cobrança de propina das empreiteiras envolvidas em contratos bilionários de obras civis – revelado em operações anteriores da Lava Jato –, também se repetia na Secretaria de Estado de Transporte.
De acordo com depoimentos, Heitor recebia a propina no canteiro de obras e em dinheiro vivo. Ele era sócio de duas empresas que prestavam serviço para a construção da Linha 4 do metrô, inaugurada pouco antes da Olimpíada do Rio, ligando Ipanema, na Zona Sul, à Barra da Tijuca, na Zona Oeste.
As obras custaram cerca de R$ 10 bilhões. Além da Carioca Engenharia, outras duas grandes contrutoras formavam o Consórcio Rio Barra, responsável por parte da obra: a Odebrecht e a Queiroz Galvão.
A equipe de reportagem não conseguiu contato com os advogados de Heitor Lopes, Luiz Carlos Velloso, Luciana Maia, Renata Monteiro Borges e Patrícia Cavalcante.
A RioTrilhos disse que desconhece o teor das acusações e se coloca à disposição para esclarecimentos.
A Carioca Engenharia disse que não vai comentar a operação. A CBPO, ligada à Odebrecht, não havia respondido até última atualização desta reportagem.
Em nota, a Secretaria de Estado de Turismo informou que Velloso vem exercendo as funções de subsecretário desde janeiro de 2015 com lealdade e competência.
Fonte: G1