Mais de mil pessoas procuram a Defensoria por mês atrás de remédios
Por Redação Publicado 10 de março de 2017 às 17:17

Diagnosticada com lúpus há 12 anos, Cristina Adermo, 33 anos, precisa de dois remédios de uso contínuo para controlar os sintomas da doença, conforme laudo médico emitido pelo HU (Hospital Universitário) de Campo Grande. Um deles é um medicamento imunobiológico, Belimumab, que é injetado diretamente na veia, mas que se encontra com estoque desabastecido na Casa da Saúde. A paciente, que mora no bairro Colibri I, teve que entrar com processo na Defensoria Pública porque é uma medicação cara. Casos como esse são comuns. De janeiro a março deste ano, o órgão, que fornece auxílio jurídico gratuito a quem não pode pagar advogado, atendeu 3.901 pessoas que, com receitas médicas nas mãos, solicitavam 1.195 medicamentos diferentes — todos considerados “fora de lista” ou não cumpridores do protocolo clínico do SUS (Sistema Único de Saúde).

Se fosse comprar o medicamento na farmácia, Cristina gastaria por mês R$ 3 mil. O lúpus é provocado por um desequilíbrio do sistema imunológico, que atinge a pele e provoca até manchas.

Mas dentro do tratamento há outro medicamento considerado carro-chefe, o Prednisona, que anda em falta nas unidades de saúde. “A última vez que peguei no posto de saúde acredito que foi no meio do ano passado. Por faltar muito na farmácia, às vezes, as pessoas pegam de cinco, precisando de dez doses. Mas neste momento não tem nada. Resolvi passar a comprar já faz uns três meses”, relata Cristina, durante a fila de atendimento na Defensoria.

O órgão estadual não tem um levantamento dos números de todo Mato Grosso do Sul no ano passado porque o sistema passou a ser informatizado a partir de março. Mas dados parciais apontam que de março a dezembro de 2016, 11.191 ações judiciais na área da saúde no Estado, o que inclui pedidos de medicamentos em geral (não só especiais) e de tratamentos de saúde. Especificamente só em Campo Grande, foram 8.098 pedidos sendo 2.623 relacionado a medicamentos.

Mesmo com aval jurídico, o paciente tem desembolsado para comprar insulina

Acompanhado da esposa, o aposentado Evaldo Nantes, amanheceu na porta da Defensoria para dar entrada em um novo pedido por insulina. O motivo é que o medicamento está em falto no CEM (Centro de Especialidades Médicas). Diabético, Evaldo é dependente dos medicamentos Lantus e Aprida. “Já existe autorização para retirada do medicamento, mas como não tem, a Defensoria vai abrir novo processo para que o município solicite ou pague uma farmácia para retirarmos o medicamento”, explicou Josélia Pereira.

Ela conta que o casal não está conseguindo lidar financeiramente com a situação, que se agravou neste ano. Só com um medicamento é gasto R$ 1 mil por mês. “O que estamos fazendo é comprar um mês e deixar o outro sem”, lamentou a moradora do bairro Pioneiros.

Prefeito vai pagar dívida com fornecedores

Diante da reclamação generalizada da falta de medicamentos nas unidades de saúde pública de Campo Grande, a Sesau (Secretaria de Saúde Pública de Campo Grande) informou ter iniciado a autorização de empenhos para pagamentos de fornecedores de medicamentos. A previsão é que os estoques nas unidades de saúde sejam restabelecidos em até 15 dias.

A falta de medicamentos é atribuída às dívidas atrasadas de R$ 20 milhões com fornecedores. Parte do empenho será usada para quitar esses débitos com as empresas, que aguardam pagamento desde agosto de 2016. “A atual administração conseguiu, por meio de negociações com estes fornecedores, que a entrega dos medicamentos para a Sesau não fosse prejudicada”, diz nota da secretaria.

Em agenda pública, o chefe do executivo municipal, Marquinhos Trad (PSD), disse que a prefeitura pagará suas dívidas. “Vamos resolver os problemas com responsabilidade, nós vamos pagar nossas dívidas. Campo Grande não é caloteira, na minha gestão ela não vai ser, vamos negociar com todos os fornecedores”, disse.
Foram solicitados empenhos de 257 medicamentos, como dipirona sódica, amoxicilina cápsula, losartana potássica, metformina, omeprazol, lidocaína, ibuprofeno gotas, furosemida, captopril e solução fisiológica. Os novos empenhos agora precisam passar por questões burocráticas de pagamento, mas isto não impede que os produtos sejam entregues na farmácia central do município. (BA, com Mauro Silva)

Fonte: O Estado Online/Bruno Arce