Nas próximas semanas, duas escritoras lançam em Campo Grande livros que propõem meditações sobre o amor e suas incoerências. “Os Homens Não Amam as Mulheres” e “Nau dos Amoucos” são as novidades apresentadas por Lucilene Machado e Isloany Machado, respectivamente. Ambas são personalidades atuantes na literatura sul-mato-grossense e apostam desta vez em assuntos que vão muito além do clichê romântico que vem associado aos temas.
Os livros trazem escritas cheias de referências e significados que se inter-relacionam, sob o olhar de duas mulheres. Representam, sobretudo, duas novas contribuições para o fortalecimento da literatura feminina no Estado.
DIÁLOGO
“Os Homens Não Amam as Mulheres” é a oitava produção de Lucilene. Nesta obra, reúne 26 crônicas que falam sobre as relações entre objetos de desejo, as paixões que roubam senso crítico e sobre conflitos que fazem parte existência humana – parte deles peculiares à mulher.
O nome do livro foi escolhido a partir de uma das crônicas em que a autora se propõe a fazer um diálogo com produção do mesmo gênero do escritor português Lobo Antunes. De antemão, ela revela que a afirmação feita no título é desconstruída durante a leitura.
Na opinião da autora, o amor é um tema sofisticado tanto quanto também é banal, e falar dele é “sempre um risco, um atrevimento”. Sobre sua própria perspectiva acerca do assunto, conta. “Procuro intuir o que as pessoas pensam, tento quase que adivinhar por que o amor é assunto que as pessoas não declaram explicitamente. Se você sair às ruas e perguntar às pessoas se elas acreditam no amor, elas provavelmente dirão que não. Mas não é necessariamente a verdade, é só a forma como elas se defendem contra o que querem de fato. Na verdade elas acreditam e fingem que não acreditam. A maioria das pessoas jogaria fora esse ‘descrédito’ ao amor se pudesse, mas grande parte não tem e não terá a chance de fazer isso”.
Para Lucilene, é por esse motivo que o amor “tem uma lógica triste”. No livro que lança agora, a intenção não é defender sua perspectiva sobre amor, dor, felicidade e vida como um todo. Como escritora, só deseja “organizar as palavras em um formato que possam manifestar de maneira precisa as coisas incertas e indefinidas”, para que elas então se misturem às múltiplas interpretações dos leitores, e gerem algum nível de identificação.
A nova publicação carrega influências de Ariano Suassuna, Carlos Drummond de Andrade e Milan Kundera.
Lucilene escreve desde a infância mas diz que ainda se sente iniciante. Já se aventurou pelos gêneros bibliografia, poesia, conto, ensaio e infantil e é também doutora em Literatura e professora. Uma de suas produções de destaque é “Claricianas”, escrita em parceria com Edgar Nolasco.
LOUCURA
O amor e a loucura foram os temas extremos que a escritora, psicóloga clínica e psicanalista Isloany Machado escolheu para o seu primeiro romance, “Nau dos Amoucos”. Ele é o resultado da atuação, paixão e conhecimento em psicanálise da autora, e também de uma mistura de histórias reais e inventadas.
Os dois assuntos se encontram em uma linha tênue, como diz Isloany. Apesar de sua complexidade, ela procura enquadrá-los com a leveza de sua escrita. A partir de um narrador onipresente, conta um pedaço da vida do protagonista Inácio, um homem que lida com a morte da mãe, com a loucura manicomial e com seu próprio jeito de enxergar o amor.
Evidentemente a psicanálise, a literatura e recortes da realidade se unem para formar o todo da história. A autora conta que a inspiração para o livro veio de “histórias de amores perdidos que se repetem, de conflitos familiares e de outras questões que são humanas em sua essência”, muitas das quais escuta todos os dias em seu consultório e outras de suas próprias histórias de infância “que não se sabe se são ficcionais ou reais”.
Leituras como “A História da Loucura”, de Focault, e os livros-reportagem “Holocausto Brasileiro”, de Daniela Arbex, e “O Capa Branca: de funcionário a paciente de um dos maiores hospitais psiquiátricos do Brasil”, de Daniel Navarro Sonim e Walter Faria, compõe suas influências para escrevê-lo.
Amoucos, palavra que está no título, não se trata de um neologismo. A princípio aparenta ser um termo formado pela soma das palavras amor e louco, mas a autora esclarece: se trata de uma palavra existente, e com um significado forte, inclusive – “cheio de fúria, votado à morte; desesperadamente obcecado”.
Isloany publicou outros dois livros “Costurando Palavras”, de contos, e “Em defesa dos desavessos humanos”, de crônicas. Conheceu a psicanálise dentro da literatura e começou a escrever, curiosamente, por intermédio da experiência profissional. Para ela, a escrita “surgiu no processo de autoanálise, em meio a histórias que já vivi e nem tenho certeza se aquilo aconteceu de fato, como acontece com todo mundo”.
SERVIÇO
O lançamento de “Os Homens Não Amam as Mulheres” será no dia 17 de fevereiro, às 18h. “Nau dos Amoucos” no dia 4 de março, também às 18h. Os dois eventos acontecem na livraria Leparole (Rua Euclides da Cunha, nº 1.126), com a presença das escritoras.
Fonte: Correio do Estado/Cassia Modena