É hora de cuidar da transição
Por Redação Publicado 18 de outubro de 2016 às 15:33

Faça isso enquanto está no auge da carreira.
E desapegue dessa história de cargos

A previsão era de uma manhã bem difícil. Roberto (nome fictício), vice-presidente global de uma poderosa companhia e encarregado das operações na Ásia, fora o escolhido pelo board para a inglória tarefa de comunicar a Vijay (também um nome fantasia), o CEO da filial da Índia, a decisão da última reunião: Vijay seria “convidado” a assumir uma posição de “staff”, pois lhe faltavam as habilidades necessárias para uma fase mais empreendedora da companhia. Traduzindo o corporativês: o CEO seria rebaixado de cargo – algo permitido pelas leis locais.

A conversa foi surpreendentemente rápida. Vijay recebeu a notícia calado e aquiesceu. Missão cumprida, Roberto voltou para sua base em Cingapura certo de que o assunto estava resolvido. Qual o quê… Ao abrir o computador, deparou-se com um e-mail longo e confuso de Vijay. Leu, releu e não conseguiu entender qual era o problema. Pediu novas explicações e recebeu outro e-mail ainda mais longo – e ainda mais indecifrável. Diante do impasse, decidiu voltar à Índia para tentar esclarecer o assunto.

Vijay foi logo apresentando suas condições: até admitia redução de salário, mas gostaria que a empresa mantivesse o seu título de CEO. A solução encontrada por Roberto foi “promover” Vijay a CEO de uma nova região, Índia/Sri Lanka (muito mais Sri Lanka do que Índia), e contratar um executivo para acelerar a operação indiana. Meses depois dessa resolução, Roberto foi convidado para uma festa na casa de Vijay, em Nova Délhi. E entendeu o motivo do pedido pela manutenção do cargo. No portão de entrada, uma placa anunciava: aqui mora Vijay, CEO. O curioso, reparou, era que casas vizinhas ostentavam placas semelhantes, deixando clara a posição de cada um no mundo executivo. O rebaixamento social seria, portanto, pior que a queda corporativa.

Duas lições vêm à mente com esse episódio. A primeira é o quanto estamos presos à nossa placa ou aos nossos cartões de visita. E a segunda é a possibilidade de, após certo tempo de estrada (pense em profissionais com 45 anos ou mais), recebermos um chega-para-lá em conta-gotas até a inevitável demissão. Ter um projeto de transição, portanto, é fundamental enquanto ainda estamos no auge. Se quiser cuidar, você mesmo, do segundo tempo de sua vida, sugiro três exercícios: 1) Defina quem você é. Construa uma rápida biografia, registrando fatos marcantes da sua história e a influência que eles tiveram em sua vida. Então, escreva em uma folha quem é você e quais são os seus três maiores talentos. Peça a pessoas de sua confiança que também o avaliem, sem filtros. Depois compare sua percepção com a percepção externa. 2) Projete quem você quer ser. Descreva como quer ser percebido e quais objetivos pretende atingir, no trabalho e na vida. Não se preocupe com os outros – o que vale, nesta fase, é a autoestima. 3) Elabore metas anuais e enumere as ações a serem tomadas para que o objetivo seja alcançado. Revise a cada três meses o plano de voo, para saber se está cumprindo o que prometeu.

Por mais singelos que pareçam, os exercícios acima nos ajudam a organizar um período decisivo de nossas vidas. Também nos ajudam a abandonar a sensação de parecer sempre um refém da atual condição profissional. Viver sem placas é possível. E bem mais leve.

Fonte: G1