Empresário que atirou em músico diz que agiu em legítima defesa
Por Redação Publicado 7 de outubro de 2016 às 12:38

Pedreiros que trabalhavam nas obras do mutirão para construir moradias populares no Jardim Canguru e no Bom Retiro paralisaram seu serviços nesta sexta-feira (5) por falta de pagamento. As construções, que deveriam abrigar as famílias removidas da favela Cidade de Deus, já foram interrompidas em outras ocasiões por falta de material.

Campo Grande News esteve nos dois locais e conversou com moradores e trabalhadores. “Estou há 40 dias sem receber e toda semana prometem uma nova data. Minhas contas estão todas atrasadas e estou passando dificuldades em casa”, conta Claudemir Pereira Santos, 32 anos, que trabalha como pedreiro no loteamento do Canguru.

Além do atraso no pagamento, os pedreiros se queixam da informalidade do serviço. Eles dizem receber o salário em mãos, sem holerite, não são registrados profissionalmente e também trabalham sem os EPIs (Equipamento de Proteção Individual) necessários.

“Também nos comunicaram de que tínhamos uma meta a ser cumprida para receber, mas não tinha nada sobre meta quando começamos a trabalhar”, expõe o pedreiro José Fernando da Silva, 33 anos, alocado na obra do Bom Retiro.

Os materiais e a mão de obra são responsabilidade da ONG (Organização Não-governamental) Morhar, que recebeu R$3,6 milhões para executar os trabalhos em quatro loteamentos montados pela Prefeitura para remover as famílias da Cidade de Deus.

São essas famílias as principais afetadas pela situação. No Canguru, onde cerca de 42 delas estão desde março, o clima é de desânimo. “Ainda falta o acabamento em todas as casas e três ainda faltam construir. Já pagamos, mas a dignidade que tanto nos prometeram, nada”, resume Edileuza Luiz, 37 anos, que toca a Escolinha Filhos da Misericórdia.

No bairro de Edileuza, de fato, a maioria das casas está com paredes levantadas, mas todas elas ainda não têm teto nem janelas e, por isso, as famílias seguem vivendo em barracos nos fundos de cada terreno.

No Bom Retiro, na região da Vila Nasser, a situação é a mesma. “A promessa é que iam entregar 10 de setembro, mas tem que finalizar as casas ainda. Enquanto isso continuamos no barraco e só temos o banheiro químico pra usar. Estou pagando, tenho cinco filhos e quero receber minha casa pronta”, contou uma mulher que não quis se identificar.

Essa moradora explicou que optou pelo silêncio porque seu marido, que trabalhava em uma das obras da Morhar, deu uma entrevista uma vez reclamando das condições e nunca mais foi contratado, assim como não recebeu.

No mutirão assistido, maneira como as casa estão sendo construídas, a Prefeitura banca 40% da construção e o morador paga os 60% restantes parcelados junto ao valor do terreno, que é de 10x20m.

Além do Canguru e do Bom Retiro, as famílias do Cidade de Deus foram deslocadas para um conjunto habitacional do Vespasiano Martins, esse já entregue, e para um loteamento no Dom Antonio Barbosa, perto do lixão e da antiga favela.

Confusão – “Essas informações dos funcionários não procedem. Isso é um mutirão assistido e é assim mesmo, tem meta, mas estamos dentro do cronograma e até semana que vem eles devem receber”, disse Rodrigo Guerra, responsável pela Morhar, que esteve no Bom Retiro para negociar com os trabalhadores hoje.

As negociações no entretanto, não terminaram bem. A reportagem presenciou Rodrigo e outros funcionários da Morhar gritando com os pedreiros e o fotógrafo do Campo Grande News foi ameaçado de processo caso fizesse imagens dos representantes da empresa.

Procurada pela reportagem, a Prefeitura ainda não se manifestou sobre o assunto.

O empresário Fauez Mohamed Ayoub confessou ter atirado no músico Eduardo Lincoln Gouveia, 60, após discussão em um bar no Centro de Campo Grande na noite de quarta-feira (05). Segundo o advogado de Ayoub, o disparo foi feito em legítima defesa.

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Em entrevista ao Campo Grande News, Marcos Ivan, que representa o autor, contou que Ayoub e Lincoln haviam se encontrado em uma festa na casa de um amigo no último domingo (01), ocasião em que trocaram brincadeiras sobre a orientação sexual um do outro.

A festa terminou sem confusão, mas, segundo o advogado, o músico ficou ofendido e teria procurado Fauez para tirar satisfação sobre as piadas no bar Copo Sujo, que é frequentado pelos dois há muitos anos, na segunda (03) e na terça-feira (04).

Sem encontar o empresário, Lincoln retornou ao estabelecimento na quarta-feira (05) e, segundo advogado e testemunhas, estava muito alterado, falando alto e procurando Fauez, que dessa vez estava lá.

“Ele achou até que era brincadeira, mas Lincoln insistiu na discussão e partiu pra cima dele, foi quando ele sacou a arma e atirou para se defender”, contou Marcos.

O defensor não soube precisar, entretanto, a origem da arma que fez os disparos, se limitando a comentar que se trata de uma arma que está com Ayoub, que não tem nem registro da arma nem porte para carregá-la, há mais de vinte anos.

Ivan comentou ainda que Ayoub não tem o costume de andar armado, e só estaria com a arma aquele dia para tentar vendê-la aos amigos do bar. Haviam seis munições no revólver, mas só uma foi utilizada.

A bala disparada por Fauze atingiu Lincoln no abdômen e perfurou seu intestino em cinco locais diferentes. Os estragos já foram reparados com cirurgia realizada na Santa Casa de Misericórdia, onde o músico ainda está internado, estável e se recuperando bem.

Depois do ocorrido, Ayoub estaria sendo ameaçado pela família de Lincoln e por isso procurou a polícia para dar sua versão. Por enquanto, o empresário responde por tentativa de homicídio, mas a defesa seguirá a estratégia da legítima defesa.

Fonte: Campo Grande News