Vice-campeão mundial sub-20, treinador tem 17 anos de experiência na base, troca ideias com Fernando Diniz e é apontado como um dos mais ofensivos do Brasil
Até a demissão de Dunga, selada nesta terça-feira, a principal discussão sobre a Seleção olímpica era sobre a transição de um time treinado, testado e montado por Rogério Micale para as mãos do agora ex-treinador Dunga. Com a confirmação de Micale nos Jogos Olímpicos, porém, a discussão deixa de existir. E agora quem iniciou o trabalho em setembro de 2015 responderá por ele dentro das quatro linhas.
O currículo de Micale é completamente diferente de seus antecessores. O treinador, que comandará a Seleção nos Jogos Olímpicos, não carrega no nome a grife de um Dunga, tetracampeão mundial e que esteve à frente da equipe em 2008. Tampouco tem uma história vencedora no futebol nacional, como Vanderlei Luxemburgo tinha em 2000, ou Mano Menezes, em 2012. A aposta do técnico vice-campeão mundial sub-20 é no novo. No estudo, na busca por um modelo de jogo diferente, e no trabalho coletivo do time. É capaz de falar por horas e horas sobre futebol sem se entediar, para explicar conceitos e transmitir conhecimento.
Por essa crença, ele vivia um sentimento de gratidão pela oportunidade recebida, misturado com um desconforto em falar sobre um time que, na verdade, não seria dele. Nas entrevistas, sempre dizia que passou a vida preparando jogadores para outros técnicos aproveitarem e que não era algo novo. Mas quando não concordava com alguma escolha (as convocações para a Seleção olímpica sempre foram feitas por Dunga), deixava transparecer certo incômodo em alguns momentos das entrevistas, embora não externasse nada.
Estilo de jogo ofensivo e parceria de 11 anos
Na base, Micale sempre montou equipes ofensivas. Conhecido entre os adversários por atuar na maioria das vezes com a linha de marcação alta (zagueiros quase no campo de ataque), Micale divide opiniões. Há quem critique a opção, argumentando que, se não houver uma boa marcação dos atacantes, o time fica muito exposto na defesa. Há também quem admire a coragem do treinador e o banque em todas as situações.
É o caso de Erasmo Damiani, coordenador da base da CBF, que o contratou para o Figueirense em 2005 e o indicou para a Seleção sub-20 dez anos depois.
– No Figueirense, queríamos contratar o Leandro Niehues, que acabou indo para o Atlético-PR. Ele nos indicou o Micale, que estava nos juniores do Londrina. Vi um jogo dele, gostei da postura dele e do time, e o contratamos para o Figueirense.
No Figueirense, foram quatro anos, entre 2005 e 2009, e um título inédito conquistado para o clube: o da Copa São Paulo de Juniores de 2008. Demitido em 2009, acertou com o Atlético-MG, clube no qual ficou até 2015, e pelo qual foi duas vezes campeão da Taça BH de Juniores, em 2009 e 2011 (na última delas, o destaque foi Bernard).
Com os bons resultados (além do vice-campeonato mundial sub-20 de 2015, veja vídeo abaixo), Micale reforça a aposta no futebol ofensivo sempre que possível, com liberdade de criação para os jogadores.
– Eu gosto de jogar futebol bonito, de futebol bem jogado, tentando buscar o gol a todo momento, ter a leitura do jogo, levar os atletas a ter a leitura de jogo, saber a melhor situação para cada jogada. Que eles não sejam simplesmente automatizados, robotizados, mas saibam escolher – disse, em entrevista ao GloboEsporte.com em 2015, pouco antes da final do torneio, contra a Sérvia.
Taticamente, além da linha alta, é possível ver nas equipes de Micale a participação de até sete, oito jogadores na construção do jogo ofensivo. Em alguns momentos, há a escolha por um 4-2-4 com a bola, e ainda assim, com os pontas bem abertos, os laterais sempre avançam, se apresentando para tabelas e cruzamentos. E a ideia é que os volantes também cheguem para finalizar na área. Não por acaso, um dos técnicos com os quais ele mais conversa atualmente é Fernando Diniz, do Oeste, que também é conhecido por montar equipes ofensivas. Outro nome bastante elogiado pelo treinador da Seleção olímpica é o de André Jardine, campeão da Libertadores Sub-20 pelo São Paulo em 2016.
Mudanças de jogadores
Com a efetivação de Micale na Seleção olímpica, é provável que alguns jogadores que participaram do Mundial Sub-20 e já conhecem o trabalho do treinador ganhem espaço. Um exemplo é Danilo, que foi apontado como o melhor jogador do Brasil no torneio, mas não agradava Dunga e foi convocado apenas uma vez na preparação.
Outro nome que agrada bastante ao novo treinador é o de Andreas Pereira, meia do Manchester United. Autor do gol brasileiro na final do Mundial Sub-20 contra a Sérvia, ele atuou em alguns jogos dos profissionais dos Red Devils na temporada, e fez um gol no último amistoso da Seleção olímpica, na vitória por 3 a 1 sobre a África do Sul.
Fonte: Ge