Presidente afirmou que há ‘dois pesos e duas medidas’ sobre pedaladas fiscais
SALVADOR – Emocionada, a presidente Dilma Rousseff voltou a defender nesta terça-feira que o processo de impeachment contra ela, em análise no Senado, é um “golpe”, durante cerimônia de entrega de unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida, em Salvador. Dilma se disse injustiçada e, sobre as acusações de que cometeu crime de responsabilidade ao realizar as chamadas pedaladas fiscais, afirmou que há no país “dois pesos e duas medidas”, já que outros presidentes também teriam adotado a mesma estratégia desde 1994.
– Não há crime de responsabilidade e nunca recebi dinheiro de propina. Eu não tenho contas no exterior. Não sou acusada de corrupção – disse a presidente, antes de acrescentar:
– Estou sendo vítima de uma injustiça. Querem sentar na minha cadeira, mas sem voto.
A presidente também criticou o programa “Uma ponte para o futuro”, proposto pelo vice-presidente Michel Temer para seu eventual governo. Ela alegou que a intenção de Temer é cortar os programas sociais.
– A gente sabe que tem um programa, começa com uma coisa muito grave. Eles falam em revisitar os programas sociais. Que que é revisitar os programas sociais? Revisitar os programas é diminuir a quantidade de dinheiro que o governo federal investe. Querem desvincular a obrigação do governo em gastar com educação e saúde. Mesmo nós passando por dificuldades, é possível sair dessas dificuldades sem comprometer os programas sociais – declarou.
A presidente Dilma Rousseff tratou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, como “corrupto” no discurso ao se referir à aprovação do processo de impeachment na Câmara:
– Não tem uma acusação que diga que eu peguei dinheiro para mim. Como não acharam nenhum motivo, fica tudo mundo nebuloso. Muitas das ações das quais me acusam, sequer eu participei ou fiz o ato. Então, o que está acontecendo? Como não acharam nenhum outro motivo como aqueles que me acusam praticaram, como os crimes que eles praticaram, crimes de corrupção, do que eles são acusados, eles vão ter que responder. Agora, eles têm acusação, eu não tenho acusação. E o mais estranho é que quem me julga é corrupto. Essa pessoa, que é o presidente da Câmara, é uma pessoa que todo mundo sabe no Brasil que tem conta no exterior, é acusado pela Procuradoria Geral da República.
Nesse momento, Dilma foi interrompida pelo coro “Fora Cunha, fora Cunha” de militantes do MST e Movimento dos Sem Tetos presentes no evento. A presidente agradeceu aos 24 deputados federais baianos que votaram contra o impeachment na Câmara, muitos dos quais presentes no evento.
Antes de subir ao palco, ela recebeu um abraço coletivo de dezenas de mulheres. O governador da Bahia, Rui Costa, discursou em defesa do mandato da presidente.
– O voto do povo tem que ser respeitado – afirmou, acrescentando:
– Esse golpe é da elite endinheirada que não se conforma com a construção de um país pujante, que deu casa para quem precisa – disse ele.
Fonte: O Globo