Departamento jurídico agrega valor?
Por Redação Publicado 15 de setembro de 2015 às 13:33

UMA EMPRESA DEVE SER CAPAZ DE GANHAR DINHEIRO AGREGANDO VALOR AOS SEUS CLIENTES. A ÁREA JURÍDICA, EMBORA IMPORTANTE, NÃO AJUDA DIRETAMENTE NISSO

Recentemente estive falando para uma grande construtora que está querendo seguir adiante com novos princípios, valores, novo modelo de negócio e novas práticas, abandonando as anteriores. Após apresentar algumas ideias e conceitos, surgiu uma pergunta que não esperava e que não entendi direito: “A área jurídica de uma empresa agrega valor?”.

Minha apresentação havia focalizado, entre outras coisas, na importância de focalizar na agregação de valor para os clientes como propósito principal de qualquer organização.

Inocente, respondi que a área jurídica de uma companhia não agrega valor para o cliente. Ela é necessária para a maioria das empresas, mas não é algo pelo que os clientes finais pagam, a não ser, obviamente, se for uma organização prestadora de serviços legais.

E afirmei que um departamento jurídico pode ser, em muitos casos, muito mais eficiente do que é. Dei exemplos de como a área jurídica pode ser mais útil, com melhorias em seus processos, gerando melhores resultados, melhor qualidade e produtividade, mais satisfação aos colaboradores, com um trabalho mais nobre, liberando capacidade para poder fazer mais e eliminado a necessidade de contratar escritórios externos.

Mas percebi que não era essa a questão de fundo.

Como se tratava de uma construtora, perguntas genéricas, como “qual o propósito de uma empresa?”, “para quê ela existe?”, “que valor ela agrega para clientes, acionistas e colaboradores?” etc., poderiam ser respondidas com argumentos, por exemplo, sobre a necessidade de entregas de construções de alta qualidade, nos menores prazos e custos possíveis…

Mas ao final do evento, o novo presidente da empresa disse que um dos seus objetivos principais era eliminar a necessidade de aditivos e reduzir as pendências judiciais ao final de cada obra. Senti que isso causou um impacto grande nos presentes.

Nessa construtora, sistematicamente, parecia ser parte do modelo de negócios a atividade de gerar aditivos e pendências legais. Ou seja, gerava faturamento. Mas não valor. Isso cria espaço para irregularidades de toda a ordem, além de não cumprimento de prazos, custos mais altos do que previsto, desperdícios de todo tipo que frustram a todos.

Poderíamos pensar que o propósito de uma companhia seja simplesmente ganhar dinheiro. Mas cremos que isso deve ser a “consequência” da empresa ao atingir seu propósito. Assim, uma empresa farmacêutica está preocupada em desenvolver, produzir e comercializar medicamentos que minorem ou resolvam problemas de saúde das pessoas.

Ou uma organização do setor automotivo, que deve estar preocupada em ajudar a resolver o problema da mobilidade, através de produtos seguros, confortáveis, de boa qualidade e preço adequado. Ou ainda, um restaurante, que pode querer resolver a necessidade das pessoas de se alimentar, em um ambiente agradável.

Assim, parece óbvio admitir que o propósito de uma construtora, por exemplo, de grandes obras, seja projetar, construir e entregar projetos de infraestrutura, como viadutos, estradas, aeroportos, pontes, barragens, refinaria de petróleo e plataformas.

Sabemos que, como em sua maioria, cada projeto de construção é único, e problemas novos, a cada obra, tenderão a acontecer. Temos experiências pessoais que nos mostram como uma simples reforma de casa ou apartamento pode ser tremendamente desafiadora, pois muitas coisas inesperadas acontecem, afetando prazos de entrega e custos.

Mas, no caso daquela construtora para a qual estava falando, qual deveria ser o propósito? Entregar obras ou produzir aditivos e gerar pendências judiciais? Afinal, qual era o propósito?

Talvez fosse essa a forma como essa empresa gerava boa parte dos resultados financeiros e lucros. Mas isso não é correto. Uma empresa deve ser capaz de ganhar dinheiro agregando valor aos seus clientes. A Área Jurídica, embora importante, não ajuda diretamente nisso.

(José Roberto Ferro é presidente do Lean Institute Brasil, escreve às terças-feiras)

Fonte: Época Negócios