‘Piores momentos da vida’, diz marido de mulher esquartejada no RS
Por Redação Publicado 27 de agosto de 2015 às 17:02

CĂ­ntia Glufke, 34 anos, foi morta em 7 de agosto; marido estava nos EUA.
Amigo é assassino confesso; sogro da vítima também estå preso.

Quase uma semana apĂłs o esclarecimento da morte da mineira CĂ­ntia Beatriz Lacerda Glufke,de 34 anos, assassinada e esquartejada no inĂ­cio do mĂȘs em Porto Alegre, o viĂșvo ainda nĂŁo se conforma com as circunstĂąncias envolvendo o homicĂ­dio.

“Foi um dos piores momentos da minha vida. Quando eu descobri que ela estava não apenas morta, mas que tudo ocorreu de uma forma tão cruel”, disse ao G1 o programador de computador Thomas Glufke, 34 anos, que era casado com Cíntia há mais de 10 anos.

O assassino confesso, o recepcionista Vandré Centeno do Carmos, de 25 anos, era amigo e ex-colega de trabalho da vítima. Ele afirmou que o microempresårio Werner Glufke, 65 anos, pai de Thomas, participou do crime. Ambos estão no Presídio Central, na capital.

Crime
A mulher foi agredida na cabeça, possivelmente com uma machadinha, e depois teve braços e pernas serrados. O tronco e a cabeça foram enterrados no påtio da casa de Vandré, e os membros escondidos em uma mala jogada em um lixão, em São Joaquim (SC), encontrada por um catador de lixo.

O assassino confesso havia trabalhado com a vítima em um hotel emPorto Alegre, onde se tornaram amigos. Os dois foram colegas também em um curso de comissårio de bordo.

À polĂ­cia, VandrĂ© afirmou que tinha um envolvimento amoroso com CĂ­ntia e que a matou na tentativa de terminar o relacionamento.

O marido estava em Seattle (EUA) quando o crime aconteceu, em 7 de agosto. O casal planejava obter visto americano e se mudar em breve. Cíntia, porém, voltou ao Brasil antes. Até o dia 9 de agosto, Thomas recebeu notícias da mulher.

“Eu, famĂ­lia, amigos, todos recebemos mensagens, enviadas do nĂșmero do celular da CĂ­ntia. Mas ela jĂĄ estava morta. O assassino simulou tudo isso, ele escreveu as mensagens se passando por ela”, conta o viĂșvo.

O conteĂșdo das mensagens, porĂ©m, causou estranhamento. “Ela escreveu que queria a separação, que nĂŁo queria mais nada comigo. Que ia embora para Curitiba. Isso foi um choque pra mim”, diz Thomas.

“AtĂ© que ela parou de me responder e simplesmente desapareceu. NĂŁo tive mais notĂ­cia nenhuma”, relembrao viĂșvo. “Como ela tinha dito que ia me abandonar, entendi que ela nĂŁo respondia porque nĂŁo queria mais falar comigo. Mas comecei a ficar preocupado”.

Pistas
Dias passaram e a família começou a procurar pistas. Thomas pediu ao pai que fosse até o apartamento do casal, onde o crime aconteceu, na Zona Norte da capital. Lå foram encontrados os pertences de Cíntia, como malas e carregadores de celular e notebook. Além disso, havia roupas na måquina de lavar.

“SĂŁo vĂĄrias evidĂȘncias de que ela nunca saiu do estado”, afirma Thomas. Segundo ele, nĂŁo havia sinais de sangue. “Ele [VandrĂ©] mentiu do inĂ­cio ao fim, o tempo todo”.

Intrigado, o marido conseguiu acessar o e-mail de CĂ­ntia. Foi quando comparou as mensagens virtuais com as recebidas dias antes no celular. “Reparei que elas [mensagens] continham inĂșmeros erros de portuguĂȘs. A CĂ­ntia nunca escrevia errado. NĂŁo foi ela que escreveu”, afirma.

Ainda nos EUA, Thomas sugeriu que procurassem Vandré para buscar informaçÔes sobre o paradeiro de Cíntia, sem desconfiar da autoria do assassinato. Ele afirma que o assassino da esposa era considerado amigo da família.

“Eu achava que ela estava com ele. Pensei nele porque não existia outra pessoa que conhecesse a mim, a Cíntia e os amigos e familiares dela”, justifica. “A gente pensava que algo tinha acontecido, mas não morte. A gente não achava que um amigo da família faria isso”, diz.

Reconhecimento
De volta ao Brasil, Thomas acompanhou de perto o desfecho trågico do sumiço da esposa. Precisou reconhecer, em fotos, as partes do corpo da mulher.

“Eu vi as mĂŁos da CĂ­ntia, os pĂ©s da CĂ­ntia. Foi um dos piores momentos da minha vida”, relata, com a voz embargada.

Vandré foi preso em 21 de agosto, quando foram encontrados o tronco e a cabeça de Cíntia, enterradas no påtio da casa do suspeito. A confissão do assassinato surpreendeu Thomas.

“Ele era uma pessoa calma, tranquilo, sem motivo para ser violento. Lembro apenas que a Cíntia comentava que ele tinha umas ideias estranhas. Ele detestava o trabalho dele, o chefe dele. Mas jamais imaginei que ele faria uma coisa dessas com ela. Uma amiga que só quis ajudá-lo”, diz.

Thomas confirma que VandrĂ© frequentava a residĂȘncia do casal, mas diz nĂŁo acreditar queCĂ­ntia tivesse um relacionamento com o suspeito, como ele relatou em depoimento. “A gente nĂŁo sabe o que isso que ele disse significa. Ele ocultou provas, conversas. Dois dias apĂłs o crime, o celular dele conveniente foi roubado”, afirma Thomas. Ele nega que passasse por uma crise conjugal com CĂ­ntia. “FazĂ­amos planos juntos, de morarmos nos EUA”.

Sogro
ApĂłs ser preso, VandrĂ© disse Ă  PolĂ­cia Civil que o sogro da vĂ­tima teria envolvimento na morte da nora. Thomas, porĂ©m, diz ter certeza que o pai nĂŁo tem qualquer relação com o homicĂ­dio. “Meu pai nunca ouviu falar o nome do VandrĂ©, atĂ© eu ter mencionado. Nunca viu o VandrĂ© na vida, nĂŁo sabia da existĂȘncia dele. Ele estĂĄ preso unicamente por causa que o VandrĂ© resolveu culpar alguĂ©m”, afirma Thomas.

O advogado da famĂ­lia Glufke, Jamil Abdo, diz que o cliente estĂĄ Ă  disposição da PolĂ­cia Civil e da Justiça para esclarecer os fatos. Ele solicita a perĂ­cia na casa e no martelo que teria sido usado para matar a vĂ­tima para comprovar que nĂŁo hĂĄ impressĂ”es digitais de Werner. “Ele estĂĄ querendo colaborar, estĂĄ Ă  disposição. O Werner estĂĄ preso injustamente”, afirma.

Sobre o crime
Conforme a investigação, Cíntia teria sido morta com golpes na cabeça em 7 de agosto. Depois, no banheiro da casa onde morava, foi esquartejada com uma serra pequena usada para cortar azulejo.

Imagens de cùmeras de segurança mostram o suspeito no dia 8 de agosto, na rodoviåria da cidade, com a mala em que estariam as partes do corpo.

O homem viajou de Porto Alegre a São Joaquim com uma idosa, com o pretexto de acompanhå-la durante uma visita a familiares dela. A vítima foi identificada pelo Instituto-Geral de Perícias da cidade catarinense de Lages pela anålise das impressÔes digitais.

A cabeça e o tórax foram enrolados em um lençol, enterrados e cimentados no påtio da casa de Vandré, no bairro Mårio Quintana, em Porto Alegre.

Fonte: G1