Em junho, houve queda de 0,58%. ‘PIB do BC’ serve como um indicador do comportamento da atividade econômica e mostra recessão técnica no país
BRASÍLIA – Por causa da crise econômica e política, baixa confiança das empresas e das famílias e, consequentemente, retração de investimentos e consumo, a economia brasileira encolheu nada menos que 1,89% no segundo trimestre do ano pelos cálculos do Banco Central. É o pior desempenho desde o início de 2009, quando houve o recrudescimento da crise financeira mundial. Segundo o BC, esse foi o terceiro trimestre seguido de retração — apenas dois períodos já caracterizam o que os economistas chamam de recessão técnica.
O índice de crescimento do país calculado pela autoridade monetária, o IBC-Br, acumula no primeiro semestre recuo de 2,58% e, em 12 meses, de 1,64%. O resultado oficial do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre e acumulado no primeiro semestre será divulgado no próximo dia 28 pelo IBGE
O IBC-Br foi levemente pior que a expectativa dos analistas do mercado financeiro, que já era de um forte resultado negativo: queda de 1,8%. Em junho, houve queda de 0,58%, também levemente pior do que a previsão dos economistas, que era de retração de 0,55%. Os dados, divulgados nesta quarta-feira, refletem uma sequência de deterioração do desempenho da indústria, do comércio e do setor de serviços.
Na semana passada, o IBGE divulgou Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), que mostrou as vendas no varejo fecharam o primeiro semestre do ano com queda de 2,2%. Foi o pior resultado semestral desde 2003. Já a produção industrial encolheu nada menos que 6,3% nos seis primeiros anos. Desde a crise de 2009, o setor não tinha um resultado tão ruim.
O único setor que ainda está no azul é o de serviços. Na segunda-feira, o IBGE divulgou que a receita teve um crescimento de 2,3% no semestre. Apesar de mostrar avanço, o dado foi o pior da série histórica e representa menos da metade do que foi registrado no semestre imediatamente anterior, quando ficou em 4,7%. Já o primeiro semestre do ano passado teve uma variação positiva de 8,7%.
Indústria, comércio e serviços são usados para calcular o “PIB do BC”, que serve como um indicador antecedente do comportamento da economia. É o que os economistas chamam de proxy, uma aproximação. Ele é bem mais simples e calculado de forma mais rápida que o dado oficial do IBGE.
DIFERENÇAS NA METODOLOGIA
Tanto o IBC-Br quanto o PIB são indicadores que medem a atividade econômica, mas têm diferenças na metodologia. O IBC-Br foi criado pelo Banco Central para ser uma referência do comportamento da atividade econômica que sirva para orientar a política de controle da inflação pelo Comitê de Política Monetária (Copom), uma vez que o dado oficial do PIB é divulgado pelo IBGE com defasagem em torno de três meses.
O indicador do BC leva em conta trajetória de variáveis consideradas como bons indicadores para o desempenho dos setores da economia (indústria, agropecuária e serviços).
Já o PIB é calculado pelo IBGE a partir da soma dos bens e serviços produzidos na economia. Pelo lado da produção, considera-se a agropecuária, a indústria, os serviços, além dos impostos. Já pelo lado da demanda, são computados dados do consumo das famílias, consumo do governo e investimentos, além de exportações e importações.
RECESSÃO TÉCNICA
O termo recessão técnica está longe de ser um consenso. Nos Estados Unidos adota-se como referência o conceito de ciclos econômicos. Quem estima os ciclos da economia americana é o National Bureau of Economic Research (NBER), órgão de pesquisa privado.
Para o NBER, “a recessão é um significativo declínio na atividade econômica disseminada por toda a economia, durando mais do que poucos meses, normalmente perceptível no PIB, na renda, no emprego, na produção industrial e nas vendas do varejo”, segundo a instituição.
Fonte: O globo