Cultura pode dar sentido a novo projeto de país, defende Juca Ferreira

A Cultura foi tratada como tema central no desenvolvimento do País durante a cerimônia de abertura do XI Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Enecult), realizada na noite dessa terça-feira (11), na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador (BA). O Enecult é o principal evento de estudos em cultura do Brasil e, neste ano, reúne mais de 300 pesquisadores em 12 eixos de trabalho.
Presente à solenidade de abertura, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, defendeu a necessidade de governo e sociedade civil darem novo sentido às mudanças sociais conquistadas e defenderem um novo projeto para o Brasil. “Contra o conservadorismo que emerge com suas derivações de racismo, intolerância, xenofobia, é a Cultura que pode dar sentido a um novo projeto de país para os próximos 20, 30 anos”, destacou.
Juca Ferreira também observou que é tarefa da sociedade colocar a cultura na centralidade das ações do País. Nesse sentindo, destacou, a universidade – representada por estudantes, pesquisadores e docentes – demonstrou engajamento à necessidade de afirmação política da pauta da cultura.
O vice-reitor da UFBA, Paulo Miguez, lembrou que o Enecult ocorre com a universidade em greve e que a “casa” se mantém aberta à população. “É um momento difícil para a universidade, mas temos certeza de que a Cultura é uma das principais formas de enfrentar o desafio de transformar o País. E essa casa não fecha, como aconteceu na ditadura”, afirmou.
O diretor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC) da UFBA, Messias Bandeira, destacou a importância da noite pela reunião de pessoas na plateia e na mesa. “Acho que é um reflexo desenvolvido na UFBA no campo das artes e da cultura. Com retomada da plataforma da Cultura para o País e de debates importantes sobre direitos autorais e Pontos de Cultura, por exemplo, queremos nos envolver mais ainda na centralidade da Cultura nas ações do País”, afirmou.
Messias defendeu a ampliação do programa Mais Cultura nas Universidades, lançado pelo Ministério da Cultura em parceria com o Ministério da Educação. “É uma iniciativa importante, mas não podemos depender de uma política de governo. As universidades precisam criar suas próprias políticas para a cultura”, completou.
A cerimônia de abertura contou dois momentos, a mesa de abertura e a palestra do ministro, após a apresentação do duo de dança formado por Ninfa Cunha e Déo Carvalho – artistas que trabalham a questão da acessibilidade cultural por meio da própria deficiência física de Ninfa, que é cadeirante. Além disso, foram prestadas duas homenagens na noite, uma ao ex-deputado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) Zézéu Ribeiro, que foi um principais militantes da Cultura na Bahia, e a outra ao acadêmico e político uruguaio Gonzalo Carámbula, por seu reconhecimento nas duas áreas.
Também estiveram presentes à solenidade os secretários da Cidadania e da Diversidade Cultural, Ivana Bentes, e de Políticas Culturais do MinC, Guilherme Varella, a presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, Lia Calabre, o secretário de Cultura da Bahia, Jorge Portugal, o presidente da Fundação Gregório de Matos, Fernando Guerreiro, o diretor do IHAC, Messias Bandeira, a coodenadora do Programa de Pós-Graduação da UFBA, Edilene Matos, o coordenador do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Cult), Jorge Roberto Severino, o representante da Faculdade de Comunicação da UFBA, Leonardo Costa, a cantora Margareth Menezes e o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron.
Segundo o coordenador do Cult, Jorge Roberto Severino, entre 2005 e 2014, mais de 1500 trabalhos acadêmicos foram apresentados no Enecult. Pelo encontro, passaram intelectuais como Mia Couto, George Yúdice, José Miguel Winisk e Muniz Sodré, dentre outros. A inovação deste ano foi a criação de novos formatos de interação entre os participantes, que são minicursos, simpósios, relatos de experiência e encontros de redes.
Relação cultura – educação
Durante a sua palestra, o ministro Juca Ferreira reforçou a construção de uma gestão do MinC voltada a atender o cidadão com eficiência e destacou a importância das ações conjuntas com o Ministério da Educação. “De fato, estamos construindo um programa mais ampliado, que envolve universidades, escolas e que colocará a cultura dentro desses espaços, promovendo uma educação de qualidade”, disse ele.
Mas o principal assunto da palestra foi o Centro Histórico de Salvador. A arquiteta Solange Souza Araújo (BA), presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), questionou de que forma o MinC, o Ministério das Cidades e os municípios da região podem fazer atenção a uma política urbana mais ampla, que envolva os movimentos sociais na recuperação do centro histórico.
Em maio, a Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional na Bahia (Iphan-BA) recomendou a demolição de imóveis na Ladeira da Preguiça, provocando uma série de protestos locais e a mobilização de movimentos sociais ligados à moradia e cultura. Eles encaminharam dossiês ao MinC, que, segundo o ministro, estão sendo avaliados cautelosamente.
“As nossas cidades estão realmente destrocadas com essa ausência de política urbana sensível ao humano. Estou acompanhando de perto este caso, que está sendo examinado por nós”, disse. “O que posso dizer por enquanto é que não aprovo nenhum projeto que não seja de conhecimento da população.”
Fonte: Cultura.gov