O PRÊMIO RECONHECEU A ANÁLISE DO PROFESSOR DE PRINCETON SOBRE CONSUMO, POBREZA E BEM-ESTAR
“Eu estava bem sonolento… Mas fiquei encantado.” Foi assim que, em conversa por telefone com jornalistas, o professor Angus Deaton, de 69 anos, disse ter reagido ao descobrir que havia ganhado o Prêmio Nobel de Economia nesta segunda-feira (12/10). Como muitos economistas, ele sabia que receber a honraria era uma possibilidade. Mas isso não mudou o tamanho de sua animação ao ouvir a notícia.
O prêmio reconheceu a análise de Deaton sobre consumo, pobreza e bem-estar. Nascido na Escócia, ele é um cidadão do Reino Unido e dos EUA. Obteve seu doutorado na Universidade de Cambridge e, em 2013, mapeou as origens e resultados da desigualdade em 250 anos de história no livro “The Great Escape”.
Por que o trabalho dele é tão importante? Segundo a Academia Real das Ciências da Suécia, para desenvolver uma política econômica que promova o bem-estar e reduza a pobreza, devemos primeiro entender as escolhas de consumo individuais. “Mais do que ninguém, Angus Deaton tem reforçado esse entendimento. Sua pesquisa tem ajudado a transformar os campos da microeconomia, macroeconomia e economia do desenvolvimento.”
De acordo com Mats Persson, membro do comitê que dá o prêmio na Suécia, o trabalho de Deaton é muito “aplicável”. “Como medir a pobreza? Como fazer as estatísticas de padrão de vida nos países pobres? A pobreza tem aumentado ou diminuído? Quanto? E como devemos direcionar a ajuda externa?”
Basicamente, os estudos dele ajudaram muito a entender melhor os padrões de gastos do consumidor e como as pessoas adaptam o seu consumo aos seus rendimentos. Uma baita contribuição. Se você ficou querendo saber mais, a Bloomberg selecionou algumas curiosidades sobre o professor. Confira:
1. O nome é Deaton. Angus Deaton. Ele estudou na Fettes College, em Edimburgo, na Escócia, assim como Tony Blair. E o personagem de James Bond.
2. Deaton sabe exatamente o salário que faz uma pessoa feliz. Para o professor de Princeton, uma quantia acima de US$ 75 mil por ano não traz significantemente mais felicidade. A descoberta foi feita em um estudo de 2010, em parceria com o economista Daniel Kahneman. “Mais dinheiro não compra necessariamente mais alegria, mas menos dinheiro está associado a dores emocionais.”
3. Avós e crianças podem não querer viver juntos. Idosos que vivem com pessoas menores de 18 anos desfrutam menos de suas vidas e passam mais raiva e estresse, de acordo com um estudo de 2013 que Deaton fez com Arthur A. Stone da Stony Brook University.
4. Deu boa notícia para pessoas altas. Ele comandou um estudo em 2009 que constatou que pessoas altas dizem ser mais felizes e ter mais renda e educação. “Há boas evidências de que as funções cognitiva e física se desenvolvem em conjunto.”
5. Ele tem opiniões firmes sobre mudanças climáticas. Deaton contribuiu para um livro publicado no ano passado chamado “In 100 Years: Leading Economists Predict the Future” (Em 100 anos: grandes economistas preveem o futuro, sem edição no Brasil). “A mudança climática é um novo e enorme perigo. Talvez tenha de haver grande sofrimento e destruição antes que as pessoas se reúnam para promover transformações.”
6. Ele é um guru da saúde. Deaton é um especialista em Índia. E ele diz que os esforços para combater a desnutrição devem saber diferenciar entre quantidade de calorias e boa nutrição. “O verdadeiro foco deve ser na melhoria da saúde, e não apenas em aumentar números de calorias”, disse à Bloomberg em 2012, em uma entrevista sobre a fome no país.
7. O trabalho dele estimula a economia a se preocupar com o mundo real.Deaton se concentra em pesquisas domiciliares. Defende que elas podem fornecer insights sobre questões como a relação entre renda e consumo de calorias, e até mesmo sobre a discriminação de gênero nas famílias.
8. Ele municia pesquisadores. Saber como os consumidores optam por gastar seu dinheiro é importante em economia, e tem implicações na avaliação do impacto de mudanças de políticas, como a reforma tributária. Os primeiros trabalhos de Deaton giraram em torno do tema. Ele desenvolveu na década de 1980 o “Almost Ideal Demand System” (sistema de demanda quase ideal, numa tradução livre), para estimar a dependência da demanda por um bem nos preços de todos os bens e em rendimentos individuais. Esta é agora uma ferramenta padrão para acadêmicos, afirmou o comitê do prêmio.
9. Por pouco, bateu Thomas Piketty. O livro de Deaton sobre desigualdade saiu em 2013 meses antes do “O Capital no século XXI”, do colega francês. Para completar, a obra de Piketty só foi traduzida (e bombou para valer) no ano seguinte. Apesar disso, os livros são bem diferentes.
10. Ele não é o Angus Deayton. Tem um comediante britânico que, por uma letra, não tem o mesmo nome. Só para deixar claro: não é ele.
Fonte: Época Negócios